Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos

Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos
Lino Vitti- Príncipe dos Poetas Piracicabanos

O Príncipe e sua esposa, professora Dorayrthes S. S. Vitti

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60 anos de Poesia


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Educação Moral e Cultural



DEPOIS DA INFÂNCIA (IX)

Lino Vitti

Como venho escrevendo em sucessivas crônicas, em caráter pessoal e muito íntimo, estou quase a deixar para os leitores e para a imprensa, uma autobiografia, pois outra coisa não tenho feito senão enumerar atos, e pessoas com os quais me vi envolvido na infância e adolescência que considero importantes e decisivas para a formação do adulto e idoso que sou.
Essa mania, aliás, de falar, ou melhor de escrever de si mesmo, é arraigada naqueles que tiveram a felicidade ou não de gastar sua capacidade inteletiva e literária na escrevinhação de coisas para os jornais ou na tentativa de mais prolongá-las pelos tempos afora, editando livros e mais livros, poemas, romances, ensaios, histórias, crônicas, etc. etc., na ingênua e talvez gratificante preocupação em supor que suas tiradas intelecto-literárias ou cronísticas ou poéticas, vão resolver alguma coisa na vida da humanidade ou até mesmo da sociedade em que convivem.
Para exemplificar, lembraria os incontáveis anos em que Cecílio Elias Netto (com dois TT?) exímio inarredável, incurável, profundo antigo e atualissímo homem de imprensa e de livraria, vem martelando a sua incrível pena sobre os erros, as tristezas, as infelicidades, ou, ao contrário, sobre as alegrias, acertos, e felicidades humanas, sobre a inutilidade de se gastar a cabeça pensante e escrevente em pretender consertar o mundo e o Homem, em plasmar uma sociedade mais justa, mais humana, mais cônscia de seu papel na viagem que ela faz em direção ao desconhecido do amanhã,  mormente daqueles que não vislumbram adiante um Deus e uma Eternidade.
Lembraria de jornalistas de um passado mais próximo, ou de alguns ainda vivos, e com seu estilo de ouro e sua pujante intelectualidade e formação humana,  como Losso Netto, Jacob Diehl Netto, Acary Oliveira Mendes, Octaviano Assis, entre os saudosos e, entre os vivos, Noedy Krahembuhl Costa, Sebastião Ferraz, Flávio Piza, Evaldo Vicente, este mesmo escrevinhador, e toda essa plêida de novos que ilustram e glorificam a nossa impressa diária, - com o seu estilo de ouro – repetimos, buscaram aperfeiçoar a sociedade em que viveram ou em que vivem. Acho eu, entretanto, que os frutos colhidos dessa intensa atividade, são pequenos, em comparação com a grandiosidade da luta. Dêem-me as necessárias escusas aqueles que são dignos de figurar na singela lista retromencionada, pois muitas páginas, diria até que muitos volumes, seriam necessários, em lugar de uma rápida crônica, para dizer das legiões de intelectualidades que, como esses expoentas da cultura piracicabana, lhe seguiram os passos na luta por um mundo melhor, uma humanidade mais bela, justa e feliz.
E por que estou eu a desandar por esse labirinto de destaques de nosso mundo jornalístico, escritor e literário? Não é nada, não.
Vêem vocês que me incluo no excepcional grupo, não por “louvor em boca própria, o que seria vitopério”, como diz o anexim popular, mas para informar a todos que minha passagem pelo campo de um seminário religioso, fundiu em mim uma personalidade para toda a vida, ensejando-me aventura de haver adquirido profundos conhecimentos humanísticos, morais, religiosos, em condições de me levar a engrossar as fileiras desse batalhão de gente boa, de gente fina, no universo das letras, da cultura, da fé, de uma cabeça elucidada por não pequeno saber e não menor disposição de ser alguma coisa na vida, de ser alguém sonhador, de integrar com valentia e esperanças essa legião de capacidades em todos os sentidos que Piracicaba guarda na sua história e na sua cidadania.
E, como diria o turco ou árabe aí da crônica da página 2, não seria este dizer desconexo um prelúdio do canto de cisne para quem vai completando nesse janeiro de badaladíssimo 2000 (até para escrevê-lo fica feio) 80 preciosas badaladas no Relógio da Vida?!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TEMPOS DE MISTÉRIOS



DEPOIS DA INFÂNCIA (IV)

                                          Lino Vitti


Fui ao Aurélio – o dicionarista – compulsar  uma vez mais o pleno significado do tempo da vida humana chamado adolescência, palavra que para mim, metido ao uso constante e compacto delas, na crônica, na poesia, nos trabalhos articulísticos para os jornais, tem um quê de suavidade, de misterioso, de incógnito, além de sua sonoridade: a-do-les-cên-cia.
Há porém, entre os significados que a fantasia do cronista presta aos termos usados e ao que realmente contêm, uma diferença enorme da qual se aproveitam os metidos a escritores para desandar por parágrafos longos e abusivos a discorrer sobre a complexidade daquilo que os termos contêm, perdendo-se por  alongadas crônicas ou poemas para dizer simplesmente que é o tempo da vida humana que vai dos 14 aos vinte ou vinte e poucos anos.
Simplesmente digo eu, embora saibam todos não ser tão simples assim. O adolescente é em geral um perdido no tempo, pois passada a fronteira da infância, quando tudo era como que colorido pela irresponsabilidade, pelo brilho dos dias, pela sonoridade da música do universo, da terra e do céu, adentra um terreno enganoso, onde e quando divaga em suposições, busca explicações, teme lhe enxerguem os outros as descobertas que faz de sua personalidade, de seus anseios, de seus motivos de viver. Há momentos cruéis na adolescência que machucam a alma, sacodem de dúvidas o coração, abrem-se em espinharais diante do caminho pelo qual vai ele – o adolescente – como que gingando os passos, feitos imensas interrogações diante das inúmeras encruzilhadas que se abrem ao longo do principal caminho por que envereda.
A adolescência é principalmente um motivo de muitas preocupações paternas e maternais. É que meninos e meninas,  chegados a essa etapa da vida, dificilmente expandem o que lhes vai no íntimo, ou as mudanças exigentes por que lhes passam florescências físico-biológicas, motivado tudo por uma oculta timidez, diríamos, natural, de revelar tão profundas transmutações.
É  nessa fase da existência  humana que se abre campo para o futuro cultural, para o futuro vocacional e para o futuro moral, cívico e social do adolescente. Acertar o caminho nessas diversas encruzilhadas é tarefa importante, embora difícil, não só para os próprios interessados diretos nessa escolha, mas envolvendo pais, mestres, amigos, e todos quantos formam o círculo social dos futuros moços.
Aos 13 anos, finda aquela saudosa infância que em 30 crônicas vim descrevendo e comentando, portanto no limiar da adolescência, vi-me a braços com essa escolha vocacional. Decidiu-se que deveria prosseguir os estudos preliminares de escola da infância em colégio interno de formação sacerdotal. O menino da roça, de alma e físico apegados profundamente à vida livre e alegre do campo, deveria partir para cumprir mal nascentes ideais do futuro, dando adeuses a tudo quanto ficara atrás, esquecer os maravilhosos dias da infância, para viver entre a brancura tristonha das paredes de um internato, onde se deveria moldar tudo no novo “modus vivendi”.
    A adolescência, bem ao contrário da infância, deveria ser vivida no silêncio, na oração, nos estudos, na busca de um sentido mais real do futuro.
     Ao deixar os pagos natais, não direi, que o fiz nadando em alegrias. O  espírito e coração moldados naquele ambiente tão querido e despreocupado, haveriam de reagir, mesmo por momentos que fosse, reação rapidamente transformada em copioso pranto de sentidas lágrimas.
            Era preciso porém partir, deixar, esquecer. Foi assim, que transpus a fronteira da infância, rumo ao reino enigmático da adolescêcia. Dos mistérios da adolescência.

