Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos

Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos
Lino Vitti- Príncipe dos Poetas Piracicabanos

O Príncipe e sua esposa, professora Dorayrthes S. S. Vitti

Casamento

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Bodas de Prata

Bodas de Prata

Lino Vitti e seus pais

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Lino Vitti e seus vários livros

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Bisneta Alice

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BISNETA ALICE

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O Príncipe agradece a visita e os comentários

60 anos de Poesia


quarta-feira, 31 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - As Pontes

AS PONTES
(Cap. XXI)
Lino Vitti


Quando a estrada caminha e encontra o grande rio
fica logo furiosa e pára em desvario
pois a marcha lhe tolhe e ela estaca um momento.
É preciso que venha a ponte em seu socorro
para levá-la além das águas e do morro
e assim continuar seu longo movimento.
A ponte é salvação. Carrega nos seus ombros
de bruços, gigantesca, a provocar assombros
toneladas de peso estúpido e brutal.
Quantas vezes a ponte, assoberbada, falha
e sucumbe ao fragor dessa estranha batalha
qual Atlas a suster o Globo Universal.
Quando Piracicaba, em vagidos, crescia
e o comércio veloz em saltos progredia
e o rio não chegava a todo esse transporte
foi preciso lhe dar urna ponte moderna
para pôr ordem onde antes havia baderna
que às vezes a disputa acabaria em morte.
Vejam só, vejam só que falta nos fazia
a passagem que a vau tanto comprometia
com cheias colossais do rio, salto a fora.
As minas, o sertão, as povoações nascentes
sorririam de gosto e veriam contentes
surgir um novo tempo, abrir-se nova aurora.
O ouro, a prata, o sertão com todos os diamantes
em doida profusão viriam, delirantes,
povoar de sonhos mil as terras de cá e lá.
A riqueza fluiria em forma de alimentos
e a ponte levaria anseios e portentos
vindas desse Eldorado imenso - Cuiabá.
Passar além da ponte era entrar no mistério,
a ventura, a fortuna, ou talvez cemitério,
a bravia floresta à espera dos incautos.
Em ouvir a mentira, as fábulas, as lendas,
findar ao desabrigo ou sob o horror das tendas,
ao chamado acorrer de insólitos arautos.

Entretanto levava em direções variadas
a bandeira a explorar as regiões ignoradas,
entre a verdade e o sonho era elo promissor.
E quem diria que ela, assim humilde e pobre,
seria a “ponte nova”, a ponte enorme e nobre
que levaria o mundo em busca do Interior?!
Chamam-na “nova” ainda, entanto é tão antiga,
tem raízes na história e o mano meu que o diga
e que o ensine o seu livro ao presente e ao futuro.
Um capítulo inteiro à ponte é consagrado
e o seu grande valor jamais será cantado
por poeta estreante ou poeta maduro.
Prefeito houve porém cuja memória insigne
(é preciso que o fato em versos se consigne)
legou-nos grato rol de pontes por aí.
O que o tempo nos deu labutando a cada ano,
um só prefeito audaz - comendador Luciano,
em série as construiu - ó “meninos, eu vi” ? (G. Dias).
Ponte do Monte Alegre ou do Lar dos Velhinhos,
com que tranquilidade e em lerdos torvelinhos
vejo as águas passar do salto em direção.
A do Morato assiste a pescarias tantas
- as linhas e os anzóis são coisas sacrossantas
do rude pescador que os tem na própria mão.
A velha ponte nova, outrora criticada,
hoje vive a sorrir luxenta e reformada
enfrentando, tranquila, um trânsito feroz.
De cada ponte vai a imagem refletida
monumento que são desta terra querida
se espelhando no rio em corrida veloz.

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A Câmara


A CÂMARA
(Cap. XVII e APÊNDICE II)
Lino Vitti

Mal instalada a vila acorre a autoridade
em busca do valor, da honorabilidade
de quem assumiria as rédeas do poder.
A terra progredia, o povo mais somava,
era preciso, pois, uma atitude brava
de gente varonil que o pudesse exercer.
Sucedem-se os edis nomeados para o cargo,
às vezes entendido um pouco duro e amargo,
outras tantas, porém, como honra grande e grata.
Havia o Vereador de ser sabido e forte,
remar contra a maré, fugir até da morte,
era árdua tal missão, era missão ingrata.
A política tem sobressaltos e glórias,
tem derrotas também e tem suas vitórias,
sacrifício e consolo a política tem.
Desde os primórdios, pois, Piracicaba vê
excelentes edis em quem o povo crê
e que Piracicaba, histórica, contém.
Ilustrando-lhe a vida e a gente destacada,
sob o signo de paz ou luta encarniçada
seus filhos sempre são ilustres, valorosos.
Alcaide ou Vereador eleitos pelo povo
(festa diante da qual eu sempre me comovo)
cumprem o seu dever pontuais e orgulhosos.
Quem se der ao prazer de compulsar a história
- essa visão, a um tempo, eterna e transitória -
há de ler todo o rol dos nomes dos edis.
São heróicos eu vi, eu vi que são briosos,
com eles trabalhei quarenta anos preciosos,
anos em que aprendi sabendo ser feliz.
E a cada ano que vem e a cada ano que passa
- esta vida não é mais que fátua fumaça -
mais os vejo ser bons, e dignos, e leais.
Legiões e mais legiões, são homens ilibados
que aprenderam quiçá de seus antepassados
a governar à luz dos lídimos ideais.

E desde o Povoador - o primeiro prefeito -
fosse nomeado embora ou fosse mesmo eleito
tivemo-los geniais como administrador.
E a memória recorda, a memória conserva
os que foram um dia a cívica reserva
do trabalho e moral, de justiça e de amor.
Quero prestar aqui minha justa homenagem
àqueles que com fé prestaram vassalagem
ao império da lei, à vontade de um povo.
Tiveram por missão obediência à Justiça
travando com valor a mais sincera liça
para nos conduzir a um tempo bom e novo.
Hão de os pósteros ver nesses homens, cativos
de grandes ideais, dos ideais tão vivos
que animam todo aquele a quem poder se deu.
O poder que se assume é emanação sincera
do voto popular, jamais sendo quimera
que, um átimo depois, já desapareceu.
Louvor e gratidão aos edis e prefeitos
que a história registrou como grandes eleitos
mostrando que a razão do voto prevalece.
Louvor e gratidão a esses administradores,
culturas ancestrais, ótimos condutores
que este poema humilde em versos engrandece

terça-feira, 30 de março de 2010

FELIZ PÁSCOA! Bisnetinha Alice

Aos queridos bisavós Lino e Dora com carinho da Alice

A PIRACICABA, MINHA TERRA - Os Caminhos Bandeirantes

(rodovia Luiz de Queiroz)

OS CAMINHOS BANDEIRANTES
(Cap. III e XXII)

Lino Vitti


No início era a picada em meio à mata hirsuta
enfrentando o mistério em constante labuta,
a febre, o tremedal, o espinho e o índio atroz.
Torcia-se o cipoal a enredar lerdos passos
parecendo envolver em seus longos abraços
o sertanejo audaz com seus múltiplos nós.
Depois, o picadão já desfazia a trama,
a foice desmanchava a verdejante rama,
perfurando o sertão ao sul, ao leste, ao norte,
ao oeste, enfrentando a distância sem termo
com saúde total ou tristemente enfermo
fazendo da aventura a conquista da sorte.
E o caminho espichou, foi espiar as minas,
a dourada ilusão, são ricas assassinas
que levaram heróis à morte, em Cuiabá.
E o bandeirante ousado, em febre, todo chagas,
com seus passos ligava as sonâmbulas plagas,
numa luta sem trégua, escandalosa e má.
“E sete anos de fio em fio destramando
o mistério, de passo em passo penetrando
o verde arcano foi o bandeirante audaz.” (Olavo Bilac)
Não sete, mas setenta a luta prosseguira
transformando o sertão numa gloriosa pira
de anseios e ilusões que essa procura traz.
Mas o caminho foi, ao lado da bandeira,
a vitória final da gente brasileira
nô-lo conta essa rede enorme que deixara.
Cada batalha finda e cada estrada pronta
acrescentavam mais uma preciosa conta
no rosário sem rim que o bandeirante ousara.
O picadão de outrora agora é rodovia,
é asfalto a se estender em cada longa via,
é BR a entretecer malha longa e veloz.
É a “Washington” que vai de extremo a outros extremos,
é a “Anhanguera” febril que tanto conhecemos,
utilíssima e bela - a “Luiz de Queiroz”.

São estradas que vão de polvo quais tentáculos
vencendo sem cessar a distância e os obstáculos,
traçadas pelo passo ávido bandeirante.
Caminhos do progresso a transportar riqueza
dando a Piracicaba os visos de realeza
com que sonhou feliz desde o primeiro instante

A PIRACICABA, MINHA TERRA - Os imigrantes

(Monumento aos imigrantes - Santa Olímpia)

OS IMIGRANTES
(Cap. XXX)

Lino Vitti


E a fama da cidade andou terras afora
por isso a cobiçou o olhar vindo de fora,
olhar interesseiro e audaz dos imigrantes
que aportaram de longe em levas peregrinas,
em geral, artesãos, povoando estas colinas,
trazendo cada qual sonhos mirabolantes.
De fala gutural, de nomes complicados,
o historiador nos diz; homens bem preparados,
excelentes também como profissionais.
Inclusive detém a cidade hoje em dia
Bairro dos Alemães em sua geografia,
mantendo a tradição e as línguas ancestrais.
Depois, em cópia nobre, italianos e sírios
fizeram desta terra o seu jardim de lírios,
uma nova Canaã - a Terra Prometida.
E o nobre coração do piracicabano
sc abriu de par em par como sublime arcano
e a cada raça deu a mais grata acolhida
Mais tarde eis que nos vem em onda jubilosa
o povo japonês trazendo-nos, airosa,
sua cultura; e a fé também a nós trazendo.
Exemplo de trabalho, exemplo de vontade
conseguiu trazer à lavoura e à cidade
o mais altivo impulso, o surto mais tremendo.
Quanto Piracicaba aos imigrantes deve!
Contar-lhes o valor meu verso não se atreve
e fazer-lhes justiça é impossível dever.
Registre-se contudo a grandeza dos feitos,
de todo esse labor de seus potentes peitos,
ricos de força e amor, dignos de os merecer.
E que este comentário em prol desses pioneiros
não esqueça jamais de falar dos primeiros
imigrantes de além chamados tiroleses.
Raça das mais viris, raça afeita ao trabalho,
- um punhado de gente a perseguir o atalho
dessa prosperidade encetada mil vezes.

