
Lino Vitti
Apanhemos a máquina filmadora, inventemos um processo de retornar aos idos que se foram e aí levar para o celulóide tudo quanto aconteceu nesses distantes pretéritos; na volta, repousemos, nós e o invento cinematográfico, por pouco que seja, sobre a história e a vida desse mundo perdido no tempo; continuemos nossa viagem e estaremos chegando aos dias de hoje, dignos de serem reproduzidos também nesse filme longo, sem fim, cheio de momentos de paz e momentos de guerra, de vitórias e de derrotas, de descobertas e de sepultamentos na tumba do esquecimento, de auroras promissoras e poentes sangrentos, de prazeres incontidos e melancolias infinitas, de glórias e de repulsas, de esperanças e desilusões, de amores e de ódios, de Fé e negação religiosa, de... Bem fiquemos por aqui, porque se fôssemos filmar tudo quanto ficou na História do Homem e de seu Universo, não haveria filmotecas suficientes para guardar em suas estantes a imensidade quilométrica da vida terrestre e de sua principal figura: o Homem.
Expulso do Paraíso com que o Criador o presenteara, o gene humano, jogado a continuar a espécie cá nestas paragens terrestres, transformou-se numa estranha e deserdada criatura, ignorando, voluntária ou involuntariamente, suas origens e as ordens emanadas de seu Deus, pois supondo-se rei do universo passou a usar e abusar dele, passou a fazer pouco de seu semelhante, fruto de uma mesma fonte, a cultuar o Mal e a esconder o Bem para que a consciência não o acusasse e tivesse de responder novamente ao Criador à terrível pergunta: “Adão, onde estás?”
Estamos todos apavorados com o que vem acontecendo nos dias atuais. Dias loucos, malucos, de confusão, dias de matança quer de animais irracionais, quer de animais racionais, dias de ódio e dias de vinganças, dias de impiedade e dias de promessas mentirosas. A quem pede pão, dão-se pedras. A quem pede amor estende-se uma arma. Desfazem-se lares a tiros, destroem-se nações por decreto.
Saem o homem ou a mulher para o trabalho, com o coração dolorido por deixarem os filhos praticamente sós. E órfãos ficam de verdade, antes do entardecer, porque os monstros de aço, movidos pela poderosa força, escondida e sugada do fundo do solo, às tantas resolveram acabar com os trabalhadores, com os pais, com os empregados, com a vida de incontáveis laboriosos cidadãos, sob suas rodas enormes, em meio a ferro e aço, beijados lugubremente pelas chamas, porque o caminho para o trabalho é hoje eriçado de espinhos e pedrouços da pressa e da incompetência. Ou, quando não, no roteiro do trabalho, da loja, do supermercado, sacripantas armados brincam tragicamente de assaltar e matar.
Rouba-se, engana-se, desvirtua-se. De modo especial e com todos os requintes do cinismo, assalta-se e fazem-se rugir as metralhadoras, onde quer que a bandidagem, inatacável, decida que seja.
O terror está presente em todos os lares. Tem cadeira cativa dentro das moradias, no assento dos ônibus, nos escritórios, nos supermercados, nas lojas, nas escolas, nos templos. É imprevisível. Quando menos se espera, surgem os bandidos, os ladrões, os assaltantes, os estupradores, os monstros do sexo, para fazerem o seu trabalho. E as tragédias iniciam e terminam com morte, sangue, destruição, fogo.E quem nos acode? Ninguém. Ninguém. A polícia é sumariamente sacrificada ao cuspir do fogo das metralhadoras dos bandidos.É impotente. É humana como todos nós, Eles – aqueles - levam a vantagem de serem desumanos, terríveis, sem consciência, disseminadores do mal e da morte . E de não prestarem conta a quem quer que seja.
O mundo, a vida (registra aí no filme que estamos rodando, como no início deixei entrever), estão nas mãos do Mal, do Diabo, do Capeta, da descrença em Deus e o desuso da Fé. E o que será do amanhã de nossos filhos e pequeninos netos e bisnetos?
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