sábado, 25 de agosto de 2012

A PASSAGEM



DEPOIS DA INFÂNCIA (II)
                                       Lino Vitti

No início desta nova série de crônicas que visa substituir as relativas à infância saudosa, falei em fronteira. Fronteira e uma linha divisória, mais imaginária do que real, dividindo os países, os estados, os municípios, até as propriedades particulares. Fala-se muito em fronteiras quando as nações vivem em guerra, brigam por causa da posse de alguns metros quadrados de solo, sendo capazes os homens de manter aceso o            incêndio da guerra por anos e anos seguidos, tudo, porque foram, ilegalmente ou não, pisadas as linhas da fronteira por algum dos donos do lado de cá ou do lado de lá.
A História anda cheia de exemplos em que se degladiaram nações e continentes, em guerras terríveis e prolongadas pelo simples gesto de se haver posto o pé ás vezes inadevertidamente no terreno do vizinho. Quem compulsar os tomos enciclopédicos encontrará conflitos imemoriais, sangrentos, duradouros e insolúveis por causa das fronteiras, que, eu, pobre e desengonçado escrevinhador dos cafundós piracicabanos (cafundós em relação à literatura nacional que nem sabe existem escritores e poetas, talvez bons, mas ignorados porque não tiveram a felicidade de nascer nalguma capital), eu, repito achei de usar para título de uma crônica anterior desta série, que promete ser rápida, bem mais rápida do que a "Saudosa Infância”.
A passagem da fronteira infância-adolescência não é belicosa como são as das nações, ou em ponto menor, de proprietários de terras. Passa-se de uma quadra humana à outra quase imperceptívelmente, diria até mansamente, apesar de muitas vezes a ultrapassagem acumular preocupações, dúvidas,  necessidades de auxílios psicológicos e de ensinamentos biológicos pois se trata de uma estranha fronteira em que estão em jogo o corpo e a alma de um ser humano em vias de atingir uma nova etapa da vida, um novo direcionamento dos passos, quiçá socorros morais e pisiquicos, para que o rumo não se desvie, a transposição da fronteira infância-adolescência se faça com perfeição, com a necessária perfeição de uma continuidade desejada, conhecida e feliz.
Pode dar-se que passsr a fronteira da infância para adentrar no reino da adolescência, não seja cruento, guerreiro, turbilhonante como o são as praticadas pelo homem quando disputa fronteiras físicas e históricas de nações e governos, entretanto, a diversidade da personalidade humana poderá ser um fator desagradável nessa importante passagem da vida, pois nem sempre estão ausentes as lutas morais, as lutas intelectuais, as lutas do amor, as lutas da transformação de um corpo inocente e colorido de alegrias e brincadeiras para um ser repleto de desejos, aspirações, de mudançss físicas e bío-químicas por que passa a idade. Não é difícil então estabelecerem-se divergências psíquicas e corpóreas o que poderia gerar conflitos íntimos, que não se expandem à luz do sol, que temem sair do segredo, estabelecendo-se assim aquela guerrinha surda entre o bem e o mal, entre o permitido ou não permitido entre o real e o fantasioso.
Quem entra na adolescência, em geral o faz sem plena consciência dessa mudança, havendo momentos em que se julga estar naquela, enquanto se age como se nesta – a infância – ainda  estivesse, ou vice-versa, pratica-se a infância quando tudo já mostra que se penetrou definitivamente na etapa seguinte da vida. E sem orientação, e sem ensinamentos, o transpassar da fronteira infanto-juvenil será mais penosa, mais atacada de dúvidas, mais plena de dificuldades,  até poderá ser mais infeliz.
A paisagem que se abre aos olhos do adolescente nem sempre tem a tranqüilidade de um sol majestoso a iluminá-la. Nuvens têmpestuosas toldam também o céu da alolescência, conflituando a alma inexperiente e enredada de dúvidas psíquicas e fisicas que costumam envolver o espírito em fase de transição.
A adolescência, todavia tem suas compensações, suas alegrias, suas esperanças, fatores que deverão servir para o mocinho ou a mocinha como apoio para adentrá-la com galhardia e alegres expectativas.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O FENÔMENO JAIR

Igrejinha de Santana
      
Lino Vitti

             Na crônica  do dia 16, “SANTO DA TERRA NÃO FAZ MILAGRE”, o Jair Vitti esbanjou louvores a este escriba, cinquentenariamente tarimbado em oferecer aos piracicabanos toda a espécie de jornalismo: editoriais, artigos, crônicas, poesias, críticas, etc. Ora, esse esbanjamento louvativo que, aliás, não desminto, recebo-o com todo o orgulho e admiração, como um prêmio, um tijolinho a mais na construção desse envidraçado e, portanto, luminoso, edifício que venho levantando durante muitos anos, escrevendo, escrevendo, escrevendo, para os jornais de terra, algumas vezes transfeito esse escrevinhar em livros, graça com que Deus cumulou este irrequieto roceiro de Santana.

Não poderia porém deixar essas palmas do primo sem resposta, valendo-me da mesma forma, isto é, através desta crônica de gratidão pelas montanhas de consideração com que Jair enfeitou a paisagem da sua.
Jair, como eu,  nasceu no mato. Digo mato, porque Santana àquele tempo era dona de muitos alqueires de mata virgem, onde viviam à vontade e escapulindo dos caçadores (não havia proibição da caça!), bichos de pelo e “bichos” de pena, como jaguatiricas, macacos, bugios, tatus, veados esgalhados,  quatís, gatos-de-mato, cachorros de mato, entre os primeiros, e jacus, papagaios, maritacas, tuins, juritis, chororós, xintãs, tucanos, pombas, rolinhas, sabiás, tico-ticos, tisios, papa-capins, canários, sanhaços, etc. entre os segundos. Hoje tudo foi devastado, para dar lugar à cana-de-açúcar.
Jair formou-se na mesma escola rural que também freqüentei. Viveu sob a mesma Fé, a mesma igreja, os mesmos sacerdotes. Puxou enxada, arou terras, dirigiu carroças, trançou podão no corte dos canaviais, e calejou as mãos na apanha do café, do milho, do algodão, do arroz. Ao lado de todas essas atividades roceiras, germinou entretanto o pendor irresistível da música, cultura soberana que até hoje acompanha o moço, transformado em exímio instrumentista: órgão, violão, cavaquinho, clarineta, pistão, violino e outros. No que porém Jair é craque, é no saxofone, ou simplesmente sax.
Que virtuosismo! Que sabedoria musical! Que dedilhar fantástico! Que trama de notas ele sabe entretecer! Que genialidade ele transmite com seu generoso e querido instrumento de sopro! Não tenho palavras para descrever o como brinca, trança, corre, desliza, cascateia essa capacidade instrumental, viva, real, transformada num homem abençoado pela musa musical! Jair é requisitadíssimo, por inúmeras localidades deste Brasil afora para musicalizar bailes, shows, forrós, danças, festas, acontecimentos sociais, etc. etc.! E por todos os locais por onde saracoteia o seu sax, o aplauso é um só, a admiração é tanta que se cansa até de receber os cumprimentos daqueles que o ouvem e o apresentam. Foi até chamado para fazer parte dá Orquestra Sinfônica de São Paulo, da Televisão Cultura, entretanto, a vida da roça, o sítio, o maravilhoso ambiente que só na roça se encontra, falaram mais alto e assim o Estado e o país perderam um gênio musical.
Não apenas em música Jair é grande. Auto-didata devorou livros de cultura geral, científica, histórica. Levava no bolso, quando ia à roça trabalhar, um pequeno dicionário e enquanto os demais, hora da sesta, dormiam deitados pelo chão, o Jair lia, lia e aprendia sempre, a tal ponto que um dia ousou solicitar-me um lugar na imprensa rara publicar nada mais nada menos do que trabalhos para jornal, crônicas especialmente. Dei-lhe a mão, e aí está o lavrador, o musico, o auto-didata a alegrar os piracicabanos com suas belas crônicas semanais no “A Tribuna”, focalizando pessoas, fatos e atos que vão desde as belezas da roça, às sacanagens da política.
Ficam estas linhas aí, caro primo, como resposta ao generoso soco em cima deste encandecido redator de crônicas e poesias que você me aplicou na sua “SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRES”.
É pouco o que eu disse. Mas que se há de fazer se o espaço (sei-o de muito) em jornal é coisa preciosa e não há muito disponível, para botar tudo o que você merece. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

COMOVENTE LIVRO DE ZÉ ABC


DEPOIS DA ADOLESCÊNCIA (IV)