Que riqueza nos trouxe a mão de tais amigos
que se uniram a nós na dor e nos perigos,
são símbolos da fé, êmulos são de heróis!
Não temeram a dor, a dor e o sacrifício,
fizeram do dever o mais nobre exercício,
viram todo o esplendor de muitos arrebóis!
A minha pretensão pesquisadora e histórica
- alma entregue à poesia, alma dada à retórica -
somente lhes quer dar gratidão e carinho.
Gratidão a vocês, verdadeiros epônimos,
do piracicabano amigaços anônimos,
juntamente a sorver dessa amizade o vinho.
Devemos-lhes, eu sei, muito mais do que tudo,
do favor menorzinho ao favor mais graúdo,
nossa dívida é grande, é imorredoura e tal.
Hoje já não se nota alguma diferença,
ao ver velho imigrante, entre nós, já se pensa
que esta Piracicaba é-lhe a terra natal.
Amalgamou-se a gente e somos um só povo,
desde o senhor mais velho ao filhinho mais novo,
tudo é Piracicaba é a raça que prospera,
deslumbrada, a sorrir, ante um futuro imenso
de tal sorte, meu Deus, que às vezes paro e penso
que somos geração de nova e esplêndida era!
Imigrante, obrigado! O sangue dos teus filhos
há de luzir nos mais deslumbrativos brilhos
tão numerosos quais os astros pelos céus.
Imigrante, obrigado! Estamos comungando
da conjunta ventura e sonho venerando,
vencendo nessa luta os mais duros labéus.
Na cidade, no campo, onde quer que seguirdes,
colina patriarcal que acaso vós subirdes,
à frente encontrareis o imigrante ou seu neto.
Digno da vossa mão, do vosso cumprimento,
do mais profundo e nobre e eterno sentimento,
do mais sincero amor, do mais pródigo afeto.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A Industrialização e Comércio

(Monte Alegre - foto de Ivan Moretti)



A INDUSTRIALIZAÇÃO E O COMÉRCIO
(Cap. XXXII e outros)

Lino Vitti


Como era uma nação trabalhadora e ordeira,
era uma sociedade histórica e altaneira
semeou por este chão indústrias a valer.
A Maria-Fumaça apitando e fumando
trazia ao interior o valor formidando
de quanto era preciso ao povo pra crescer.
Subiram chaminés demandando infinitos,
ouviu-se o ronco audaz dos motores aflitos
e o operário ganhou profissão e trabalho.
No fole ou na fornalha a mourejar na lida
era uma luta só, uma luta aguerrida
onde entravam a enxada, a picareta, o malho.
A princípio, pequena, a oficina se via
sementinha feraz da indústria que seria
a potência abismal da Dedini atual.
Seria esse portento altivo e generoso
que o gênio de um prefeito, em momento glorioso,
aos pósteros legou no Distrito Industrial.
Seria a Codistil, seria Monte Alegre,
fábricas de papel, de açúcar; que se integre
tudo num gesto só de grandeza e progresso.
Predestinado chão, cidade que trabalha,
os filhos a reunir na mais santa batalha
nessa glória industrial tudo tão bem expresso.
Vejo o trabalhador encontrar um trabalho
da pobreza espantando o sórdido espantalho
para filhas e esposa indo de encontro ao pão.
Nesta terra feliz de indústrias e oficinas,
de fábricas sem fim, de dezenas de usinas
todo que a procurar terá sustento às mãos.
E vamos mais além: o comércio floresce
pelas ruas centrais o povo sobe e desce,
formigueiro que vai de uma loja a outra loja.
O sírio, o libanês, o turco, o brasileiro,
o ítalo, o japonês, o local, o estrangeiro,
valores de que nunca a terra se despoja.

São bares, armazéns, casa de todo lado,
desponta a nosso olhar grande supermercado,
é alimento que vem o povo sustentar.
Rua Governador, símbolo do comércio,
conquistou tal direito e, atualmente exerce-o
com todo esse esplendor que a todos quer mostrar

domingo, 28 de março de 2010

Saudosos anos escolares

SAUDOSOS ANOS ESCOLARES
Lino Vitti

Ah! se a adolescência voltasse! Ah! se por um estranho milagre os tempos voltassem e nos levassem de novo àqueles dias de surpresas, de encantamento, de fuga, de sonhos, de esperanças, em que nos matricularam pelos primeiros anos no templo de cultura e saudade que é a primeira escola, a escola primaria, quando e onde zelosos e pacientes professores tudo faziam para destravar as inteligências infantis e incutir nelas o ABC, as contas de somar, subtrair, dividir, multiplicar, a maneira de fazer uma boa e louvável leitura, a história do Brasil, a geografia da Pátria, e até a ser músico ou poeta!
Todos, mas todos mesmo aqueles que tiveram esse privilégio recordam com nitidez, com infinita saudade, com esperanças de um retorno impossível, os dias em que, às mãos do pai ou da mãe, adentramos aquelas portas escancaradas, porque livres e acolhedoras, e nos dirigimos à mesa do diretor, de um mestre encarregado ou de um excelente funcionário, para dar o nosso nome, nossa filiação, nossa data de nascimento, e receber as palavras de alegria: “pronto, já estás matriculado. Agora e só aparecer todos os dias, comprar cadernos, lápis, e livros com o passar dos dias, e aprender a ler, escrever, contar, e “sonhar” com o dia de receber o diploma como passaporte para ensinos superiores e novos vencimentos e fortalecimentos da inteligência e para ser um dia algo na vida, com aproveitamento integral do trabalho condigno dos mestres primeiros que ficaram atrás, mas brilham como um farol indicativo de vitórias e saber.
Nunca na vida se esquece dos mestres que nos alfabetizaram e nos deram chances irretorquíveis de vencer na vida, e embora a quase totalidade os traga na memória cercados de luzes como num altar, de onde nos apontaram o caminho certo e vitorioso, há sempre os ingratos que dos mestres não gostam, que dos mestres se esquecem, que os mestres não amaram e quiçá não amem nunca. Eles nos guiaram como pais, nos conduziram como santas mães, nos transformaram de pessoas broncas e incapazes, em “filhos” iluminados e corajosos para sermos vitoriosos nas lutas inarredáveis da vida. Ser grato aos primeiros (e posteriores) mestres é ato divino, é ser um cidadão formado no idealismo e na cultura, na fé e nas realizações. Como é possível existir alguém que se esqueça deles, que os não lembre, que os não respeite, que não os ame, chegando alguns ao cúmulo de os odiarem, como se foram inimigos.
O inverso entretanto ocorre com a maioria daqueles que tiveram um generoso mestre primário, Daquele ou daquela que não tiveram duvidas nem receio de enfrentar o sertão, a solidão, os perigos de uma região rural, silenciosa e solitária, sem transporte e sem o calor da família e dos amigos, como herói (e heroína), para assumir o ensino primário, o ensino das primeiras letras e os primeiros números aos humildes moradores infantis do sertão. Ah! são mestres inesquecíveis, mestres vindos do céu trazendo à mão o facho de luz de Deus, dignos portanto de amor e gratidão, luz essa que procuram com carinho repassar aos seus filhos intelectuais para toda a vida.
Minha esposa Dorayrthes foi professora primária nos “sertões” de Santo Anastácio, no início de sua carreira, e conta sempre o que foram aqueles anos de ensino às inocentes mas queridas crianças da zona rural. O transporte era sobre toras de madeira transportadas por carros de boi, a água, a dos regatos próximos, o alimento o arroz e feijão sem mistura, a iluminação do quarto a fumacenta lamparina de pavio alimentado a querosene ou o luar adentrando pela janela. Mas valeu a pena, diz ela, porque seu trabalho abriu os luzores do saber a inúmeras cabecinhas sequiosas de conhecimentos e sonhadoras de um futuro mais feliz.
Jamais esquecerei os meus mestres primeiros: João Pecorari (diretor) Dona Josefina, dona Mercedes, “seo” Paternack, dona Helena, dona Valdomira, dona Ester, e Seo Euclides Orsi (que sei haver chamado meu nome nos últimos minutos de sua vida!!!). Tenho certeza de que estão no céu e talvez um dia nos encontremos na eternidade feliz, se eu a merecer, como a mereceram eles.

Igrejinha natal


IGREJINHA NATAL
(à minha prima Guiomar, de Santana)
Lino Vitti

Minha igreja natal, branca e risonha,
pequena como todas as capelas
que há nas fazendas e onde a gente sonha
e eleva ao céu as orações mais belas.

E toda tarde, mal o sol se ponha,
incendiando de luz suas janelas,
vibra no espaço a Ave-Maria tristonha,
enquanto o altar vai acendendo as velas.

Linda igrejinha onde na minha infância,
fiz a Primeira Comunhão e onde
aspirei dos incensos a fragrância.

Nas novenas que amor e que piedade!...
Teu vulto no meu íntimo se esconde,
trago-te n´alma envolta de saudade.

sábado, 27 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A cidade

A CIDADE
(Cap. XXVII)
Lino Vitti


Vinte e quatro de abril é um dia de portentos
pois foi, no calendário, aos mil e oitocentos
e mais cinqüenta e seis,
que a vila recebeu - grata felicidade -
na pia batismal o nome de Cidade
- um presente de reis,
embora diga a história: o povo não gostara,
virar cidade é honra específica e rara,
um salto no amanhã.
Diz pois o Manual de História do “seo” Vitti
o povo desprezou até esse “convite”,
essa festa aldeã.
Não importa porém. Piracicaba avança
operosa e feliz cumulando esperança,
reúne os filhos seus.
sob lábaro de amor, de trabalho e vontade
e faz da vilazinha esta enorme cidade
sob os olhos de Deus.
De primeiro era a taipa, a palhoça, o casebre,
em meio ao capinzal os pinchos de uma lebre,
cabanas de sapé.
E ao vir do entardecer, ao longe, da floresta,
vinham ao sertanejo os rumores da festa
do indígena boré.
Fez-se tijolo a taipa, o sapé fez-se telha,
a cabana cabocla à casa se assemelha
e a madeira de lei
firmou o teto forte e o piracicabano
passou a enriquecer todo orgulhoso e ufano
e cimentou a greil
A urbe se apoderou aos poucos do horizonte
e se espraiou além assumindo uma fronte
de cidade a crescer.
As colinas, em susto, ouviram firmes passos
de um povo que conquista e com ele aos abraços
quis então se envolver.

Frondejam os jardins, as ruas se encompridam,
avenidas sem fim que às multidões convidam
a ir e vir, a passear.
A casa pequenina atrás ficou num sonho
com seu frontal em flor, docemente risonho,
portas de par em par.
Está longe porém esse tempo quimérico
a cidade se abriu em leque estratosférico,
as colinas tomou.
O arranha-céu domina a amplidão dos espaços,
dourados pelo sol, eles roubam pedaços
do azul que o céu legou.
As janelas lá em cima espiam o infinito,
relampejam de sol num cenário bonito,
vidraças a luzir,
E casas patriarcais povoam de riqueza
as “Cidades Jardins” que são uma surpresa
com ares de faquir.
Nas encostas também avança o casario
em louca profusão, em nobre desvario,
cada qual quer um lar.
E às vezes, (que tristeza!) aponta uma favela
tão rústica e infeliz, mas socialmente bela,
ferindo-nos o olhar.
Das torres que foi feito, indago como poeta?
Onde estão, vos pergunta o meu olhar esteta,
tombaram-nas talvez?!
Perderam-se, eu sei, em meio a tanto prédio,
trazendo-me o torpor de amargurado tédio
e uma estranha mudez.

