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(Foto arquivo Ivana Negri) |
Lino Vitti
(Ao Ésio poeta, com admiração, pelo seu belíssimo poema sobre o apóstolo Judas)
A tarde se cobria em trevas e tristeza
envolvendo de dor homens e natureza,
envolvendo de luto a terra criminosa.
Agonizava um Deus numa cruz tenebrosa,
na companhia atroz de dois pobres ladrões.
Era a tarde da Morte e a tarde dos perdões.
“- Perdoa-lhes, Meu Pai, não sabem o que fazem,
seus toscos corações em mil pecados jazem!”
Que grandeza divina, oh! que perdão sublime
que desfecho feliz para o ódio, ou o crime!
Ouvir do alto da Cruz a palavra que salva,
ouvir uma de colina, escalavrada e calva,
essa voz divinal a perdoar os pecados,
dos míseros mortais à dor escravizados.
E enquanto a luz do sol morria no horizonte
morria uma Outra Luz na cimalha de um monte!
Morria? Oh! não! Um Deus não morre nunca,
jamais pode findar um Deus à garra adunca
da Morte! Foi somente um sono passageiro,
da Eternidade foi um segundo altaneiro.
O suplício da Cruz foi um abraço imenso,
desceu do Céu à Terra, um celestial incenso:
o incenso do perdão, santo incenso do Amor,
o Calvário era, então, luzente e almo Tabor.
Para lá se voltava o ansioso olhar do mundo,
nesse extremo momento feroz e iracundo,
em busca da Verdade, e a Paz do coração,
o Gólgata a luzir fulgores de Perdão,
uma Cruz a espargir da Vida o Amor fecundo,
uma Cruz a abraçar a imensidão do mundo!
No outro extremo do Monte Sacrossanto
reinava o desespero – esse tétrico manto –
envolvendo o traidor Apóstolo de Cristo
a quem dera também o signo de benquisto.
Ao invés de uma Cruz, uma Forca terrível,
balouçando ao sabor de uma corda insensível!
O vento a assobiar tragicamente canta
a elegia da corda apertando a garganta
do apóstolo infeliz, tão ingrato e infeliz,
que de Deus o perdão desprezou e não quis.
Uma Forca e uma Cruz, dois símbolos de morte,
ambos a conclamar enigmática sorte.
Patíbulo de Cristo, a Cruz trouxe o perdão,
a Forca traz, porém, dura condenação.
No extremo de uma Cruz sucumbe a Imensidade,
no extremo de uma Forca, acaba a falsidade.
Frente a frente estão dois extremados destinos,
um apenas Amor, outro só desatinos.
Do Calvário, a fulgir, brota a Luz santa e pura,
Da Forca brota o horror em forma de criatura.
No topo, grande Cristo, o instrumento sangrante,
se fez, ao receber-te, um opróbrio triunfante,
enquanto o rude galho onda a corda balança
é o símbolo fatal da vil desesperança.
Extremos que jamais se tocarão, porque
unirem-se Ódio e Amor, na vida não se crê.
A traição e o Perdão repelem-se, são polos
criaturas que jamais terão os mesmos colos,
jamais se encontrarão do mundo no vaivém,
porque a Traição é o Mal, porque o Perdão é o Bem.
“Melhor fora jamais haver você nascido”
disse Cristo ao Traidor, e “embora arrependido,
não poderá aceitar o meu perdão divino.”
Que desdita infernal, que terrível destino!
“Seguidores terá, no entanto nesta terra
homens que trairão, homens que farão guerra.
Florirão as traições e muitos seguidores,
palmilharão a estrada estulta de seus passos.
Muitos adorarão o dinheiro e os favores,
muitos pedras darão em lugar de dar flores,
como você, darão os traiçoeiros abraços.”
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