Lino Vitti

Sem que ninguém esperasse entrou em cena mais um autor piracicabano. Surpreendi-me deveras quando os jornais nos trombetearam com o advento de um novo livro piracicabano. Que será? Que não será, começou-me o cérebro, calejado de tanto ler e escrever, a interrogar? Ora, o José ABC – José António Bueno Camargo – ou simplesmente o Zé ABC, estava chegando de livro na mão, a oferecê-lo à cultura da estirpe noivacolinense e a surpreender a população amiga com algo inesperado tirado de sua cabeça de ouro.
“JORNAL DO TEMPO”! Que vou eu, jamais afeito a criticar (no bom sentido do termo) obras livrescas, dizer do livro do José ABC? Confesso haver errado redondamente quando, experiente de que livros hoje em dia não são lá aquelas coisas que eram em tempos idos, deixei de correr em busca do meu exemplar, remoendo um mau pensamento que me encucava os miolos: mas o que teria o colega de imprensa a dizer sobre ela?  Onde teria ido o moço (força de expressão, caro José), a buscar material para cobrir de conteúdo perto de 120 páginas? E com essas péssimas idéias a minhocar o cansado cérebro “vittilino”, descuidei da busca do meu exemplar. E pensava:
...- Vai sobrar livro toda a vida, como ocorreu comigo tantas vezes!...
Que bom que me enganei redondamente! É isso mesmo, enganei-me, pois quando resolvi botar os olhos sobre aquilo que teria o companheiro a dizer, babau! Cadê livro, cadê “JORNAL DO TEMPO”? Piracicaba em poucos dias liquidou com a edição, pelo que, suponho, deve o autor ir pensando em nova.
Procura daqui, procura dali, nada! Salvou-me de vergonheira da solução tardia, uma colega de poesia – Virgínia Prata Gregolim – que me tirou da enrascada vergonhosa. Menos mal. Arrumou-me um exemplar.
-          Vamos ver o que o Zé ABC tem a dizer, matutei comigo.
E de um trago fui da primeira à última página, tropeçando em cada uma delas em surpreendente fatos, pessoas, histórias, acontecimentos – tudo burilado pela vida em cima do autor, para constituir um trecho largo e maravilhoso da existência da imprensa de Piracicaba e daqueles que, de um jeito ou de outro, se envolveram com ela, festejaram com ela, choraram com ela, nasceram ou morreram com ela. Não esqueceu nem da imprensa oficial do Município, à qual deu anos de direção e vivência, completando-se um ciclo de felicidade em meio dessa coisa atraente, interessante, gostosa, sublime, lutadora, sofredora, vencedora que é a imprensa de uma cidade do interior.
Comoveu-me até escondidas lágrimas a referência feita àquele trecho de minha vida em que participei ( e ainda participo, aos oitenta anos e qualquer coisa) da redação do “Jornal de Piracicaba”, de colaboração no “O Diário de Piracicaba”, inclusive de algum tempo de Imprensa Oficial. Foram dias felizes, no convívio daquelas inteligências jornalísticas: Acari, Losso, Nenê, Tuca, José ABC, Godinho, Ésio, Oracy, Seu Eugênio, Cabeção, Sebastião Ferraz, Noedy, Vitorinha, Boscariol, Alfredo, Sobeck, Paulo Nogueira, Flávio, Antonieta Rosalina, Geraldo Nunes, etc. etc. A lista é imensa, mas a memória é fraca para consignar aqui todos quantos formaram falange ao meu lado e ao lado do José ABC, no “Jornal” e em outros matutinos piracicabanos. O que, decerto, terá deles as desculpas por tamanha falha.
Uma coisa é certa. O autor, com o seu especial livro, levou ao conhecimento da população boa parte daquilo que  acontece “atrás das cortinas” da imprensa  assim também os idealistas que estão por trás desse papelório escrito entreverado de tudo o que ocorre no mundo e pintalgado de opiniões daqueles que despejam nessas páginas suas idéias, seus pontos de vista, seus sentimentos, seus aplausos, suas decepções, ou, através das crônicas e da poesia, seus íntimos sentimentalismos.
José ABC, obrigado pelo seu “JORNAL DO TEMPO”. Pelo que foi ele cavocar no tempo, com a pá luminosa de sua inteligência, minhas lembranças jornalísticas, trazendo-as à tona do solo das saudades para que mais uma vez estas deleitassem com suas belezas, seus personagens, seus fatos, suas alegrias e, por que não, seus dissabores?  

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PLACIDEZ EXISTENCIAL



DEPOIS DA ADOLESCENCIA (II)

  Lino Vitti

“In illo tempore” – naquele tempo – dizem os Evangelhos, ser funcionário público era ter “status” e estar bem de vida. O servidor do povo trazia uma longa tradição de respeito e de consideração populares, afora um tratamento condigno de parte das autoridades a quem servia. Ganhava-se o suficiente, diria até com sobras, para construir família e viver, não como um nababo, mas como um cidadão de boa estirpe e talhado verdadeiramente para servir ao povo, de quem o funcionário público é “empregado” e para isso ganha salários pagos pelo povo, através dos impostos recolhidos aos cofres públicos.
Hoje, nem sempre é assim. Governos federais, estaduais e municipais, estão tentando misturar a água com óleo, isto é, fazer de trabalhadores – celetistas e funcionários estaduais – uma minestra confusa, um misturar de alhos com bugalhos que dá dó. Esquecem-se de que o servidor do povo tem a este como patrão permanente e aos governantes como patrão passageiro. Mas é exatamente este patrão que engendra meios e formas de acabar com a categoria, tentando mostrar ao outro patrão – o povo – que o funcionário é um parasita, sanguessuga, inimigo da sociedade e responsável pelo desmanche dos orçamentos da União, dos Estados ou dos Municípios, criando-se assim um distanciamento infeliz entre povo e servidor do povo, quando deveria dar-se o contrário, ou seja, uma aproximação cada vez maior entre as duas históricas entidades sociais: povo e funcionário.
De 1945 a 1980, aproximadamente, exerci cargos na Prefeitura Municipal onde fui bibliotecário, auxiliar de lançadoria de tributos, chefe de protocolo e protocolista, secretário do Prefeito Bento Dias Gonzaga Franco, quase prefeito por diversas semanas (num período de transições das instituições político-administrativas do país) e, finalmente, Diretor da Secretaria da Câmara Municipal, aposentando-me nesse cargo, inatividade de que desfruto com orgulho e convicção de haver sido um servidor capaz, responsável, moral e civicamente exato.
Quanta satisfação, entremeada de saudade, traz-me o exercício dos cargos públicos que ocupei! Quanto aprendi durante os quase 40 anos de atividade junto a prefeitos, vereadores, presidentes da Câmara, companheiros como Nenê, Umbelina, Hélio Krahembuhl, António Lima, Frederico Orsi, Baena, Dr. Fausto Fonseca Filho, Osvaldinho, Diehl, Bocanegra, Matiazzo, Florivaldo, Soares, Botelho, pelos lados da Prefeitura! Rubens, Gulherme, Inês, Zezinho, Zeca Herling, Rolim, Djanira, Hortênsia, Margarida, Tonhão, Noêmia, e uma legião interminável de Vereadores, pelo lado da Câmara, todos movidos pelo servir a Piracicaba, todos batalhando para que os serviços públicos da cidade e do município, cumprissem a sua nobilíssima missão de bem servir ao povo!
Não posso esquecer, neste singelo relato, confiado à velha e já periclitante memória, os jornalistas que iam até o Plenário assistir às sessões, e transformá-las em noticiário de seus democráticos jornais! Severiano A. Ferraz Filho (Nenê), Sebastião Ferraz, Cecílio Elias, Osvaldo Sobec... Meu Deus, que é feito de tudo e do todos?! A voragem do tempo é inexorável! Passa e só ficam as recordações, os fantasmas e a saudade, perambulando na penumbra do antes e do nunca mais!
Se alguém que fez parte do meu passado de funcionário municipal não figurar na lista acima, peço desculpas. A cabeça octogenária não é aquela cabeça jovem que redigia imensas Atas das sessões camarárias, mantendo lá dentro o resumo dos discursos proferidos por oradores eméritos, como Érico da Rocha Nobre, Aldrovado Fleury, Samuel Neves, Acari O. Mendes, João B. Vizioli, Domingos Aldrovani, António e Mario Stolf, etc. etc.
Navegava então por um lago de placidez existencial.
  