A PIRACICABA, MINHA TERRA - Política

POLÍTICA
(Cap. XXII – XVII – XIX)
Lino Vitti


Marco primeiro foi, bandeira que se erguia
para mostrar ao mundo o sermos freguesia,
termos independência e clara autoridade
- pelourinho na praça, um sinal de consciência,
um símbolo civil a pedir obediência
aos governos e às leis com total liberdade!
Esguio monumento ereto em plena praça,
político obelisco emoldurado em graça,
lança social em riste a defender o chão!
Já na aurora do tempo e do novo caminho
a política vem junto do pelourinho
e com Piracicaba anda a par desde então!
Vem o Conselho, vem a Câmara, começa
da política uma era altivamente expressa
nos homens de cultura e no valor da gente!
O alcaide também vem trazendo autoridade,
a freguesia, a vila, aí, viram cidade
caminhando, depois, sem cessar para a frente!
Legiões, legiões de homens inteligentes
querem com todo o empenho, alegres, sorridentes
por este povo bom lutar e trabalhar.
São alcaides, edis, prefeitos, vereadores,
são nobres e imortais e soberbos valores
que nos deram lições da arte de governar.
A política é boa, a política é grande,
ela escolhe o melhor para que o melhor mande;
com coragem e fé, conduzindo o destino,
o destino de um povo, um povo corajoso,
sempre pronto a lutar, a lutar orgulhoso,
desde o moço ao varão, desde o infante ao menino!
Piracicaba tem, graças à sua sina
uma plêiade audaz de homens, que determina
da política nobre o caminho imortal!
Os homens do passado aos homens do futuro
mostram como servir o idealismo mais puro
e as mais belas lições da política ideal.

Seja alcaide, ou prefeito, ou mesmo executivo
mostraram todos sempre o interesse mais vivo
de governar melhor o nosso Município!
Tal trabalho já vem de longe, dos maiores,
quisemos sempre ter os governos melhores,
com eles governar, mesmo com sacrifício.
E desde o povoador até José Machado
bem governar o povo é sonho acalentado,
o progresso nos vem com labor e doação.
Demos graças a Deus que nos deu de presente
criaturas de escol para reger a gente
com rara inteligência e sábio coração!
E foi “Constituição” nosso primeiro nome
como prova cabal que o tempo não consome
de nobreza ideal da política nossa!
E hoje Piracicaba altiva ainda estua,
é um viveiro civil que lida, estuda, atua,
lídima geração que, contínuo, remoça.

sexta-feira, 26 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A Saúde e a Bondade


A SAÚDE E A BONDADE
(Cap.XXVII)
Lino Vitti

Diz-nos também, da história o sublimado germe
desse livro inicial escrito por Guilherme
que os nossos ancestrais são grandes na virtude,
pois plantaram um dia ao longo do caminho
Santa Casa e Hospitais para dar o carinho
da bondade e acolhida aos faltos de saúde.
Pensaram muito bem nossos antepassados
ao partirem em busca e auxílio dos deixados
à sorte da doença e às durezas do mal.
José Pinto de Almeida, assim, vestiu-se de anjo
e com dedicação entreteceu o arranjo
para Piracicaba haver seu hospital.
E o teve, e prosperou e anualmente o temos
- uma herança da fé daquele que em supremos
trabalhos nos legou a “nossa” Santa Casa.
Orgulho do passado, orgulho do presente,
um contínuo labor em favor do doente
o futuro também acolhendo sob a asa.
Cresceu a sociedade e com ela centenas
cresceram hospitais para talhar as penas
da doença e da dor ao aflitivo irmão.
José Pinto de Almeida - ó gênio da saúde;
da eternidade vem, vem do teu ataúde
receber nosso preito e a nossa gratidão.
Vem ver como o ideal da tua alma justa
logo se transformou em realidade augusta,
nesse rosário imenso em casas de saúde.
Foste, nobre senhor, o plantador risonho
desse espetacular e fantástico sonho
de piracicabana e excelsa magnitude.
É a colheita feliz da suave lavoura
da bondade de uma alma altiva e empreendedora,
o legado de quem largamente pensou.
Devem-te as gerações tão grato benefício,
recompensa final de tanto sacrifício
que com doçura e amor tua alma sustentou.

“Misericórdia” é o lema aposto à Santa Casa,
representando ali uma brilhante brasa
- a brasa desse amor que arde dentro de um homem,
que quer ver os irmãos conquistando a saúde,
livres do sofrimento e da vicissitude
da doença dos pulmões, dos males do abdômen.
Registre pois a história o feito aqui cantado,
a figura de quem em herói transformado
é digno de louvor, digno de gratidão.
Se temos hospitais, José Pinto de Almeida
foi o desbravador, foi o pioneiro, o rei da
saúde deste povo e deste seu irmão.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A Escola - A Cultura

A ESCOLA - A CULTURA
(Cap. XXIV - XXVI - XXXVII)
Lino Vitti


Mas voltemos atrás, voltemos ao princípio...
Treze de fevereiro, um belo dia, o início
da escola nesta terra ainda muito jovem.
Corria o ano mil oitocentos e mais,
dizem mais vinte e seis, a história e os anais
que Guilherme compôs e aos pósteros comovem.
Foi a semente, certo, uma escola primária
plantada com amor na terra legendária
que iria florescer em muitas outras mais.
E a palmatória, diz o historiador citado,
brindava com furor o aluno desmiolado
para gáudio do mestre e aprovação dos pais.
Foi porém nessa escola autoritária e forte
que o passado traçou as linhas de seu norte
abrindo a grande senda à escola do futuro.
Bendita sejas tu, assim severa e augusta,
escola do passado autoritária e justa,
feita de pedra e cal como um eterno muro.
Escola que nos deu as mais nobres figuras
porque gloriosa e audaz feita de iluminuras,
um livro sempre aberto às ânsias do saber.
Foi aquela de fato - a pequenina escola -
de cuja doce luz ainda hoje se evola
a cultura sem par, um mundo de prazer.
Foi ali que nasceu a figura do mestre
com ares de cientista e humildade campestre;
um espécie de herói que até nós se agiganta.
Quem, acaso, não teve à frente em sua vida
a personagem sacra, estimada e querida,
do professor envolto em afetuosa manta!?
Foi desse pequenino e tão singelo arbusto
que a ramagem se abriu num farfalhar augusto
e virou nessa imensa e florescida copa
de cultura, de luz, que os pósteros desfrutam.
Os mesmos mestres são os que agora labutam
numa legião feliz, numa gloriosa tropa.

A “Sud”, a “Agronomia”, os ginásios em penca
“Cristóvão”, “Assunção”; a UNIMEP que despenca
alunos à porfia a cada final de ano.
E vemos, dispersado em levas pelo mundo
num anseio comum, histórico e profundo;
diplomando e ensinando - o piracicabano.
Honramos, na cultura, a história em seus primórdios
os nossos corações palpitam monocórdios
e o Brasil nos admira as graças do saber.
Foi aquela escolinha, ingênua e promissora,
que a distância plantou, sublime e sonhadora,
para não mais parar de ensinar e crescer.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A USINA


A USINA
Lino Vitti

A usina! Vejam bem! O canavial se espraia
pelos pontos cardeais - oceano de cor gaia
a distância a invadir, o horizonte a fechar.
Ondulam os talhões e em meio ao movimento
qual navio a vogar aos embalos do vento
a usina se ergue além, parece baloiçar.
Há uma faina sem fim de máquinas e gente,
dia e noite, bufando ininterruptamente
como fera que quer escapar da prisão.
Fumos de chaminés desprendem-se da usina
como fora da fera a furiosa narina
expelindo o furor em doido furacão.
Você acaso viu a mandíbula rude
Com que a usina devora em sua plenitude
Toneladas de cana a moer, a moer?
Esguichos de garapa atropelam-se em bica.
tacho imenso a ferver as canas dulcifica
enquanto o açúcar sai do outro lado a escorrer.
E o bagaço se empilha em montanhas airosas,
São os restos mortais das caninhas cheirosas,
É adubo para a roça, é causa de papel.
Colméia de trabalho a usina é uma riqueza,
É dinheiro, é progresso, é símbolo e realeza,
É favo gigantesco a escorrer sempre em mel.
Operários, patrões, que colméia estuante,
Unidos todos são num trabalho esfalfante
Todos a produzir ouro branco. Que afã!
Deus abençoe a vida, a vida que há no campo
E esse céu todo azul se estenda lindo e escampo
Como um pálio a cobrir os risos da manhã.
Vede que na amplidão das terras rumoreja
o trabalho do corte e a gente sertaneja
não pára no labor vibrando o seu podão.
Quando o estômago bate a hora da comilança
os talheres, na faina, abordam sem tardança
a bóia fumegante, em coro e confusão.
Dá gosto contemplar a multidão faminta,
é um quadro que qualquer pintor, querendo, pinta
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digno de um Rafael, de um Toulouse Lautrec.
Essa gente, meu Deus, não sabe de política,
vive em grande ilusão dos jornais e da crítica
e nem sabe sequer se acaso existe um MEC.
Essa gente porém é soberba riqueza,
é modelo de luta e amor, de fortaleza,
desconhecido herói da terra que a colheu.
O cortador de cana é o maior operário,
Seguindo, no viver, o mais digno fadário,
Piracicaba o fez igual a um filho seu.
Léguas de canaviais estendem-se ondulantes...
Piracicaba orgulha-se, assim, como d’antes
quando, verdes, além, sombreavam cafezais;
é a vontade da raça, a raça desta terra
que todo o seu valor em seu íntimo encerra
e, transfeita, sorri, hoje, nos canaviais.

terça-feira, 23 de março de 2010

POETA


POETA
Lino Vitti
(Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

E quem és tu, senhor Poeta caminhante,
Aos sonhos abraçado a esse infinito imenso?
E o que queres, meu Deus, e o que buscas constante,
Por que vives inquieto, inquieto e sempre tenso?

É por que teu caminho é sempre longo e arfante,
E parece seguir sob os fumos do incenso?
Muitas vezes suponho e tristemente penso
Que és um pobre, e perdido, e tolo delirante!

Não, porém, pois tu és o excelso mensageiro
Que traz do Céu à Terra a divinal Poesia,
E a entregas com amor, a um mundo louco e triste.

Sem você, meu poeta e sem o teu celeiro,
Não teríamos nunca essa santa magia,
E o mundo indagaria: a Poesia existe?

POESIA


POESIA
Lino Vitti
(Príncipe dos Poetas Piracicabanos)


De onde vens, Poesia, e para onde tu vais?
Que caminhos de luz são esses em que trilhas?
Acaso és dona tu de tantas maravilhas,
Acaso amas, também, os míseros mortais?

As virtudes do amor são todas tuas filhas?
Sois todos filhos dela oh! vós que tanto amais?
Onde moras , Poesia, em que céus abissais?
Por que és tão bela assim e por que tanto brilhas?

O mundo te pertence, a vida é tua amiga,
O poeta te encontra, o poeta te adora,
Falas linguagem nova e linguagem antiga.

