Lino Vitti
Encimam o título desta crônica palavras divinas. Palavras proferidas no momento mais triste e significativo da história do mundo, da história da Fé, da história da humanidade. Cristo, Filho de Deus, crucificado por aqueles de quem fora o próprio Criador, quase sem forças para fazer ouvir-se-lhe a voz, brada angustiado: “tenho sede”. Em outras palavras: preciso beber, dêem-me água. E os soldados não lhe deram água, mas fel.
O grande contra-senso! Um Deus, autor do universo e de tudo quanto no universo vive, vegeta, sensível ou insensível, a pedir água – água que lhe é negada porque o homem se julga senhor de tudo, inclusive de uma cuia do valioso líquido a ser estendida ao moribundo no ponto culminante de sua morte.
A água é criatura de Deus! Quando o mundo era o caos a voz de Jeová disse: “separemos as terras das águas”. E elas formaram os oceanos, formaram os rios, formaram os ribeiros, formaram os lagos, formaram as fontes, formaram as correntes que circulam nos sub-solo e as nuvens que presenteiam o mundo com a grandeza das águas pluviais. Onde não há água, domina o deserto, de onde a vida foge porque a água é vida e sem ela comanda a morte.
A ciência a chama de H20. Como quer que a chamem, como quer que a denominem, ela é a alegria, ela é o frescor, ela é a beleza, ela é o prazer, ela é o amor , ela é, como disse, a vida.
É alegria porque o mundo animal e vegetal, sorri diante de uma fonte borbulhante cujos lábios a sugam e cujo frescor lhes mitiga o ardor da sede: ela é beleza porque encanta aos que a buscam: ela é prazer, porque nada mais delicioso do que um copo de água para aquele que necessita dessedentar-se; ela é amor, porque foi um gesto de amor divino que nô-la deixou à disposição a qualquer hora e em qualquer necessidade; ela é vida, sim, é vida, porque onde falta a água surge a morte e a destruição.
O homem, entretanto, é o eterno contraditor de tudo quanto lhe deu de presente o amor divino. E costuma sempre emporcalhar com sua ignorância e maus instintos, as grandezas que se lhe foram oferecidas e cujo uso lhe é livre e soberano. É o que está fazendo hoje a criatura, quando desconsidera o valor do prêmio santo da água e a destina para fins ignóbeis, ou a suja com seus elementos venenosos, desumanos, condenáveis e impiedosos. Os rios, as fontes, os oceanos, nada escapa ao processo destruidor da poluição humana. Basta olhar, mesmo que de relance, para os crimes que se cometem contra as torrentes líquidas da terra, do país, do universo, tudo engendrado pelo próprio homem a quem cabe, antes que mais nada, fazer exatamente o contrário, isto é, preservar, defender, tornar cada vez melhor, a fonte de onde extrai a água para seu viver, para o viver de suas famílias, de seus conterrâneos, dos homens, mulheres e crianças do mundo inteiro.
Essa é uma verdade facilmente demonstrável. Basta apenas ver o rio Piracicaba, que até há pouco tempo nos ofereceu suas águas para matar a sede e servir de uso a toda uma comunidade. Que fizeram dele? Um esgoto infeliz e doloroso que ao vir do inverno, quando as chuvas generosas escasseiam se transforma em leito de pedras sujo e fétido. Piracicaba, cujo serviço de abastecimento é um dos melhores, senão o melhor do país, e quiçá do mundo, vive a desdita de ver a água que consome, submetida a caríssimos processos de tratamento para poder ao menos ser aproveitada pela população, porque se lançam em seu seio, milhares de toneladas de esgoto humano, industrial e agrícola. As autoridades e o órgão responsável, partem para outra fonte abastecedora. Mas que ocorre? O homem, sempre o homem, lá aparece com a sua maldade e inconsciência para conspurcar mais uma vez as águas da nova fonte, com venenos industriais e agrícolas. E as consequências sabem-nas todas quais são.
Meus irmãos. Não foi para isso que Deus nos doou esse prêmio de vida. Não foi para o sofrimento que se criaram e abriram os mares, os rios, as fontes, os lagos. Foi para que vivesse a humanidade melhor e mais feliz. E só poderíamos hoje dizer, bem alto e com toda a alegria da alma: “Obrigado, Criador, pela água que nos deste!”
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