sábado, 18 de agosto de 2012

CRÔNICAS



DEPOIS DA ADOLESCÊNCIA (III)
  Lino Vitti

Estabilizadas as andanças do destino à cata de um oásis onde repousar das preocupações da vida, depois da busca do meu lugar ao sol, passei a sonhar em termos de jornalismo, dentro da qual esperava dar vazão aos pruridos escrevinhantes cultivados dentro de mim como coisa inata e apenas dependentes para vir a lume, desse formidável meio de comunicação humana como são os jornais diários.
À época floresciam o “Jornal de Piracicaba” e “O Diário de Piracicaba”, um e outro trazendo em seu âmago as explosões articulísticas, editorialísticas, poéticas, cronísticas, literárias, de pináculos redatoriais da nata intelectual da terra, o que despertava em mim doses compactas de santa inveja. Inveja santa que me levou a procurar um cantinho, uma brechinha, para poder integrar tão magnífica legião de tão ilustres penas jornalísticas.
Abriu-me a brecha desejada o saudoso amigo Acari de Oliveira Mendes, encaminhando-me ao Diretor Losso Neto que, não só aprovou a idéia do Secretário do Jornal , mas festejou o acontecimento com alegria e feliz por poder escancarar-me as portas do Jornal, para lá dentro escrever em prosa e verso tudo quanto à cuca me viesse. E aí, no horário noturno que às vezes alcançava meia-noite prá mais, redigi, poetei, croniquei, invadindo não raro o campo dos artigos e editoriais, aliás reservado para Losso a Acari, e para muitos cobras que manejavam com maestria a lança da imprensa.
E lá se foram 25 ou 30 anos, martelando as velhas máquinas da redação (algumas tipo martelinho mesmo: lembra, Zé ABC?) escrevendo de tudo. Ficou-me na lembrança mais profundamente foi mesmo a crônica “O Prato do Dia”, criada e mantida pelo Tuca e por mim continuada, depois dele, por cerca de seis a oito anos.
Crônica é um pedacinho do jornal onde algum afoito redator escreve sobre tudo, sobre a gente e os fatos da cidade, sobre coisas da roça, sobre as mutações das horas da natureza, sobre os sonhos que superlotam as cabeças humanas, sobre as realidades e irrealidades da vida, sobre intimidades, preocupações, opiniões, críticas e louvores que sempre andam a povoar a imaginação dos cronistas.
Crônica é o que estou escrevendo (assunto que nada tem a ver com inflação, governo, poderes públicos, etc.) de maneira irresponsávelmente poética, pois tem a crônica, como especial finalidade, agradar aos cérebros leitores, sem forçar, sem exigir, sem falar mal do que e de quem quer que seja. Crônica é o que escreve aí na segunda página o Cecílio, como eu tentando colocar para fora, de uma forma sublimada, idéias estranhas e discordantes, pensamentos gostosos, com sabor de uva, para que o leitor, se for bom mesmo, vá tirando da sua leitura o delicioso vinho dos tropos literários, das metáforas, das antíteses, dos contrastes, das comparações, das sínteses, dos pleonasmos, da invocação, etc., chegando ao final da tirada cronística de cabeça aliviada, alegria e aprovação por haver o cronista conseguido arrebatá-lo, por um pouquinho, do chão da vida, para o céu do sonho e da fantasia.
Vocês repararam como os cronistas escrevem muito de si? Por que será? Que coisas têm eles tanto no seu íntimo forçando uma saída, através dessa maneira de arte, para  ir provocar sentimentos, de aprovação às vezes, de discordância, outras, num ou em muitos leitores em geral desconhecidos, de cultura desconhecida, de idade desconhecida? Quem lhes deu esse direito de mexer com a alma dos outros, provocar reações diferentes, gostar ou não gostar, aprovar ou rejeitar o que as linhas da crônica vão desfilando aos milhares de olhos leitores, para que saibam, por exemplo, que Lino Vitti é um eterno roceiro, que Cecílio é um perpétuo ponto de interrogação?
Isto são as crônicas, isto são os cronistas.
Obrigado, leitor, por tudo quanto supuseres ou lá no teu íntimo engendrares, sobre crônicas e sobre cronistas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MOCIDADE



DEPOIS DA ADOLESCÊNCIA (I)
 Lino Vitti

É provável que poucos, ou ninguém mesmo, se interesse por esta resumida e nada aventurosa autobiografia, exposta ao longo destas crônicas que, se coligidas devidamente, acredita-se, dariam um belo volume. Por isso para que não enfastiem, vou partir imediatamente para o tempo da mocidade, juventude, ou coisa assim, que valha ser digna dessa quadra da vida, considerada muito importante por muitos, talvez a mais importante de todas.
É a suposição universal de que a juventude é tempo de escolha de rumo, de serem tomadas atitudes definitivas, de se casar e conseguir um posto de ganhar dinheiro que viria afinal dar estabilidade e meios ao homem para a formação de uma família, família esta objeto primordial para quem quisesse afirmar-se como gente, como cidadão, como membro de uma sociedade constituída.
Outros há, certamente, com convicções diversas e contrárias. Vêem a mocidade como uma etapa da vida a ser aproveitada para o regalo dos instintos, para a consecução dos prazeres, para um caminhar por desvõas escusos, para um fugir de responsabilidades e um  momento perigoso da via do trabalho, dos estudos, da obediência, do verdadeiro amor.
Encontra-se assim o moço frente a frente com as  encruzilhadas acima descritas, uma escolha inarredável, a menos que, contrariando os desígnios da  vida, venha a optar por atalhos, desprezando um ou outro dos caminhos apontados. E seguir por tais atalhos será um desviar de passos para uma chegada final desconhecida e muito obscura, como soem sempre se apresentar os desvios da verdadeira estrada.
Para um jovem estruturado em sua personalidade, ora na amplidão livre e generosa do campo, ora engaiolado por severas paredes de um internato, outro não poderia ser o caminho escolhido senão o caminho estreito de que nos fala o Evangelho, ou seja, da moralidade, do trabalho, da fuga aos acenos de um mundo diversificado em suas formas de conduta, distribuindo convites para uma vida de vagabundagens e farras, fuga aos preceitos e convicções adquiridas na simplicidade da roça, no aconchego de um lar temente a Deus e a seus mandamentos. A larga estrada das aventuras jovens, dificilmente percorrida por quem não nasceu em berço de ouro, não foi certamente a escolhida por quem tivera uma formação cristã e religiosa de origens profundamente embutidas ao longo das tradições familiares e seminarísticas. Assim, o ingresso no serviço público municipal foi uma luz a indicar-me uma realidade de vida, havendo chegado exatamente num momento em que costuma a vida abrir ao jovem um leque imenso de dúvidas, de chamariscos não ou desprezíveis, de aventuras pouco iluminadas. Tanto assim que ao assumir os deveres de um cargo público municipal, substituido ao longe dos anos por outros de maiores responsabilidades e à sombra de uma estabilidade promissora, congitei em dar o grande passo que todo o jovem bem formado tenciona dar: o casamento.
Nomeado para o cargo de Secretário efetivo da Edilidade piracicabana, por generoso e competente ato do Dr. Aldrovando Fleury Pires Corrêa, digníssimo Presidente da instituição, tratei de acalmar os fogosos instintos, durante longos anos reprimidos pelas exigências da vida, casando-me com a Professora Dorayrthes S. Schmidt, da qual herdei sete filhos, hoje todos formados em Faculdade ou Universidade, dos quais herdei muitos netos, um deles inclusive, o inteligente Leonardo ou simplesmente Léo ajuda o avô a digitar estas intermináveis crônicas pessoais (o velhote aqui não se adaptou à modernidade dos computadores), as quais vêm a lume por arte jornalística da prendada jovem Luciane e à paciência diretora de estimado Evaldo Vicente.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A LEI E A NATUREZA



ALGUMA CRÔNICA (XXX)

 Lino Vitti (sem escola literária)

            Tempos houve em que a natureza e o homem que nela vive, eram livres, vale dizer, não havia lei que lhe cerceasse  a ação, o desenvolvimento, o caminhar da vida no cumprir de seu destino. A natureza escolhia a dedo onde erguer a floresta, a charneca, o lago, o deserto. O homem se envolvia nela, numa simbiose de vivência e sobrevivência, recebendo da colega natureza a ordem para fazer as plantações, retalhando a mata virgem o suficiente para um e outro – homem e natureza – viverem contiguamente. Serviam-se mutuamente, felizes e saudáveis.
            O homem entretanto – o mais forte no caso – dotado de inteligência e vontade, ao contrário da natureza que não tem cérebro e querer, resolveu um dia acabar com o acordo firmado séculos afora, entre sua capacidade optativa e a obtusidade da inércia vegetal. Iniciou a devastação inexorável da natureza, numa ganância desenfreada de atender a seus apetites ancestrais de comer e enriquecer, não o quanto necessitasse, mas passando além, superlotando a sua burra gastronômica e o seu baú econômico.
            Muniu-se o homem da guilhotina do machado, hoje moto-serra e passou a devastar a natureza naquilo que ela tem de mais caro – a floresta. Troncos e frondes curvaram-se gemendo convulsivamente, e tombaram à sepultura do solo. As labaredas, comparsas dessa destruição, seguiram-se depois, lambendo, sôfregas, a galharia, os troncos, as folhas mortas, daquilo que fora, pouco atrás, uma floresta virgem.
            O espetáculo da mataria frondejante e, depois, da tragédia carburante de sua destruição, ficou-me gravado na retina dos olhos, por muitos anos, até que por um evento impossível de repetição, puderam os olhos, cansados da vida, verificar que, paulatinamente, nas imediações das terras natais, fora se formando uma nova mataria, sob a imponência de um glorioso eucaliptal. Vi eu que as árvores da mata e dos eucaliptos conviviam gostosamente, até que um dia o homem foi colher o que plantou, isto é, a madeira. E neste afazer, vi que as moto-serras devastadoras iam pondo abaixo os gigantes vegetais a que tinham e têm direito, ao mesmo tempo em que a mata em formação rolava abaixo, ferida profundamente pelos  robles de madeira de lei tombando arquejantes.
            - Mas pode? Perguntava-me um companheiro, que faz 60 anos pra mais, assistiu comigo aquele surgimento feliz de nova floresta.
- Pode, - respondi-lhe melancólico, - pode, porque a lei autoriza, a lei permite.
- A lei, entretanto, não ressuscitará jamais os espécimes destruídos, mesmo com a sua autoridade e permissão. Serão necessários séculos adiante para que os xororós, os coatís, as juritis, os sabiás, as saracuras, possam viver e passear sob o céu verde da nova floresta.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