Muita gente contigo, em sonhos, canta e chora...
Muitos chamam-te Amor...Que o mundo te bendiga,
Neste dia feliz,em que te comemora.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - O rio


O RIO
Lino Vitti

Convocando do norte arroios corredeiros,
chamando para si ribeirões e ribeiros,
numa orgia sem par,
Piracicaba - o rio - adentra as nossas plagas;
cobrindo com amor em meio a suas vagas
os peixes a brilhar.
Vem de longe, sereno, amansando a paisagem,
entre colinas vem refletindo à passagem
roças, campos, painéis, cidades a sorrir.
É um rio social, decerto, o que nos banha,
tem pintado, mandi, curimbatá, piranha,
tem dourado e pacu para o povo servir.
Extensos canaviais, frondosas capoeiras,
Capinzais em tropel descendo as ribanceiras,
Pescadores aos mil...
Rio Piracicaba, outrora fértil, rico,
Hoje exangue, a morrer, contigo triste fico,
Humilhado e servil.
Quantas bocas, meu Deus, rio, dessedentaste,
Quantas terras em flor, meu amigo, regaste,
Quanto céu refletiste e nuvens a passar!
Quantas aves talvez às tuas margens lindas
Afofaram seu ninho em criações infindas,
Levando o teu frescor em cada pobre lar!
Rio Piracicaba a retratar o azul,
Correndo sem cessar em demanda do Sul
Onde o espera o Tietê.
Quem outrora te viu transbordante de vida
Ao contemplar-te, agora, água desmilingüida
De certo não o crê.
E, súbito, na marcha, a corcova de pedra
em cujos socavões a casculada medra,
precípite se atira aos trancos e aos cachões.
Ecoa em derredor a paisagem da terra
não se sabe se é a pedra ou se a água que berra,
guaiando em convulsão, remoinhando em bulcões.

A catadupa é bela, a catadupa encanta,
a espumarada ferve e a pedraria canta,
num coro universal.
As árvores estão com cara de assustadas,
as folhas, a tremer, batem descompassadas
qual fora um vendaval.
Trepida a ponte, acima, ao baque da cascata
e as guardas em roldões às vezes desacata,
desembestando em fúria os firmes pedestais.
É a força da corrente a nos fazer surpresas,
é o choque colossal das águas indefesas,
contra as pedras, quiçá, como eternas rivais.
O arvoredo adjacente estranha a catapulta
do salto que devora as águas e as sepulta
no seio do poção.
Por isso as vê amansar abaixo calmamente
tal e qual como ocorre às vezes com a gente
e com o coração.
E o rio, logo abaixo, ainda meio tonto,
mas um tanto feliz, parece, entrega o ponto
e deita em mansidão qual gigante a dormir.
Recebe-o com carinho a barranca do Porto
mais calmo e mais tranqüilo assim como um rei morto
após deixar atrás as pedras a mugir.
E lá vai, sonhador, murmurando uma prece
até que em curva além ele desaparece
resmungando quiçá.
Deixando para trás sua Piracicaba
que num gesto lhe diz: saudades desta taba,
um dia voltarás.
Mas é um sonho, Senhor, um sonho de poeta,
é força de expressão da pena de um esteta
quando pincela um rio assim forte e leal,
pois ontem era um rio, um rio de verdade,
sua excelsa figura hoje virou saudade,
é sombra a agonizar, pira sem pedestal.
Todos querem saber de sugar-lhe as entranhas
e com enganos vis, com tétricas patranhas
a fonte assassinar, o belo conspurcar.
E o rio vai morrendo, aos poucos vai morrendo,
agonia de dor, doloroso “crescendo”...
Onde estão os heróis para o rio salvar?!

Era a água cristalina, era límpida e isenta,
o lábio do mortal nela se dessedenta
bebendo-lhe o cristal, de bruços, sem temor.
Que delícia, que gosto e que grande prazer!
Tudo porém findou e é ousadia beber
dessa fonte que foi uma fonte de amor.
Quantas vezes regou as paragens agrícolas
onde mora o caboclo em líricas edículas
- força oculta do brio altivo do porvir!
Quantas vezes também beijado de luar
carregaste no seio em ânsias a remar
o barco de um casal em vias de fugir!
Quantas vezes à beira escondida das margens,
depois de atravessar mainéis e largas vargens
encontraste, à barranca, o calmo pescador!
Davas-lhe o lambari, a piava e o lindo bagre,
para ele, rio meu, tu eras o milagre,
a ceia, o mata fome, o prato salvador!
Como te invejo, rio, a rebrilhar em poças,
refletindo o arvoredo, as pastagens, as choças,
as nuvens lá de cima em fantástico andar!
Recolhes, muita vez, em teu seio tranqüilo
o exuberante azul como se fora um Nilo
dado por Deus a nós que aqui temos o lar.
Foi abaixo do salto, onde a dengosa onda
se espreguiça na areia e em curvas se arredonda
que o Povoador chegou e disse: é mesmo aqui...
Apoitou a barcaça e ouviu bem perto o salto,
viu as margens a prumo em direção ao alto...
Chasqueava numa fronde alegre bem-te-vi.
Passos lestos subiu ao pico da colina...
Verdejava à distância a mais bela campina
cercada pelo muro azul da serra além.
Era fértil a terra; e beijando-lhe as fraldas
o rio; multidão de copas-esmeraldas
se alastrava sem fim qual infinito bem.
Foi o rio o caminho a trazê-lo a esta plaga,
a este “porto-feliz” depois de longa saga
enfrentando a torrente e todo o meio hostil.
Capitão-Povoador que no rio encontraste
o destino de um povo a cuja vida ataste
o progresso, a aventura, a coragem viril.

E a cidade espraiou cumprindo a própria sina,
galgando, sem cessar, a encosta da colina
até que, da Colina, a Noiva ela ficou.
O salto lhe emprestou um véu branco e espumante
uma aliança de sol esplendida e brilhante
e a noiva - a gente diz – co’o salto se casou.
Foi à beira do rio, ao lado da cascata,
que esta Piracicaba, em sonhos, já desata
a vontade de ser metrópole também.
É o que o seu Fundador lhe desejou outrora:
Vai, vai, Piracicaba, altiva, vida em fora,
sê modelo de amor, de glórias e de Bem.
Cumpriu-se o seu desejo; a cidade deslancha
cresce, cresce, imitando o rolar da avalancha
de metrópole imensa imitando o porvir.
Que grandeza me tens, minha Piracicaba,
quando te vejo vir dos primórdios da taba
para os arranha-céus que vejo ora subir!
A Vila cresce, a Paulicéia também cresce,
Piracicamirim que jamais esmorece,
Cidade Alta a que o nome a grandeza já diz;
Paulista, Agronomia, Areião e Jupiá...
É sem conta o rosário de bairros que já
deixam Piracicaba orgulhosa e feliz!
Bairros chiques, Jardins, gente granfina,
Bem demonstram o quanto a Noiva da Colina
Investiu no trabalho e os filhos concitou.
Outros, melhor, eu sei, cantaram tua glória,
Cantaram com valor a tua bela história,
Diante deles eu calo e digo nada sou.
Vamos deixar porém a urbe gloriosa e grande
e ir à zona rural que além verde se expande,
exuberante e rica, esplendente e louçã.
A fauna aqui prospera a vida aqui transborda,
o roceiro e o trator, mal a manhã acorda,
metem-se a trabalhar com gáudio e com afã.
De manhãzinha o sol as colinas redoura
e, com o ouro da luz, a cabeleira loura
da cabrocha que vai ao campo a seu dever.
E bandos infantis de uniforme e sacola
em gritos, a correr, demandam sua escola
- aves em revoada em busca do saber.

Farfalham canaviais extensos (que verdume!),
entre as folhas a brisa ensaia almo queixume,
enquanto vai a enxada arrasando o capim.
Às vezes, negro e feio, a perseguir o “tico”,
- esse pai carinhoso e bom que não é rico -
se ouve o agudo esgüelar do malvado chupim.
Se a cana está madura o fogo alto esbraveja
destruindo sem dó o canavial, que arqueja,
semeando cinza e fumo em doida confusão.
As máquinas (que força!) empilham negras canas,
roncando os caminhões sob cargas insanas
levam para uma usina a imensa lotação.

domingo, 21 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA - A Fundação

(foto de Paulo Spadoto)
A FUNDAÇÃO
(Cap. VII)
Formou-se a povoação de homens diversos;
vadios, andarilhos e dispersos
povoam este chão.
Vadios - gente boa desempregada,
andarilhos - pessoas sem morada,
dispersos - sem lar são.
No topo da colina ao sol da manhã clara,
gritando os bem-te-vis com orquestra de arara,
acorre o povo todo a mando do Povoador!
Levanta o pelourinho - armas da autoridade,
traça o marco no chão da matriz da cidade,
tressua a multidão de alegria e calor!
O povaréu em festa entroniza o seu santo,
começa a construção do templo sob o canto
dos pássaros sociais, à luz do amanhecer.
As cigarras em bando agarradas aos troncos
feriam a zunir o ouvido de homens broncos,
saudando-lhes a fé, lembrando-os do dever.
No iluminado altar rezava o padre a missa,
ao redor a floresta as flores desperdiça
- turíbulo a incensar mil perfumes astrais.
Os assistentes têm - rudes e prazenteiros -
o privilégio assim de serem os primeiros
a ver a hóstia subir entre esplendores tais.
Sobem preces a Deus, pedem que Deus lhes olhe
o futuro do povo e que a Virgem desfolhe
as bênçãos maternais num dilúvio de amor.
Que se cumpram também as preces do ministro
e que Piracicaba eternize o registro
do valor que lhe deu o insigne fundador!
Quanto divino amor naquele ato singelo,
quanta felicidade e sonho, quanto anelo,
naquelas mãos em prece erguidas para o céu!
A aragem a soprar qual hálito de encanto
levava para além num célico acalanto
todas as orações daquele povaréu.

E o salto mais além, unindo os seus lamentos
às súplicas do povo e aos anseios dos ventos
era um órgão imenso a planger orações!
As maitacas em bando a alvoroçar o espaço,
macacos e sagüis em longo e caro abraço
estavam a assistir as divinais funções.
Vagíamos então nos cueiros da História,
branquejava a capela, ao sol, com toda a glória,
é o símbolo da Fé.
Desenhou-se uma praça imensa bem de frente,
cenáculo do tempo onde a futura gente
abriria o Café.
Para que a fundação constasse bem exata
o Capitão mandou que se lavrasse em ata
Por Taques, o escrivão.
Com letras perenais lavrou-se o nobre feito
que nos deu o valor e o mais santo direito
de ser uma nação.

sábado, 20 de março de 2010

A PIRACICABA, MINHA TERRA

O PORQUÊ DESTE POEMA
Lino Vitti

Embora não se admita, toda poesia tem uma razão de ser. Provindo do âmago da alma
envolve certamente o aluvião de sentimentos e espiritualidades próprios do espírito humano e é
natural que deseje um dia sair do arcabouço íntimo do poeta e, qual crisálida, bater asas e voar pelo azul da vida afora. Quem se dedica à poesia sabe perfeitamente que temos dentro de nós um
impulso tremendo de comunicação, queremos a toda força que todas as pessoas participem conosco de todas as belezas objetivas e subjetivas da poesia.
Este poema latejou por décadas de anos dentro de mim. Queria oferecer uma poesia aos
meus conterrâneos à posteridade onde a minha terra natal fosse personagem principal do poema.
Relendo o MANUAL DE HISTÓRIA PIRACICABANA, do meu mano e historiador Prof.
Guilherme Vitti, percebi que poderia estar aí a inspiração para saldar minha divida poética com
Piracicaba, a que nenhum ou poucos versos dediquei ao longo de meus três livros editados. Não
diria que fosse ingratidão, para com minha terra, já amplamente cantada em versos por Lagreca,
Newton de Mello, Júlio Soares Dihel e outros. Seria, sim, um gesto de amor de filho para com a
mãe. Mãos à obra, eis redigido e completado o poema, uma história da cidade em versos, evento
raro no cenário da literatura nacional e quiçá universal, se não perfeito, ao menos recheado de
muita dedicação e muita vontade de homenagear Piracicaba.
Eis ai, resumidamente, o porquê deste poema. Sinto-me realizado pela Edição da
municipalidade, através de seu prefeito José Machado e de sua Secretaria de Educação, comandada pela professora Maria Cecília C. Ferreira, de vez que esse gesto oficial como que vem suprir definitivamente a minha ingratidão poética com esta poética terra.
Não digo “Muito Obrigado” porque nada paga o benefício cultural com que Piracicaba foi
agraciada no transcorrer do seu 224º ano de fundação. O nosso - meu e de vocês - muito obrigado é a Deus que devemos dirigi-1o.
Piracicaba, 9 de julho de1990



“IN PRINCIPIO”
Lino Vitti

No princípio era o sonho da floresta
- o sol por entre ramos, - que se enfresta
numa orgia de luz,
doura a paisagem onde a mata impera
e aos pinchos a peixada deblatera
- a cascata a seduz.
No princípio era a tribo do selvagem,
araras e maitacas na folhagem
com metálica voz.
Os macacos brincavam pelos galhos,
a indiada se escondia nos atalhos
em carreira veloz.
Até as margens do rio vinham troncos
ouvir da catadupa os longos roncos
qual longínquo trovão.
Barbas verdes pendiam do arvoredo
e as orquídeas brilhavam no balcedo
em festivo florão.
O rio imperador rolando vinha
em tronos de verdura, mas detinha
o passo corredor,
porque a pedra cavava-se em abismo,
parecia sorrir-se com cinismo
num gesto ameaçador.
Aos corcovos – corcel desembestadoo
rio entre gargantas apanhado tombava com fragor.
a esse tempo era um rio altivo e nobre,
não tinha essa tristeza que hoje o cobre,
roncava o seu valor.
Que fartura nas belas piracemas,
Quantos saltos mortais e estratagemas
do peixe pra subir.
Tão grande era o pular da peixarada
Que se o sol enviesava a luz dourada
Vinha um íris luzir

E ante tanta fortuna por Deus dada
Como aquela empolgante peixarada
O indígena parou.
Botou cidade de ocas de sapé
E na margem do rio fincou o pé,
Sua taba formou.
E o selvagem gritou: Piracicaba!
Rio do peixe que jamais acaba,
Riqueza de valor!
Vem o estrangeiro e monta sua tenda,
Vem o grande senhor e põe fazenda
Ao lado e ao derredor.
E a taba vira aldeia e esta, a vila,
Reina a paz, um sol cálido cintila,
A vida faz feliz.
Vêm bandeiras de gente, vem o frade,
Aventureiros vêm buscar felicidade
Nas minas-chamariz.
Vêm em bando também muitos pioneiros,
criminosos talvez e prisioneiros
em busca deste chão...
O picadão perfura a imensa mata...
Na colina defronte da cascata
Já chega o picadão.
A cobiça das ruínas, o ouro oculto
na sua profundeza inda sepulto,
caminho do sertão.
E lá se vão as levas e mais levas
em pleno dia ou no negror das trevas
atrás do ouro-ilusão.
É jornada de louco que se atira
buscando um brilho atávico-mentira
- miragem que seduz.
Porém o sonho anima-os e sustenta,
a aventura os sacia e os acalenta,
seguem-na qual luz.
Abriu-se urra clareira na floresta,
a manhã era linda e a terra em festa
viu um teto surgir.
E um mais e muitos outros vão surgindo:
a igrejinha, o povoado que sorrindo
acenam ao porvir.

E chega o Capitão, e chega o “seo” vigário.
um traz espada à mão, outro, rosário,
ambos grande sonhar.
Um traz as leis e a ordem; outro, a sotaina;
um a farda que brilha, outro só quer a faina
de aos corações amar.
Feliz Piracicaba cujo início
foi todo autoridade e sacrifício
- Barbosa e Frei Tomé.
Duas vontades férreas que nos deram
virtudes e coragem, nos fizeram
paradigmas de Fé,
A Cruz e a Espada, o Rei da terra, o Cristo
Uniram-se para, hoje, sermos isto
que somos, povo meu.
Povo de amor, de fé, de caridade,
de esperança, com tal intensidade
que não creio haja ateu..
E foi sob este signo que um dia
de sol a vila fez-se freguesia
e cidade também.
Para banir o reino do demônio
foi nomeado padroeiro Santo Antônio
que até hoje ainda tem.
Conta a lenda ser outra a padroeira
- a Virgem dos Prazeres - milagreira,
mas Barbosa não quis.
Porque se chama Antônio - diz a história -
deserdou-A de tão sublime Glória...
e sentiu-se feliz,
só quando sobre o altar da nova igreja,
como santo que ao povo seu proteja,
Antônio colocou...
Que foi feito da Virgem Mãe Senhora?...
Um cortejo de anjinhos dá-lhe o fora,
rio abaixo A levou!
Que sublime disputa, que gloriosa
dedicação Piracicaba goza
com protetores tais!
Grato destino os santos que a protegem,
que os caminhos pretéritos lhe regem
com mantos divinais!

Santo Antônio dos Peixes, Santo Antônio
que expulsou dentre os homens o demônio
Santo Antônio do Mar!
Que ante o divino e eterno Sacramento
fez um dia ajoelhar-se até um jumento
para Deus adorar!
Santo Antônio que gruda o pé cortado
daquele infelizardo e tresloucado
que à mãe não atendeu.
Santo Antônio que ajuda a achar as cousas
que ressuscita e faz saltar as lousas,
revive quem morreu!
Santo Antônio que faz reandar os coxos,
que limpa do leproso os sinais roxos,
as máculas do mal.
Santo Antônio que faz jogar muletas,
presente sempre em nossas horas pretas,
Santo Antônio – fanal!
Santo Antônio a que as aves obedecem,
que tem eflúvios para os que padecem,
és nosso protetor.
Piracicaba ergueu-te um grande templo
que da janela, ao pôr-do-sol contemplo,
a alma toda fervor.
Do humilde altar em que te colocaram
e ante o qual tão contritos se ajoelharam
os nossos ancestrais,
vemos hoje, entre luzes e esplendores,
tua glória crescer e os teus amores
para conosco, mais.
Nós somos filhos teus, somos os êmulos
daqueles velhos bons, doces e trêmulos
te erguendo humilde altar.
Deste-lhes forças e coragem, deste
a eles visão e inspiração celeste,
um sonho a realizar.
Santo Antônio, da Glória e do Milagre
dá que este povo ao teu amor consagre
todo o trabalho e fé!
Que vençamos as lutas e o progresso
de tuas milagrosas mãos egresso
nos conserve de pé.

SAUDADE CREPUSCULAR


SAUDADE CREPUSCULAR
Lino Vitti

Esvai-se a tarde. Leve, do alto espaço,
Cai rumor de cortinas sobre a terra.
E o céu é uma pupila que o cansaço
Da pálpebra noturna aos poucos cerra.

Tristeza opaca, grande, da cor de aço,
Dilui-se lenta, lenta, pela serra.
Fico triste também, nem sei que faço,
Sinto um mistério que a minha alma aterra.

São pungências de sombras indecisas,
São lamentos que vêm na asa da brisa,
São vácuos gigantescos de ansiedades.

Vejo a noite que chega, toda estrelas;
Como Bilac procuro compreendê-las...
Mas isso tudo não serão saudades?. ..

sexta-feira, 19 de março de 2010

CIRCO SAUDOSO


Circo Saudoso
Lino Vitti
(os versos entre aspas são de Casimiro de Abreu)

“ Oh! Que saudades que eu tenho”
do circo da minha infância,
saudade – doce fragrância –
cheirando tempo passado.
circo da infância, da roça,
circo que os sonhos remoça,
onde estás, o circo amado?

Palhaços, santos palhaços,
aos pontapés, aos abraços,
gargalhadas, gargalhadas!
Nariz grande, olhos enormes,
luvas, sapatos disformes,
que imensas atrapalhadas!

Bonecos em cena. Agora
a plebe em silêncio chora,
comovida pela história...
Depois, as feras domadas
aplaudidas cavalhadas,
jamais desmentida glória.

O equilibrista, o adivinho,
o caipira, o anãozinho,
a mulher na corda bamba...
A função a noite vara
e somente a função pára
quando a lua já descamba.

E ficava na alma da gente
como um sonho surpreendente
aquela noite feliz...
Na roça quando aparece
o circo nunca se esquece
vida inteira se bendiz.

Meu circo de outrora,
meu coração chora,
nunca mais te apagarás
das minhas recordações.
Onde estás, circo que amei
e que tantas palmas dei,
prantos, sonhos, emoções?

“ Oh! Que saudades que eu tenho,
da aurora da minha vida,
da minha infância querida”
quando um circo me alegrou.
Obrigado, Casemiro,
a quem tanto amo e admiro
pelos versos que emprestou.


quinta-feira, 18 de março de 2010

TERRA NATAL


TERRA NATAL
Lino Vitti - Santanense com orgulho

Nesse chão, onde guarda a santa natureza
as minhas ancestrais raízes,
vi florir-me da vida os sonhos de beleza,
desfrutei do viver os dias mais felizes.

Deram-me as fontes a água pura posta à mesa
da sede refrescando as fundas cicatrizes
O céu-cúpula azul - de enorme azul turquesa,
se enfeitava de sol e de nuvens atrizes.

Pássaros musicais saudando a manhã nobre,
a escola, as plantações, as estrelas em penca,
as estradas que vão, de um sino o triste dobre...

Uma terra não há como a minha Santana:
tem o terno verdor de um vasinho de avenca
e o gosto tropical de um cacho de banana.

quarta-feira, 17 de março de 2010

INDELÉVEL RETRATO

INDELÉVEL RETRATO
Lino Vitti

Quando menino, sensações de vulto
Não tive, sensações próprias da idade.
Sempre vivi desconhecido e oculto
Longe do vão bulício da cidade.

Fiz da vida campestre um quase culto,
Da natureza, quase divindade.
E trago ainda (que felicidade!)
Um coração silvestre em mim sepulto.

Um dia precisei deixar meu ninho,
Trocar o seu calor e o seu carinho
Por duras contingências do viver.

Mas nem belas visões de outra paragem
Puderam apagar a sua imagem
Gravada tão profunda no meu ser.