BODAS DE PRATA DO JOÃO




ALGUMA CRÔNICA (LIV)
 Lino Vitti
Que João é esse que o cronista pretende focalizar nesta crônica de hoje? Que importância tem na vida piracicabana esse João, dono de um nome tão comum é verdade, mas que tem como donos também o Apóstolo amado de Cristo e o famoso João Precursor e que por amor de Cristo não titubeou em ter a cabeça decepada pelo Rei e Pai de uma sinuosa bailarina que pretendia levar o profeta João ao pecado da luxuria e da negação da fé, o  anunciador de Jesus ?!
João é ainda o nome do Santo Fogueteiro do Brasil, fazendo parte da tríade homenageada a cada 24 de junho, como sabemos todos com fogueiras e rojões denunciadores da fogueira do amor a Deus e do rumo estrondeante dos pré e pós anunciadores do Filho do Homem. João é ainda o prenome do Papa reinante. De tal sorte que o João por mim lembrado aqui tem a precedê-lo um rol de Joãos muito bons, santos, mártires e papas! Pra quê outra melhor companhia?
O João desta crônica é meu grande amigo, tenho a felicidade de haver-se ele tornado meu "primo", casado com a prima legítima Brígida Stênico, que é f ilha de minha tia Carolina Vitti, irmã de meu pai. O João desta crônica além de amigo e parente chegado é meu  protetor literário, pois (ele não gosta que eu publique estas coisas, mas que vou fazer se chegou uma oportunidade?),pois teve a grandeza literária de se responsabilizar pela financiamento de livros meus, contribuindo para a sua publicação.
O João desta crônica é um dos pioneiros da indústria metalúrgica de Piracicaba e Região sendo ainda eminente industrial que teve a coragem e o patriotismo de mudar o seu complexo metalúrgico de um centro citadino e transportá-lo para uma zona rural, onde a possível poluição não perturba como na cidade a vida e a cidadania e a saúde das pessoas, do ambiente, da natureza.
Aliás o João desta crônica é uma capacidade intelectual que se declara totalmente defensor do meio ambiente e amigo do meio ambiente roceiro, em cujo seio vive muitos dias de sua afanosa vida de industrial. O João de que vos falo adora a vida, a paisagem, os dias e as noites da roça. É como eu, poeta da natureza,  embora nem sempre escreva em folha de papel o amor que ele tem à natureza e não registre em sonetos e poemas a poesia encantadora que lhe vai na alma de caipira. Mas sempre o ouço tecer os melhores “versos orais” a um pôr-de-sol assistido do terraço de sua casa, a um despontar do sol contemplado da janela de seu quarto, de um céu estrelado examinado no sossego de um quintal de casa da roça, de um trilar de pássaros em seu bonito e produtivo pomar, de um piar longínquo dos nambus que vivem nos canaviais vizinhos, de um cacarejar de galos e galinhas campestres acordando a vida da gente de sítios e fazendas, de um surgir maravilhoso e sentimental de uma lua cheia que vem espiar o João contemplativo repousando na rede embaladora e feliz, do João que não se cansa de enaltecer-me toda a poesia e encanto que ele encontra em sua moradia roceira.
O João desta crônica entende melhor do que qualquer psicólogo ou médico da necessidade de se unir trabalho e descanso, de se unir vida da roça e vida da cidade, de se amar o rumor da urbe e a riqueza ambiental do silêncio do campo, de ser industrial vitorioso e esposo e pai amorável, de apontar, como pai exemplar, o caminho certo e feliz do futuro para aqueles seres que vieram enriquecer-lhe o lar, porque o João de que vos falo nesta crônica, não é o João Ninguém, pelo contrário é o grande João Alguém que reparte a sua felicidade e a sua vida com a carinhosa esposa e os encantadores filhos, a ponto de eles mesmos haverem preparado esta festa em homenagem ao esposo e pai.
A Festa das Bodas de Prata de João Otávio de Mello Ferracciú e Brígida Stênico. É esse o João desta crônica, a que a amizade, o dever, e a gratidão me obrigam a escrever, como minha pobre contribuição para a maior alegria dos “noivos” aniversariantes. Felicidade, e só! 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

SER PAI



                                  Lino Vitti
       Para ser pai, é necessário em primeiro lugar, haver mãe, pois só ela é que pode gerar o filho que vai ter possibilidade de chamar um homem de pai. Disso cria-se dupla condição e obrigatoriedade a um e a outro de criarem, com amor e integridade moral, física e social, o fruto resultante de sua união: o filho (a).
            Um ser humano é uma incógnita que chega ao mundo         e com o passar dos dias vai nele se envolvendo, conquista-o,  ama-o, embeleza-o, torna-o feliz, ou  ao contrário transforma-o num monturo de desgraças,tristezas,infelicidades, tortura-o, despreza-o, enfurece-o, acabando por eliminar dele os encantos e as maravilhas de que o dotou o Criador. Sempre porém será o filho, o herdeiro, o continuador valoroso da            família ou o seu destruidor, segundo o seu comportamento no seio da sociedade em que vive. Caber-lhe-ia por sua dignidade e importância dentro da criação universal divina, honrar, dignificar, elevar, amoldar condignamente, a sociedade, a família, a sua personalidade aos ditames da sua religião, de sua sociedade, de seus conterrâneos, de sua pátria restrita ou geral, para ser digno dela, para representá-la, para engrandecê-la... Como o mundo seria feliz, como o mundo seria amado e respeitado, se cada filho(a) se tornasse digno dele ou eles(as) o tornassem digno – o mundo – de seu modo    de viver e participar.
            É triste,  entretanto, verificar a um simples correr d`olhos que é imensa a legião dos filhos indignos do mundo, indignos da própria sociedade em que vivem, descrentes de Deus, do amor, da justiça, da felicidade, sem anseios e sem esperança, Há ainda piores. Há aqueles que desprezam, ofendem, atacam, ignoram sua própria condição de filhos e é como tivessem surgido na vida ao léo da sorte e do destino, transformados em pranto para os pais, em desonra para a  sociedade, em inimigos de quem, com a participação divina, lhes deu a vida, lhes deu um lar.
            Quantos pais, quantas mães, são felizes, entretanto,  porque são amados, obedecidos, colocados em lugar privilegiado do coração de suas criaturas, servindo-lhes de caminho, de farol, de conselheiros, de indicadores das dificuldades e enganações de uma sociedade descrente do amor, das belezas da paternidade, dos encantos de ser mãe, da felicidade de serem bons filhos.
            Oxalá as lágrimas paternas e maternas provocadas pelos maus filhos e filhas sejam poucas, reduzam-se a zero, pois é trágico existir quem não ame aqueles que lhes deram vida,  aqueles que os sustentam, aqueles que lhes apontam a senda certa do bem viver, e um futuro promissor de realidades felizes. Que pais e mães. filhos e  filhas, se olhem uns aos outros, com dignidade, com respeito, com amor, vendo em cada qual a imagem de Deus Criador, pois criaturas somos todos de uma só origem divina. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

MEU AGRADECIMENTO




ALGUMA CRÕNICA ( LXXIX)

                                               Lino Vitti

                  Em crônica anterior comentei o assunto  “gratidão” . Dizia da necessidade de todos procederem  com a   manifestação desse gesto sempre  que por qualquer motivo  fossem honrados ou dignificados com outro gesto, desde que recebedores de  um benefício, social, moral, espiritual , físico  ou cultural, formas diversas de que a sociedade faz uso para outorgar benefícios dessa ordem.   De qualquer forma ,  o dever de sermos gratos  é uma constante necessidade  humana , para que tudo caminhe nos eixos  e no ordenamento  das relações  entre gente e coisas.
                   Recebi, em dia aprazado de agosto, um Sábado feliz de minha vida, embora o mês, no conceito popular e folclórico, seja  de expectativa contrária,  recebi, repito, uma honraria de parte do Município de Piracicaba, mais precisamente da sua Secretaria da Ação Cultural, concedendo a “Medalha de Mérito Cultura “Prof. Olênio  de Arruda Veiga “, instituida par premiar aqueles cidadãos piracicabanos  que se tenham destacada  na  disseminação  da cultura entre os seus conterrâneos  ou mais amplamente , em áreas superiores, como do Estado ou do País.
                    Confesso-me humildemente surpreendido com a honraria, pois  entendo  que apesar de minha contribuição  à cultura geral de Piracicaba, outros existem  de maior trabalho e projeção dignos de a ela fazer jus, mais do que este singelo servidor da poesia , do jornalismo, da literatura através de crônicas e contos, quiçá com um currículo bem mais avançado  do que este  combativo lutador da cultura desta terra  de inegável memória  artística e  cultural.
                      Foi pois  à sombra de tais idéias que recebi das mãos do prefeito José Machado,  um insigne protetor e incentivador da cultura piracicabana  a medalha  criada para tão  alta finalidade , autoridade máxima do município que se dignou comparecer ao ato  dignificando este  mero cultor da arte literária , de tantos integrantes  entre nós. O que  sem dúvida representa muito e tanto  para quem tem o prazer de servir  a essa distinção que a vida oferece aos que  a ela se dedicam.
                     Ser poeta é um privilégio de poucos. Ser homenageado tendo como motivo  uma intensa divulgação da poesia é outro maior privilégio . Por isso , a alegria  de receber a honraria , em singela festa onde compareceram  pessoas gradas, autoridades eminentes, como o presidente da Câmara de Vereadores, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico, o Secretário Municipal da Ação Cultural, o afinado coral  de Santa Olímpia, sob a batuta da  sua competente maestrina, jogral de jovens da UNINEP,  que declamaram, juntamente com  uma excelente declamadora cujo nome me foge à memória de  idoso, várias poesias de minha lavra, não faltando ainda a presença em espírito do Presidente da Academia Piracicabana de Letras e o orador  do IHGP, professor Elias Salum.
               Vejam vocês que se entre gente desse quilate, não seria para Lino Vitti estourar de satisfação e emoção e assim sentir-se, dainte de tão alta representatividade, mais digno de receber a ínclita Medalha  de reconhecimento cultural. E mais que tudo, ainda porque  perante  aquela  platéia de eminências, dirigidas pelo anfitrião, meu amigo poeta  Ésio  Pezato ,
que desfiou  a síntese da vida  e participação cultural de  Lino Vitti, senti-me elevado  a emoções sem termo , quase arrebentando o coração do  velho.
                Paro por  aqui. Antes, porém, muitíssimo obrigado que só o que sabemos dizer em tais saborosas homenagens.
     

domingo, 5 de agosto de 2012

RECORDANDO, RECORDANDO...




                                                        Lino Vitti

                    O Arquivo do computador – como aliás o próprio computador – é algo fantástico, maravilhoso, indecifrável, misterioso, invenção que leva o homem os páramos do sublime. Só quem mexe com ele pode avaliar a afirmativa que aí faço e pode certificar-se da verdade que dela ressumbra e vem a lume a cada vez que clicas a seta orientadora e obediente aos impulsos do clicador.
                      Qualquer cabeça pensante capaz de, ao menos. ler e escrever pode enveredar pelos misteriosos caminhos desse instrumento e botar em tela tudo aquilo de que  sabe sua inteligência e sua memória, parecendo até que ele aviva os neurônios da capacidade criativa e colabora para a criatividade litero-científica, satisfazendo plenamente esse poder inerente ao homem e aquela parte do corpo que traz sobre os ombros.
                        Seria talvez isso que me levou a buscar nos misteriosos caninhos do meu amigo eletrônico, um dos meus múltiplos sonetos, onde recordo daquela etapa da vida em que desfrutei da ampla liberdade de morar na roça, digno, sem dúvida,  de ser objeto dessa tradicional, bela e profunda composição poética.
                        E se os distintos e caríssimos leitores de minhas tiradas cronísticas nestas generosas páginas com que Paulo nos brinda, tiverem o prazer de me acompanhar, vamos buscar aquele soneto longínquo no tempo e nas minhas tramas rimantes e sonetísticas,  recordando a Roça, a imorredoura roça das minhas saudades.
                        Hoje pouco ou quase nada se fala em roça. Transformou-se em propriedade  rural, agrícola, fazenda, lavoura, assumindo ares de riqueza e grandeza humanas,  criando essa figura de agricultor, talvez mais nobre e significativo do que lavrador, homem do campo, roceiro, fazendeiro...
                        E se já  estiverdes prontos, vamos ao tradicional soneto, a seguir buscado no fundo do baú dos meus poemas :
                       
                                              A ROÇA
                                               
                                                    Lino Vitti


Fui ao campo. Fui ver o quanto é lindo
o imenso fulgurar de um sol de meio-dia.
Fui ver, em verde bando, as maritacas indo
em busca matinal do pão de cada dia.

Fui ver o lavrador, em suores, carpindo
enquanto o cafezal em alvuras fulgia.
Mas que ouço? São talvez os pássaros curtindo
o alvorecer da roça em árias, numa orgia?

Que vejo? O milharal embonecado e farto
em dourada promessa, em espigas risonho?
Além vejo o arrozal... Que passa? É um lagarto!

Meu Deus! Não é verdade isto que aqui componho,
é apenas a ilusão da qual, triste, me aparto...
A roça não é mais do que infindável sonho! 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

DISPENSAS DE EMPREGO



ALGUMA CRÔNICA (XXVI)

  Lino Vitti (Inativo Municipal)

            Muitos contratados e estagiários do serviço público municipal foram alcançados neste final de administração pela tragédia da dispensa do cargo. Em outras palavras, inúmeros cidadãos passaram a engrossar as fileiras dos desempregados, formadas, há algum tempo, pela desastrosa política de um Governo que parece ter vindo para complicar a vida do trabalhador  nacional em qualquer nível, em qualquer categoria.
            E não só os trabalhadores, no intrínseco sentido do vocábulo, mas a grande categoria do funcionalismo público também está amargando à derrocada fatal do desemprego, como se pode verificar, entre nós piracicabanos cujo administrador municipal, num gesto triste e incompatível com a dignidade da pessoa humana, resolveu botar na rua duas importantes categorias de servidores: os estagiários e os contratados.
            É verdade que as administrações menores deste país, por força de intempestivas modificações constitucionais, impostas pelo Governo Central, vivem hoje como que aferrolhadas por aquele, havendo perdido a beleza constitucional que era a autonomia municipal e estadual, de se regerem por vida administrativa própria e liberdade de ação financeira.
              Prefeitos, governadores, vereadores e deputados, vivem hoje sob o guante federal, amarrados por Emendas Constitucionais forjadas para ter sob canga todas as administrações públicas. O resultado dessa política destruidora é o que estamos assistindo: dispensa em massa de infortunados servidores, quiçá pais de família, sustento de lares, arrimo de pais idosos e entrevados, depois de um pleito eleitoral em que o partido do governo reinante não conseguiu reeleger seus adeptos nos arraiais piracicabanos.
            Ora, faltam poucos dias para o ocaso administrativo dos atuais prefeitos. Não é nesses poucos dias, nem com mandar gente para o olho da rua, que as coisas, se erradas, poderão ser corrigidas. O acerto de contas públicas, sabem todos, não é de se fazer de hoje para amanhã, tanto isso é verdade que vimos, na última recente eleição, candidatos que foram prefeitos há 8 anos atrás, serem acoimados de maus administradores e de não haverem ainda tido julgadas suas contas.
            Metamos a mão na cabeça, como o “Pensador” de Rodin, para entender um pouco a tristeza, o transtorno, os prejuízos que terão os dispensados abruptamente e respectivas famílias. Mormente em tempo dessa estrangulante política financeira de FHC, Malan e seus comparsas!
            Aonde tanta gente, vítima inocente da política, vai encontrar trabalho?
            Inoportuníssima, sem dúvida, a providência oficial tomada, embora se revista, como se proclama, de apoio legal e constitucional!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

AS LAVOURAS



ALGUMA CRÔNICA  (LXXXI)