VELHO CASARÃO


VELHO CASARÃO
Lino Vitti

Casarão, mausoléu glorificado
A entesourar recordações mediúnicas.
Rotas paredes, testemunhas únicas
Da história milenar do seu passado.

Solitário solar de horror povoado,
De duendes e fantasmas de alvas túnicas.
O chão ressuma ainda ondas budúnicas
E há um cavo estalar de ossos no assoalhado.

No silêncio da noite o casarão
Revive pelos velhos aposentos
Os dramalhões brutais da escravidão.

E quando entre os desvãos do amplo telhado
Ganem soturnamente, os longos ventos
São gemidos de um negro chicoteado.

HIBERNAL

HIBERNAL
Lino Vitti

Tarde pálida. A brisa enregelada
Passou junto da copa da mangueira
Que fremiu, colossal, friorenta fada,
Sua negro e compata cabeleira.

Viajando ao longe, na mudez da estrada,
Ninguém... Um joão-de-barro na porteira
Soltou uma estridente gargalhada
Em coro alegre com a companheira.

Outra aragem soprou. Uma paineira
Desfolhou-se tristonha e amargurada.
E um bando de andorinhas, em ligeira

Revoada, demandava outra morada...
Inverno. Treme a natureza inteira
E minha alma, também, desconsolada.

terça-feira, 16 de março de 2010

Recordação Pungente



RECORDAÇÃO PUNGENTE
Lino Vitti

Não sei se foi a culpa minha ou tua,
Ou, talvez, tenha sido do destino.
Sinto é que assim tão breve se destrua
Todo o nosso romance de menino.

Recordemos: a aldeia, a igreja, o sino,
Dias cheios de sol, noites de lua.
E os brinquedos, a escola com seu hino,
O pomar, as lavouras, a charrua...

Recordemos. . . Oh! não, que o peito estala;
Tanto dói no meu íntimo a saudade
Que é melhor, por favor, não provocá-la.

Tentarei te esquecer nos sonhos meus;
Porém, faze-me a grande caridade
De me trazer teu derradeiro adeus

Mangueira Saudosa

MANGUEIRA SAUDOSA
Lino Vitti

Mangueira do quintal de minha casa,
Daquela casa de sítio, tão bonita!
Quintal não, pois a expansão era infinita
E não intra-muros como esta da cidade,
Onde, eu acho, o passarinho-liberdade
Tem apenas uma asa
E jaz tombado, encarcerado,
Na cadeia geométrica
Dos quintais apertados,
A lembrar visões tétricas
De condenados.

Porém, minha mangueira, não é bem isso
Que atentava escrever.
É que quando me ponho a esse serviço,
Não sei porque, logo eu atiço
A minha fantasia de poeta enfermiço
A doudejar em disparates,
Que a gente, por aí a fora, considera
Qualidades essenciais, profissionais,
Dos pobres vates.

Mangueira, mangueira, talvez secular,
Pois que já existias quando eu nasci
E ainda existes agora, depois que eu cresci,
Mangueira copada, gosto muito de ti.
Lembras-me tantas cousas,

Tantas recordações dos meus tempos de criança,
Quando eu, com os manos e os priminhos,
Espichados de costa à sombra mansa
Da tua copa onde havia passarinhos,

Espiralávamos na ideia castelos longínquos de esperança,
Castelos incertos,
De um futuro risonho;
Que eram apenas sonho; porém, místico sonho
De olhos abertos.
Olhos devaneios que nada fitavam,
Que se perdiam a um tempo na tua fronde,
No céu, nas serras, nas nuvens que passavam,
Altas, informes, cheias de estranho frenesi.
E é por isso, mangueira, é por essas saudades
Que eu gosto tanto de ti.

Depois, como apreciava olhar-te da janela,
Quando o vento, enovelando-se em procela,
Desenbestava pelo vale em rouco ronco
Vergastando o arvoredol
(Confesso-o, eu tinha medo!)
Mas tu, não. Antepunhas-lhe, valente,
A rijeza dos teus galhos e do teu tronco
Onde ele uivava em vão, raivosamente.
Talvez assim quisesses dar-me o exemplo
De não me deixar levar a toa
Pelo tufão imenso
Da maldade.

Porém, opôr-lhe o tronco do bom senso
Firmado nas raízes da bondade
E espalhado nos galhos do bem fazer.
Quando florescias era um escândalo
De tantos insetos e abelhas roubadoras
Que te assaltavam em cardumes.
Os beija-flores tinham ganâncias de vândalo
Na conquista do teu mel e dos perfumes.
E ai deles, coitados, se não fôras
Assim inerte,
Obrigada a condição que assumes
De dar sem recompensa,
Numa excelsa atitude
De alma imensa .

E chegavam os frutos.
Louros, como pingos de sol no verde-escuro
De tua folhagem,
Hipnotizavam, de longe, os pássaros matutos.
E a criançada vinha, vinha o pessoal inteiro

Quando cada cousa tem uma alma triste
Aproveitar-te largamente a camaradagem
Da distribuição gratúita das mangas amarelas,
Tão amarelas como se algum brejeiro
Pouco antes as mergulhasse num tinteiro
De aquarelas.

Era sempre, de tarde, porém, que eu preferia
Contemplar o teu vulto
Desenhado pensativo na melancolia
Do espaço enorme.

Quando cada cousa se debruça e assiste
O fúnebre culto
Do ofício de trevas do dia.
Era então nessa hora de desconfôrto
Do ambiente morto,
O' mangueira,
Que pasmavas a copa cheia de ânsia
Num êxtase de dúvida, indecisa,
Semelhando-se bem a êste meu ser
Que se volatiliza,
Ou, ao menos, tem vontade de se volatilizar
E, assim, ao Infinito, voar, voar. . .

segunda-feira, 15 de março de 2010

Lino Poeta Criança - Felisbino de Almeida Leme

Lino Poeta Criança
Felisbino de Almeida Leme

Lino poeta criança,
Mensagem viva do amor.
Bom sonho de esperança,
No desabrochar da flor.

Expoente da poesia,
E forte na inspiração.
Seu dom é sabedoria,
Alegrando o coração.

Bem humilde ao escrever,
Sempre firme em suas metas.
Orgulhamo - nos ao dizer :
Ó Príncipe dos Poetas

NOITE CAMPESTRE


NOITE CAMPESTRE
Lino Vitti

Noite de estio. Na fazenda. Espicho,
Cansadíssimo, o corpo langue ao longo
Do leito, e, levemente, sem capricho,
Por qualquer devaneio a mente alongo.

lnsônia. Beliscões de carrapicho.
Buzinadas sutís de pernilongo.
Trissam grilos e inquieto camondongo
Rói, aqui, fuça além, rasgando lixo.

O quarto, uma fornalha. Estalam vigas;
Pelo telhado rufla uma asa tonta,
Descem guinchos diabólicos de brigas.

Fora, no pez da noite, andam fantasmas;
Súa estrelas o céu, de ponta a ponta,
Piam corujas nas distâncias pasmas.

O MENDIGO



O MENDIGO
Lino Vitti

O infeliz, destroçado e macilento,
Que escalara, afinal, alta montanha,
Vê palpitar em baixo, no relento,
Com milhões de luzinhas, urbs estranha.

As lâmpadas celestes em tamanha
Profusão vê, também, no céu cinzento,
Retratando a cidade que se acanha,
Parece, ante o estelífero portento.

Estrelas vivas no alto; em baixo estrelas
Face a face, dois céusl (A noite tola.)
De Deus aquelas, estas, o homem fê-las!

E o mísero que em dúvidas se atola
Não sabe a quais olhar. . . Como escolhê-las
Se umas lhe dão alento e, outras, esmola?!

sexta-feira, 12 de março de 2010

POETAS E POETISAS - Que vençam os poemas,que cantem as estrofes, que tilintem as rimas!

POETAS E POETISAS
Lino Vitti

Meu principado – o da poesia - é grande, é generoso, é belo e divino! Há 65 anos, iniciei meus passos poéticos por esse flóreo caminho da arte do verso e da rima, do ritmo e da estrofe ( ou do verso sem rima, sem ritmo (métrica) e sem estrofe como desejam muitos e muitas). Que senda maravilhosa, alegre, colorida e feliz é essa pela qual palmilham os passos aéreos dos poetas e poetisas!
A poesia, a verdadeira poesia, não cansa, não arma barraca em meio da jornada da vida, porque o Belo jamais fenece, o caminho não finda nunca, os sonhos prosseguem porque não se desfazem ao vir da crueza lucífera de um sol de verão, ou enregelam à chegada da frigidez hibernal dos anos tardios.
Não é digno de ser chamado poeta, ou poetisa, aquele ou aquela que abandonam, covardemente, o encanto dessa manifestação inamovível do coração humano. Aquele que cansou de rimar, cansou de versejar, cansou de sonetar. Em questões de poesia não há aposentadoria condigna, não há salário-mínimo aceitável, não há sentar-se à beira de um barranco estradeiro para ver a caravana dos ideais, dos sonhos, dos encantamentos, passarem em demanda daquilo que é eterno, pois eterna é a poesia!
Vejo que Piracicaba é proprietária dessa caravana cultural da poesia, pois imensa é a legião daqueles que se dedicam à arte das musas poéticas. Basta ver quantos e quantos livros por igual número de versejadores, como aves pipilantes, abrem vôo por estes céus literários! Vejo eu, por exemplo, quão numerosos livros enfeitam as prateleiras da minha humilde estante, onde pousaram, vindos de inúmeros lançamentos com que nos brindaram poetas e poetisas, parecendo haverem encontrado por estas plagas culturais, - sabiás sonoros de Gonçalvez Dias – o seu laranjal predileto para desfiar seus cantos poéticos e nobres! Estaria me exprimindo bem, caríssimo trinador de versos e rimas, Ésio Pezatto( um dos mais brilhantes poetas de nosso convívio da arte de versejar ) com os tropos literários aí deixados pela minha velha veia descritiva? Se não, coloque você a cachola artística a funcionar e descubra, formas e figuras mais adequadas a retratar essa plêiade versejante que honra, dignifica, encanta e genializa a nossa terra!
Tão ricos somos de poetas e poetisas (vêem vocês que insisto na aplicação do termo poetisa, porque não admito se denomine uma representante do mundo feminino com um esdrúxulo vocábulo masculino, quando é tão lindo e sonoro o “poetisa”!), tão ricos somos de poetas e poetisas – repito – que nosso diários jornalísticos nos reservam largos espaços de, às vezes, páginas inteiras semanais para a divulgação da poesia piracicabana. Temos até mesmo um mensário, estufado de páginas, do Clube dos Escritores que nos cumula de poesia, doméstica e forasteira, tudo numa demonstração que Piracicaba mantém a tradição encantadora de sustentar a arte intelectual da poesia, tão importante na vida da humanidade que gregos e latinos – povos mais cultos da história – mantinham deuses e deusas protetores e incentivadores dessa sublime manifestação do espírito.
Ouso afirmar que sem ela – a Poesia - este escrevinhador não seria nada na vida, pois tudo quanto de bom e indispensável a uma existência condigna e feliz, floresceu provindo desse envolvimento em que me engajaram a beleza das estrofes, das rimas, mormente do Soneto, cultivados com amor e dedicação, entregues com carinho e prazer à leitura e cultura de milhares de pessoas que sentem no âmago de si mesmas, muitas vezes ocultas, outras tantas manifestas, as maravilhas de ler e entender a vida como uma imensa Poesia.
Poesia – disse eu dias atrás a um nobre jornalista entrevistador – é a coisa mais pura que ainda temos. Ela constitui algo indestrutível pois está arraigada no coração do povo, vai caminhando com ao povo, pois a ele pertencem sonetos, poemas, baladas, acrósticos, os quais os nossos súditos piracicabanos lhe entregam semanalmente, através do Jornal de Piracicaba e Tribuna de Piracicaba, graças a um trabalho especial de amor à arte, não só pelos diretores dos jornais, mas pela formação excelsa intelectual de Ivana M.F. de Negri e Ludovico Silva, responsáveis por essa divulgação que poucas cidades possuem.
Avante, então, meus súditos poéticos! Nada de esmorecer diante das exigências dos anos e das dificuldades do viver. Relegar os sonhos, esquecer os encantos desse fantástico mundo em que vivem os bardos, não é de espíritos empreendedores e lutadores.
Que vençam os poemas, que cantem as estrofes, que tilintem as rimas!