 Lino Vitti
      
Lavoura, ensinam os dicionários, é tudo quanto diz respeito à agricultura, como o preparo da terra,  a aração, a gradeação, o plantio, a capinação e a colheita., seja para grãos  ( milho, arroz, feijão, soja) ou gramíneas (cana de açúcar) ou fibras como algodão  e ainda tubérculos, como a batatinha e a mandioca.
Lavrador  pois se chama aquela pessoa  que cuida da lavoura ou roça, o roceiro como gostaria  muito de ter sido na vida.  Na vida porém nem sempre acontece como a gente quer ou gostaria de ser.
Voltando a falar da lavoura  posso dizer sem errar que  esse tipo de coisa praticamente  não mais existe nos meus bairros de infância, pois  com o andar dos tempos mudou muito o modo de viver daquela boa gente de minhas origens. As gerações de hoje  só conhecem a lavoura cana-de-açucar , existindo jovens   e crianças  que desconhecem como foram as plantações de arroz, milho, feijão, batatinha, algodão  e outras . Desconhecem  outrossim as belezas naturais  dessas lavouras. Nada mais belo do que ver  o mar verde do milharal  se estendendo pelas terras  , brilhando ao sol, afagado pelas brisas , apendoado por cabeleiras de flores , espichando  espigas  encabeladas e coloridas , embonecando  e engranando , como que anunciar  a fartura da colheita.  O arrozal, em geral plantado  na várzea , ondulava  sempre tangido por frescos ventos , embarrigava (é a palavra que se usa entre lavradores) para soltar em seguida a maravilha dos cachos  engranados , para a alegria dos  donos da colheita . A  “malhação” do arroz é um ato do roceiro que jamais se apagará da minha lembrança . Esta lavoura, além de rendosa, bonita e alimentar , constituia-se  em  motivo de alimentação dos pássaros campestres, como rolinhas, nambus,  pombas  e a sementeira depois da colheita  atraia papa-capins, tisios, pintassilgos,  em grande profusão.  Plantava-se algodão e café , duas espécies  de lavoura que desertaram daquelas localidades,  Que maravilha um algodoal em ponto de apanha!  O solo  virava um lençol de brancuras  macias  que o pessoal recolhia em enormes sacos  e aventais , parecendo todas mulheres `a  espera de nenê no último mês de gestação.
Hoje meus bairros de origem como que perderam  a beleza da policultura, a graça e o encanto da lavoura variada , dando lugar à monotonia  dos canaviais !  Plantações lindas como as de café, algodão, arroz, milho , batatinha, talvez nunca mais. Só na saudade  dos mais velhos ainda vivos. As novas gerações não sabem o que perderam .
A natureza cria  maravilhas, encantamentos, preciosidade. Nada mais lindo  do que ver a exuberância verde de um arrozal  ou milharal, um cafezal mostrando seus grãos maduros, vermelhos, pedindo apanha. Quando uma roça de milho começa a enbonecar, isto é, a mostrar os primeiros  fios  dos cabelos da espiga , o homem do campo se alegra pois é uma promessa real  de que a safra será muito boa.
Apesar das dificuldades que acometem o lavrador e as dúvidas  que surgem às vezes diante  das mudanças e indecisões do tempo,  a lavoura ainda vale muita coisa e serve como estímulo  para uma vida mais feliz.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Piracicaba - PARABÉNS, PELOS 245 ANINHOS


           
                                                  Lino Vitti
(foto Ivana Negri)

        Há 245 anos a “metrópole” piracicabana não era nada. A paisagem, no seu eterno ouvir o salto “cantar”, decerto vivia contemplando a floresta e a serra longínqua de São Pedro, ficando a interrogar, como nós fazemos hoje, o porquê daquele monte que a enfeita lá no final onde nasceu e vive crescendo a ex-propriedade de nosso município,  Charqueada. Hoje, entretanto a poética paisagem, ao rumor do salto, pode ver e ouvir também o estrepitar  de uma cidade que prospera e enriquece, prometendo cada vez mais ser digna do Capitão que a fundou e dignificar o povo que a habita.
        Mais anos virão, novas gerações sucederão as que o passado envolve no seu imenso véu do esquecimento, e para gáudio da civilização nacional, a prosperidade, a cultura, o  amor de novas gerações, se apressarão para mostrar que o futuro será mais próspero e feliz,  legando-o aos seus filhos com todos os motivos que merecem as grandes cidades e as grandes capitais.
        E por que estaria eu blasonando as belezas e as possibilidades desta terra, cobiçada pelas riquezas naturais e materiais, apontada como uma das mais estruturadas e cultas a ponto de receber o valioso  apelido de Atenas Paulista?
        Ora, por que? Acaso preciso eu informar os dignos leitores e amigos que nos cercam de admiração e estima que  foi a Primeiro de Agosto de l767 que na praça, hoje   coração da cidade, reuniram-se povo e autoridades para oficializar e delinear o ponto de partida dessa Piracicaba de hoje, com a presença do fundador Capitão António Corrêa Barbosa, clero, povo, decerto índios e vadios (é a história dela que o diz), reunidos para registrar no cartório da outra História, a   da vida, o nascimento de Piracicaba.
        Como tenho a mania de ser poeta, coloquei em humildes versos uns lampejos do que foi esse gesto histórico da fundação de uma cidade, versos que se os caríssimos leitores permitirem, vou transcrever em sequência. Fazem parte de meu livro “A PIRACICABA MINHA TERRA”:
                        “A FUNDAÇÃO
        Formou-se a povoação de homens diversos:
        Vadios, andarilhos e dispersos
                Povoam este chão.
        Vadios – gente boa desempregada,
        Andarilhos – pessoas sem morada,
                Dispersos - sem lar são.

        No topo da colina ao sol da manhã clara,
        Gritando os bem-te-vis com orquestra de araras,
        Acorre o povo todo a  mando do Povoador.
         Levanta o pelourinho – armas da autoridade,
        Traça o marco no chão da matriz da cidade,
        Tressua a multidão de alegria e calor!

        O povaréu em festa entroniza o seu santo,
        Começa a construção do templo sob o canto
        Dos pássaros sociais, à luz do amanhecer.
       As cigarras em bando agarradas aos troncos
        Feriam a zumbir o ouvido de homens broncos
        Saudando-lhes a fé, lembrando-os do dever.”
                E por aí segue o poema, por  64 páginas, fundamentado no Manual de História Piracicabana, do professor, latinista, escritor, Guilherme Vitti.
                Esqueçamos, agora, o poeta e o escritor e aproveitemos o momento para saudar Piracicaba aniversariante e desejar-lhe seguir o belo e promissor caminho que o passado lhe traçou, que o presente ilustra e o futuro lhe será cada vez mais luminoso e progressista.

PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA

CURRICULUM VITAE
( Síntese de Vida)
NOME – Lino Vitti
IDADE – 08/02/1920
ESTADO CIVIL – Casado, em únicas núpcias, há 56 anos, com a Professora Dorayrthes Silber Schmidt Vitti
FILIAÇÃO – José e Angelina Vitti
NATURALIDADE – Piracicaba, Estado de São Paulo –Brasil
Bairro Santana , Distrito de Vila Rezende
VIDA FAMILIAR
Casamento Civil e Religioso em comunhão de bens, Pai de sete filhos: Ângela Antónia, Dorinha Miriam, Rosa Maria, Fabíola , Lina, Rita de Cássia, Eustáquio.
VIDA PROFISSIONAL
Aposentado como Diretor Administrativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, e como Redator do “Jornal de Piracicaba”. Exerceu atividades no comércio, no Magistério, na lavoura até os l3 anos, na municipalidade local, como bibliotecário, lançador de impostos, protocolista, Secretário Municipal.

VIDA CULTURAL
ESCOLA PRIMÁRIA –
Grupo Escolar “Dr. Samuel de Castro Neves”, Santana, seminarista vocacional ao sacerdócio por seis anos, no Colégio Santa Cruz, da cidade de Rio Claro (SP), onde cursou humanidades, línguas, religião, ciências, matemáticas, música.
CURSOS –
Formou-se Técnico em Contabilidade, lecionou latim, francês, datilografia.

VIDA RELIGIOSA
Católico, Apostólico, Romano, fez curso de religião em seminário dos Padres Estigmatinos, foi organista da Catedral e da Igreja de São Benedito, de Piracicaba, e Congregado Mariano.
VIDA LITERÁRIA
Bafejado por ensinamentos de sábios sacerdotes em colégio de formação religiosa, recebeu extraordinário acervo literário que lhe propiciou enveredar pelo caminho da poesia, da crônica, dos contos, do jornalismo, havendo editado de l959 a 200l sete livros de poesias e contos, com edições em milheiros de volumes, os quais estão aí para satisfazer o gosto daqueles que apreciam a arte literária.
São seus livros : “Abre-te, Sésamo”, l959; “Alma Desnuda”, l988; “A Piracicaba, Minha Terra”, l99l; “Sinfonia Poética”, de parceria com o poeta Frei Timóteo de Porangaba; “Plantando Contos, Colhendo Rimas”, l992; “Sonetos Mais Amados”, l996 e “Antes que as Estrelas brilhem”, 200l. O poeta conta ainda com o prazer de haver composto hinos para diversos municípios, bairros rurais, entidades sociais diversas, continuando a colaborar ainda, após os 83 anos em colunas literárias e com artigos de ordem geral em jornais da terra.
Faz parte da Academia Piracicabana de Letras que lhe outorgou o título honorífico de “PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA’.
Foi-lhe concedida Pelo Município de Piracicaba, através de sua Secretaria da Ação Cultural, a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL, “ Prof. OLÊNIO DE ARRUDA VEIGA’; é detentor do TROFÉU IMPRENSA, concedido pelo Lions Clube de Piracicaba, centro, e da MEDALHA ITALIANA, concedida pelo governo italiano de Benito Mussolini aos alunos de escolas e seminários de origem daquele país que tivessem se destacado em redação de trabalhos literários escritos na língua de Dante.
O Município de Saltinho, para o qual contribuiu com o Hino dessa comunidade municipal , conferiu-lhe o título de “Cidadão Saltinhense”.

DISCURSO

Por ocasião do lançamento do livro de poesias “Antes que as estrelas brilhem “, pelo poeta Lino Vitti foi proferido o seguinte discursos:

Exmo. Sr. Heitor Gauadenci Jr. dd Secretário da Ação Cultural

Exmo. sr. António Osvaldo Storel. dd. Presidente da Câmara de

Vereadores de Piracicaba

Exmo.sr. Moacyr Camponez do Brasil Sobrinho, dd. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico

Exmo,. sr. Henrique Cocenza, dd. Presidente da Academia Piracicabana de Letras

Exmo.. Sr. Ésio Pezzato , anfitrião desta solenidade

Senhoras e Senhores

Pela sétima vez (graças a Deus) em minha vida lítero-poética vejo-me guindado a uma tribuna improvisada (o que é bom porque torna o fato mais popular), para proferir um discurso de agradecimento, ao lado da oferta de um novo livro de versos. É teimosia essa de poetas em desovar sua produção para que mais gente participe de suas tiradas, muitas vezes fora de forma e de ambiente, mas que o poeta não vê porque , ao editar um novo livro está cego pela emoção , como se fosse a vez primeira. Está aí o Ésio Pezzato, responsável por mais esta minha invasão no mundo das letras poéticas, para dizer se não é assim. Para dizer se não sofre também dessa doença feliz de editar livros e mais livros a ponto de perder a conta, já que a esta altura ele não sabe se já está no décimo ou décimo primeiro. E ainda continua batendo dedos de métrica, sabemos lá por quantos anos ainda !

Tenho um ex-colega de seminário, prof. Hildebrando André, aposentado como professor universitário e com o qual mantenho longa e pródiga correspondência, que não se cansa de enaltecer a felicidade de Piracicaba contar com tantos poetas e poetisas. Tem razão ele, pois se apenas dois deles já conseguiram editar l8 livros de poesia, imagine-se as centenas que seriam necessárias para dar um pouco de vazão a essa raridade intelectual que toma conta da minha terra!

Este meu livro vem à lume por obra e arte do prefeito José Machado , seu Secretário da Ação Cultural e de seu zeloso servidor Ésio Pezzato que se entusiasmaram diante da recitação de diversos poemas meus por um grupo de jograis, alunos da UNIMEP, e impressionados decidiram patrocinar a publicação deste livro, pois entenderam que Piracicaba poética merecia conhecer em mais profundidade o seu príncipe da poesia. E aí está, lindo e impecável, entregue às mãos do povo de Piracicaba, que indistintamente de cor, estudos, intelectualização , posses financeiras, categoria de trabalho, com religião ou agnóstico, jovem ou adulto, roceiro ou citadino, aí está, para quiçá, momentos de lazer e sonho. Sonho , sim, porque a poesia é terrivelmente sonhativa , vive no mundo da fantasia, alicerça-se nas bases da emoção e brota do âmago mais profundo do poeta, e para que as filhas de Eva não reclamem, da poetisa também.

Alguém me perguntará? Como é ser poeta? Juro, nunca pensei nisso. Acho que ninguém consegue ser poeta. Já é. Nasce feito, como dizem.

não é verdade Maria Cecilia, Ivana Maria, Ésio Pezzato , Prata Gregolim, Marina Rolim, Valter Vitti, Mario Pires, Saconi, e tutti quanti enfeitam com seus lindos versos as páginas do “ Jornal de Piracicaba, ou da “Tribuna Piracicabana , e assim também esse cacho imenso de livros poéticos que quase semanalmente são dados ao conhecimento e sentimento público de nossa terra ? Tornando-se um privilégio de uma cidade, como disse alhures o supra citado meu colega seminarístico Hildebrando André. ?

Não se suponha que para ser poeta é preciso ter nascido em berço de ouro ou em centros intelectuais de enorme repercussão. Nada disso. Tenho um soneto que define bem esse fato. É assim: “Eu não sou o poeta dos salões / de ondeante, basta e negra cabeleira] não me hás de ver nos olhos alusões / de vigílias, de dor e de canseiras. // Não trago o pensamento em convulsões,/ de candentes imagens, a fogueira. / não sou o gênio que talvez supões/ e não levo acadêmica bandeira.// Distribuo os meus versos em moedas/ que pouco a pouco na tua alma hospedas / - raros , como as esmolas de quem passa. / Mas hei de me sentir feliz um dia/ quando vier alguém render-me graça/ por o fazer ricaço de poesia. // “ . Poetas e poetisas saem do nada , devem trazer o selo ou o bilhete de entrada nesse reino encantado desde o útero materno, embora ouse eu afirmar que a vida é também uma grande mestra , as influências da mentalidade circunvizinha,

o próprio meio ambiente, podem , em circunstâncias outras , plasmar um poeta .

Eu fui plasmado , por exemplo, por entre maravilhas campestres. A roça ou o campo são fantásticos criadores de poesia. Ela anda atapetando por todos os cantos a natureza, as gentes, os animais, os atos e fatos. e a cabeça daqueles com quem ela convive. E o poeta, criador por excelência, se abebera de todas as belezas esparsas pelas colinas, serras, vales e descampados , para transformar tudo em versos e rimas, ou em versos simplesmente, onde pululam , como cabritos silvestres, as figuras literárias, os tropos, as sínteses, as comparações, e todos os anseios que lhe vão no imo da alma. Para satisfação própria e para satisfação dos que convivem com o poeta. E´ por isso que se botardes olhos curiosos sobre meus poemas havereis de tropeçar a todo o momento com um motivo roceiro, pois trago uma alma plasmada pelas belezas rurais de Santana, Santa Olímpia , Fazenda Negri, e especialmente por aquela colina encimada ,no cocuruto, pelo prédio do grupo escolar, onde aprendi a ler e escrever e a poetar.

Peço desculpas por haver-me prolongado um pouco nestas elucubrações poéticas, desobedecendo aos conselhos do amigo Ésio que continua exigindo de mim discursos improvisados, o que seria tão para os ouvintes , que ansiosamente aguardam o momento de bater palmas acabando assim com a verborragia oratória.

Não posso entretanto encerrar esta breve alocução sem deixar consignados meus agradecimentos do fundo do coração ao prefeito José Machado ,ao seu Secretário da Ação Cultural Heitor Gaudenci Junior, ao seu sub-secretário poeta Ésio Pezzato, ao prefaciador Moacyr de Oliveira Camponez do Brasil sobrinho, aos queridos opinadores Maria Cecília Bonachella, Maria Ivana França de Negri, exímias poetisas, prof. Elias Salum e a minha filha Universitária Fabíola Vitti Moro, pela maravilhosa capa, Editores e toda equipe de funcionários , à minha esposa pela sugestão transmitida ao prefeito com relação ao advento desta obra, aos digitadores Nair , minha nora e neto Leonardo, e outros que possa ter esquecido, como é fácil em cachola idosa, - meus agradecimentos repito, pela reunião de esforços e trabalho que tornaram possível o advento de mais um livro de minha lavra.

Obrigado “ em geralmente” como dizem nossos cururueiros, aos que ilustraram com sua arte musical esta solenidade e assim também a todos quantos acharam um tempinho para vir prestigiar-me nesta tarefa de cultura e arte. Levem a certeza de que nada mais desejo do que engrandecer com minha poesia a terra que me viu nascer, a terra que me viu crescer, a terra que me proporcionou oportunidade para chegar a um cargo tão nobre quão dignificante de “Príncipe dos Poetas de Piracicaba”

Meu carinhoso obrigado também aos meios de comunicação, de modo especial “Jornal de Piracicaba”, na pessoa de seu Editor Chefe Joacyr Cury , de “A Tribuna Piracicabana”, na de seu diretor Evaldo Vicente, pela divulgação caprichosa deste evento que afinal nada mais é do que mais uma demonstração da exuberância cultural da Noiva da Colina.

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