(Lino Vitti é colaborador há dezenas de anos do JP, autor de diversos livros de contos e poesias e agraciado pela APL com o título de “Príncipe dos Poetas Piracicabanos)



Aranhóis

ARANHÓIS
Lino Vitti

Não me seria poeticamente lícito escrever sobre aranha e suas teias, sem primeiro falar dos tempos de infância, quando essa maravilha da natureza enfeitava surpreendentemente os pagos de então. Os olhares curiosos de qualquer menino roceiro (e acredito que também citadino) não podem deixar de ver os aranhóis, ver e contemplar, e observar, e admirar...e até temer, porque a construtora dessa obra de seda - dona aranha – é bicho altamente assustador entre a meninada e mesmo entre adultos.
A artista que se compraz estender, geralmente à noite, a sua teia é a melhor bordadeira de todos os tempos. A melhor, a mais rápida, a mais estética. Nunca se viu na natureza, afora num ninho de beija-flor, tanta arte e tanta graça. Uma aranha é a melhor geômetra do mundo pois o seu trabalho prima pela meticulosidade das medidas e do desenho. Toda arte da fabricação aracnídea transborda ao nascer do sol, quando o astro-rei se compraz em enviezar feixes de luminosidades pelos vãos da folhagem que vão pousar sobre a obra artística tricoteada durante a escuridão da noite ou ao plenilúnio, pelo caprichoso inseto. Aquela luz vinda do horizonte, bate de chapa sobre a filigranada teia, e as gotículas de orvalho sobre os fios tensos, luzem, luzem como se a natureza toda estivesse enfeitada com milhares de estranhos colares rutilantes. E no centro da beleza do dia que acorda, dona aranha, simulada de quem está dormindo, na verdade espreita. Espreita a primeira incauta borboleta, abelha, ou inseto voador que tiverem a ousadia de querer beijar aquela mortal maravilha, levados pelo brilho convidativo do crochê primoroso.
Como há aranhas dos mais variados tamanhos, as suas teias como que obedecem a esse pormenor da vida. Assim elas se apresentam ora distendidas, do tamanho do engodo e da traição, ora nem dilatadas nem pequeninas, segundo a dimensão de suas autoras e donas, ora minúsculas, quase impossíveis de se ver, mas sempre armas pegajosas e colocadas de molde a manter a sua estrutura de caçadoras, pois é esta a precípua finalidade dessa trama geométrica de fios sedosos, quase invisíveis, entretanto funcionais e perfeitos. As aranhas tecedeiras moram é mesmo naquela coisa linda, entretecida de fios luminosos e macios, mas colantes de uma tal maneira que a vítima visitante da dona daquela casa, nunca se sai bem e fica enovelada e morre sob o ferrão traidor, envolta num cobertor feito de brilhos e sedas.
A vida tem muitos aranhóis, Tem muitas tecedeiras de teias chamejantes, atraentes, como aquelas que rebrilham ao sol matinal nas frondes altas ou ervas rasteiras. São engodos, oferecem felicidade, sorriem como pareciam sorrir as teias de aranha da minha infância, enfeitadas por um pingo de traição que mora bem no centro da rede luminosa e balouçante atraindo com intenções mortíferas. O aranhol é a arma cintilante do talvez mais traiçoeiro inseto do universo. Uma aranha, em seu posto, está imóvel, mas enxerga, escuta, anota. E ao primeiro tremular dos fios investe, ataca, evolve, devora.
Dizei-me vós, poetas, poetisas e cronistas. Por que a felicidade, a voar de cá para lá, de repente em seu voejar sem termos, é envolvida pela trama de uma teia, cai, inocente e tola, no visgo traiçoeiro de um aranhol humano ?
Os pecados contra Deus, contra os semelhantes, contra a vida e contra a esperança, podem ser considerados terríveis aranhóis, pois é fácil neles se envolverem os homens, as mulheres, elementos de todas as raças e nações, jovens, infantes, sábios e broncos, crentes e descrentes. Eles são encontrados em qualquer caminho, em qualquer atalho, em qualquer espaço aberto, são brilhantes, atraentes, parecem distribuir felicidade, mas tudo isso é enganador. No centro e invisível se posta a aranha da condenação cuja vigilância constante cega o olhar que a contempla, envolve os passos do iludido ser humano que dela difícil ou nunca conseguirá se libertar, porque a teia é pegajosa, envolvente, traiçoeira.
Quantas vezes os nossos passos nos levam às teias luzentes do pecado! Quantas vezes os nossos olhares incautos são atraídos pela beleza geométrica e artística dessas numerosas teias espalhadas pelos caminhos da existência, em locais onde menos esperamos! Somos míseras moscas, míseros insetos, borboletas tontas, incapazes de fugir daquela espetacular atração que se esconde no encanto da linda arma engendrada pela arte malvada da aranha do mal! E somos apanhados, somos devorados inexoravelmente .
Quando criança, morador na roça, em casa rústica, ficava muitas vezes horas inteiras, ao entardecer, a contemplar donas aranhas (eram muitas) tecerem as suas teias perfeitas, mas enganadoras, num ângulo das portas, por onde transitavam insetos diversos. E então tudo funcionava perfeitamente, os pobres insetos eram envolvidos sumariamente e devorados pela gulodice aracnídea. Mas não imaginava nunca que um dia, decorridas décadas de anos, estaria aqui a escrever crônicas saudosas e nelas colocar como objeto as construtoras de instrumento tão perfeito e tão mortal, como é um aranhol.

quinta-feira, 11 de março de 2010

ASSALTO

ASSALTO
Lino Vitti

No cume de meu Sonho edifiquei,
Todo de ouro a fulgir, imenso e belo,
Elegendo-me o só vassalo e rei -
Deslumbrante e magnifico castelo.

Nele, feliz vivi; feliz sonhei!
Mas, um dia, raivoso me rebelo
E o que com tanto amor edifiquei
Rasgo e derrubo, a golpes de martelo.

E qual teria sido a razão toda
Daquela destruição bárbara e douda
Que o meu castelo assim pôs aos montões?

Puderal Nos seus paços obumbrantes
Já se viam estranhas habitantes -
Era um covil medonho de Ilusões.

Lágrimas Coloridas


LÁGRIMAS COLORIDAS
Lino Vitti

Os olhos humanos adoram ver cores. Sentem-se felizes e sorriem diante de uma tela, de uma paisagem, de tudo quanto seja portador de cores variadas, vivas e formosas. E eles – os maravilhosos olhos, vida da alma e do coração - são também coloridos, uns azuis como o céu, outros castanhos, como o amanhecer, outros ainda negros como a noite. Mas os que eles gostam mesmo é divagar pelas paisagem, ou enfrentar outros olhos, alguns expelindo iras, outros tranquilidade, outros amos e felicidade. Olhos humanos costumam muito é chorar, verter lágrimas incolores, mas cálidas e sentidas.
Não é destas, entretanto, que pretendemos escrever e colocar nestas linhas lacrimoniosas. Elas não são humanas mas imitam-nas, parecem-se com elas, embora não brotem olhos. Nem são muito comuns, mas raras e coloridas.
- Como, seu Vitti – perguntará algum leitor que tem coragem de acompanhar estas minhas tiradas cronísticas – lágrimas coloridas? E são de diversas cores, ora brancas como a neve, ora azuis como o céu, ora roxas como a paixão, ora vermelhas ou amarelas como as chamas de fogo.É fácil encontrá-las. Basta andar pelas ruas da cidade ou invadir com belos propósitos a paisagem campesinas ou as florestas verdejantes, e as vereis cair de imensos olhos da natureza – os ipês.
Sim, sim, meu caríssimo e único leitor, os ipês choram.
Não acreditas? Incrédulo é você e pouco sabido em matéria de ipês, como os exemplares que há poucos dias sorriram com toda a graça de suas generosas floradas, mas hoje, olho para elas e choro com elas, pois as grandes umbelas compactas de flores roxas, hoje estão ficando nuas, porque choraram todas as suas flores que como lágrimas coloridas, foram se espalhando no chão da rua, pisadas pelos furiosos pés humanos. Uma a uma, milhares de lágrimas roxas despencaram como um choro longo e dolorido, tristonho e infeliz, diante da tristeza dos olhos do poeta que as viu chorar, dia e noite, ao sol ou à chuva. Eram lágrimas da cor daquele lápis chamado de maravilha que usamos todos nos bancos escolares. Sim eram lágrimas roxas como os panos que cobrem as estátuas dos santos, nas igrejas, em dias que antecedem a semana santa. Que tristeza. Os ipês choraram por alguns dias que o vento maroto e vagabundo levou para longe, tristonhas e ressequidas. Ah! Lágrimas de ipê roxo, tombadas, secas, silenciosas e tristes!
E você, amigo que acaso me lê, vem me dizer que isso é tolice, que nem ipês, nem árvore nenhuma choram lágrimas coloridas. Invenção literária do teimoso poeta que em tudo, por tudo e por nada vê coisas estranhas, figuras fantásticas! Vejam só:lágrimas coloridas! Ao que se saiba as lágrimas que só brotam dos olhos dos homens, das mulheres e das crianças, ora raras, ora copiosas, são incolores e nada têm a ver se um tolo de ipê achou de espalhar lágrimas roxas, brancas, ou amarelas, vistas e comentadas por outro tolo maior.
Parabéns, sisudo crítico, tem razão. Árvores não choram Mas alerto você que as lágrimas humanas são coloridas como as do ipê. Basta ver profundamente dentro delas: umas são brancas de alegria, outras são rubras de vergonha, outras negras de luto, outras amarelas de desencanto.
Viu só? Você viu na última quinta-feira os meus ipês? Eram um espetáculo só. Hoje segunda-feira fui espiar,depois de uma operação ocular, aquela aleluia de flores. E o que vi? Nada, ou melhor, só galhos nus e lágrimas roxas pelo chão.

PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA

CURRICULUM VITAE
( Síntese de Vida)
NOME – Lino Vitti
IDADE – 08/02/1920
ESTADO CIVIL – Casado, em únicas núpcias, há 56 anos, com a Professora Dorayrthes Silber Schmidt Vitti
FILIAÇÃO – José e Angelina Vitti
NATURALIDADE – Piracicaba, Estado de São Paulo –Brasil
Bairro Santana , Distrito de Vila Rezende
VIDA FAMILIAR
Casamento Civil e Religioso em comunhão de bens, Pai de sete filhos: Ângela Antónia, Dorinha Miriam, Rosa Maria, Fabíola , Lina, Rita de Cássia, Eustáquio.
VIDA PROFISSIONAL
Aposentado como Diretor Administrativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, e como Redator do “Jornal de Piracicaba”. Exerceu atividades no comércio, no Magistério, na lavoura até os l3 anos, na municipalidade local, como bibliotecário, lançador de impostos, protocolista, Secretário Municipal.

VIDA CULTURAL
ESCOLA PRIMÁRIA –
Grupo Escolar “Dr. Samuel de Castro Neves”, Santana, seminarista vocacional ao sacerdócio por seis anos, no Colégio Santa Cruz, da cidade de Rio Claro (SP), onde cursou humanidades, línguas, religião, ciências, matemáticas, música.
CURSOS –
Formou-se Técnico em Contabilidade, lecionou latim, francês, datilografia.

VIDA RELIGIOSA
Católico, Apostólico, Romano, fez curso de religião em seminário dos Padres Estigmatinos, foi organista da Catedral e da Igreja de São Benedito, de Piracicaba, e Congregado Mariano.
VIDA LITERÁRIA
Bafejado por ensinamentos de sábios sacerdotes em colégio de formação religiosa, recebeu extraordinário acervo literário que lhe propiciou enveredar pelo caminho da poesia, da crônica, dos contos, do jornalismo, havendo editado de l959 a 200l sete livros de poesias e contos, com edições em milheiros de volumes, os quais estão aí para satisfazer o gosto daqueles que apreciam a arte literária.
São seus livros : “Abre-te, Sésamo”, l959; “Alma Desnuda”, l988; “A Piracicaba, Minha Terra”, l99l; “Sinfonia Poética”, de parceria com o poeta Frei Timóteo de Porangaba; “Plantando Contos, Colhendo Rimas”, l992; “Sonetos Mais Amados”, l996 e “Antes que as Estrelas brilhem”, 200l. O poeta conta ainda com o prazer de haver composto hinos para diversos municípios, bairros rurais, entidades sociais diversas, continuando a colaborar ainda, após os 83 anos em colunas literárias e com artigos de ordem geral em jornais da terra.
Faz parte da Academia Piracicabana de Letras que lhe outorgou o título honorífico de “PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA’.
Foi-lhe concedida Pelo Município de Piracicaba, através de sua Secretaria da Ação Cultural, a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL, “ Prof. OLÊNIO DE ARRUDA VEIGA’; é detentor do TROFÉU IMPRENSA, concedido pelo Lions Clube de Piracicaba, centro, e da MEDALHA ITALIANA, concedida pelo governo italiano de Benito Mussolini aos alunos de escolas e seminários de origem daquele país que tivessem se destacado em redação de trabalhos literários escritos na língua de Dante.
O Município de Saltinho, para o qual contribuiu com o Hino dessa comunidade municipal , conferiu-lhe o título de “Cidadão Saltinhense”.

DISCURSO

Por ocasião do lançamento do livro de poesias “Antes que as estrelas brilhem “, pelo poeta Lino Vitti foi proferido o seguinte discursos:

Exmo. Sr. Heitor Gauadenci Jr. dd Secretário da Ação Cultural

Exmo. sr. António Osvaldo Storel. dd. Presidente da Câmara de

Vereadores de Piracicaba

Exmo.sr. Moacyr Camponez do Brasil Sobrinho, dd. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico

Exmo,. sr. Henrique Cocenza, dd. Presidente da Academia Piracicabana de Letras

Exmo.. Sr. Ésio Pezzato , anfitrião desta solenidade

Senhoras e Senhores

Pela sétima vez (graças a Deus) em minha vida lítero-poética vejo-me guindado a uma tribuna improvisada (o que é bom porque torna o fato mais popular), para proferir um discurso de agradecimento, ao lado da oferta de um novo livro de versos. É teimosia essa de poetas em desovar sua produção para que mais gente participe de suas tiradas, muitas vezes fora de forma e de ambiente, mas que o poeta não vê porque , ao editar um novo livro está cego pela emoção , como se fosse a vez primeira. Está aí o Ésio Pezzato, responsável por mais esta minha invasão no mundo das letras poéticas, para dizer se não é assim. Para dizer se não sofre também dessa doença feliz de editar livros e mais livros a ponto de perder a conta, já que a esta altura ele não sabe se já está no décimo ou décimo primeiro. E ainda continua batendo dedos de métrica, sabemos lá por quantos anos ainda !

Tenho um ex-colega de seminário, prof. Hildebrando André, aposentado como professor universitário e com o qual mantenho longa e pródiga correspondência, que não se cansa de enaltecer a felicidade de Piracicaba contar com tantos poetas e poetisas. Tem razão ele, pois se apenas dois deles já conseguiram editar l8 livros de poesia, imagine-se as centenas que seriam necessárias para dar um pouco de vazão a essa raridade intelectual que toma conta da minha terra!

Este meu livro vem à lume por obra e arte do prefeito José Machado , seu Secretário da Ação Cultural e de seu zeloso servidor Ésio Pezzato que se entusiasmaram diante da recitação de diversos poemas meus por um grupo de jograis, alunos da UNIMEP, e impressionados decidiram patrocinar a publicação deste livro, pois entenderam que Piracicaba poética merecia conhecer em mais profundidade o seu príncipe da poesia. E aí está, lindo e impecável, entregue às mãos do povo de Piracicaba, que indistintamente de cor, estudos, intelectualização , posses financeiras, categoria de trabalho, com religião ou agnóstico, jovem ou adulto, roceiro ou citadino, aí está, para quiçá, momentos de lazer e sonho. Sonho , sim, porque a poesia é terrivelmente sonhativa , vive no mundo da fantasia, alicerça-se nas bases da emoção e brota do âmago mais profundo do poeta, e para que as filhas de Eva não reclamem, da poetisa também.

Alguém me perguntará? Como é ser poeta? Juro, nunca pensei nisso. Acho que ninguém consegue ser poeta. Já é. Nasce feito, como dizem.

não é verdade Maria Cecilia, Ivana Maria, Ésio Pezzato , Prata Gregolim, Marina Rolim, Valter Vitti, Mario Pires, Saconi, e tutti quanti enfeitam com seus lindos versos as páginas do “ Jornal de Piracicaba, ou da “Tribuna Piracicabana , e assim também esse cacho imenso de livros poéticos que quase semanalmente são dados ao conhecimento e sentimento público de nossa terra ? Tornando-se um privilégio de uma cidade, como disse alhures o supra citado meu colega seminarístico Hildebrando André. ?

Não se suponha que para ser poeta é preciso ter nascido em berço de ouro ou em centros intelectuais de enorme repercussão. Nada disso. Tenho um soneto que define bem esse fato. É assim: “Eu não sou o poeta dos salões / de ondeante, basta e negra cabeleira] não me hás de ver nos olhos alusões / de vigílias, de dor e de canseiras. // Não trago o pensamento em convulsões,/ de candentes imagens, a fogueira. / não sou o gênio que talvez supões/ e não levo acadêmica bandeira.// Distribuo os meus versos em moedas/ que pouco a pouco na tua alma hospedas / - raros , como as esmolas de quem passa. / Mas hei de me sentir feliz um dia/ quando vier alguém render-me graça/ por o fazer ricaço de poesia. // “ . Poetas e poetisas saem do nada , devem trazer o selo ou o bilhete de entrada nesse reino encantado desde o útero materno, embora ouse eu afirmar que a vida é também uma grande mestra , as influências da mentalidade circunvizinha,

o próprio meio ambiente, podem , em circunstâncias outras , plasmar um poeta .

Eu fui plasmado , por exemplo, por entre maravilhas campestres. A roça ou o campo são fantásticos criadores de poesia. Ela anda atapetando por todos os cantos a natureza, as gentes, os animais, os atos e fatos. e a cabeça daqueles com quem ela convive. E o poeta, criador por excelência, se abebera de todas as belezas esparsas pelas colinas, serras, vales e descampados , para transformar tudo em versos e rimas, ou em versos simplesmente, onde pululam , como cabritos silvestres, as figuras literárias, os tropos, as sínteses, as comparações, e todos os anseios que lhe vão no imo da alma. Para satisfação própria e para satisfação dos que convivem com o poeta. E´ por isso que se botardes olhos curiosos sobre meus poemas havereis de tropeçar a todo o momento com um motivo roceiro, pois trago uma alma plasmada pelas belezas rurais de Santana, Santa Olímpia , Fazenda Negri, e especialmente por aquela colina encimada ,no cocuruto, pelo prédio do grupo escolar, onde aprendi a ler e escrever e a poetar.

Peço desculpas por haver-me prolongado um pouco nestas elucubrações poéticas, desobedecendo aos conselhos do amigo Ésio que continua exigindo de mim discursos improvisados, o que seria tão para os ouvintes , que ansiosamente aguardam o momento de bater palmas acabando assim com a verborragia oratória.

Não posso entretanto encerrar esta breve alocução sem deixar consignados meus agradecimentos do fundo do coração ao prefeito José Machado ,ao seu Secretário da Ação Cultural Heitor Gaudenci Junior, ao seu sub-secretário poeta Ésio Pezzato, ao prefaciador Moacyr de Oliveira Camponez do Brasil sobrinho, aos queridos opinadores Maria Cecília Bonachella, Maria Ivana França de Negri, exímias poetisas, prof. Elias Salum e a minha filha Universitária Fabíola Vitti Moro, pela maravilhosa capa, Editores e toda equipe de funcionários , à minha esposa pela sugestão transmitida ao prefeito com relação ao advento desta obra, aos digitadores Nair , minha nora e neto Leonardo, e outros que possa ter esquecido, como é fácil em cachola idosa, - meus agradecimentos repito, pela reunião de esforços e trabalho que tornaram possível o advento de mais um livro de minha lavra.

Obrigado “ em geralmente” como dizem nossos cururueiros, aos que ilustraram com sua arte musical esta solenidade e assim também a todos quantos acharam um tempinho para vir prestigiar-me nesta tarefa de cultura e arte. Levem a certeza de que nada mais desejo do que engrandecer com minha poesia a terra que me viu nascer, a terra que me viu crescer, a terra que me proporcionou oportunidade para chegar a um cargo tão nobre quão dignificante de “Príncipe dos Poetas de Piracicaba”

Meu carinhoso obrigado também aos meios de comunicação, de modo especial “Jornal de Piracicaba”, na pessoa de seu Editor Chefe Joacyr Cury , de “A Tribuna Piracicabana”, na de seu diretor Evaldo Vicente, pela divulgação caprichosa deste evento que afinal nada mais é do que mais uma demonstração da exuberância cultural da Noiva da Colina.

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