Lino Vitti
Faz talvez duas ou três semanas, o poeta e escritor (hoje lavrador e chacareiro) Irineu Volpato, vilarezendino, nato aí mesmo, no início da Avenida Rui Barbosa, cujos alicerces residenciais beijavam quase o rio, hoje impedido de tal prazer, pela avenida asfaltada – Irineu, repito, teve a ousadia feliz de expor aos associados de entidades culturais da cidade e aos amantes da Poesia verdadeira, a sua palavra autorizada sobre o vate imortal Olavo Bilac, ao que sei (não pude comparecer porque os anos não deixam o velho fazer o que quer) com plena autoridade e forma brilhante, como aliás é próprio dos espíritos altivos e realmente poetas. Irineu acumulou sua cultura em seminário religioso que freqüentamos conjuntamente.
No Colégio Santa Cruz, dos Padres Estigmatinos de Rio Claro. E não preciso dizer mais nada, pois quem freqüenta seminário de padres ou frades é curial voltarem para o mundo trazendo uma mala enorme de cultura e conhecimentos, não só religiosos mas laicos também para uso pela sua vida afora. Por isso Irineu falou com capacidade e profundamente conhecedor do autor de “Ouvir Estrelas”.
Gostaria que o vate vilarezendino, que encostou a literatura na parede da tulha e partiu para o trato de galinhas, perus, vacas e sei lá mais que bichos, fosse convidado para proferir conferência sobre os poetas e a poesia piracicabanos, de que faz parte especial e deve ter muita coisa para nos retransmitir. Quem sabe ele conseguiria expungir de mim o mal-estar lítero-intelectual que estou sentindo há algum tempo, pois começou a crescer dentro da já usada e abusada cabeça uma estranha e estrambótica ideia, ou melhor indagação: para onde irá, qual será o fim que será feito de todo esse acervo de poesia e arte literária que os piracicabanos conheceram e vão conhecendo, a qual, como aluvião de cultura importante é cultivado e divulgado pelos poetas e escritores desta terra a que, professor universitário da USP Paulistana classificou de Santuário da poesia?
Que será feito dos milhares de livros de poesia e contos e ensaios e arte e literatura e religião e educação e poesia, etc. cujo lançamento, ao conhecimento público, vem sendo, amiudadas vezes, feito entre nós, dezenas de poetas e escritores nos brindando com novos livros, num afã feliz de verem-se conhecidos e dando vazão aquela coceira que lhe esquenta a cabeça locupletada de estrofes e sonetos? Que será feito deles?
Jogados às traças? Lidos e relidos? Emprestados aos amigos que dificilmente os devolvem? Enfeitando silenciosamente, sem nunca sentirem o afago das mãos que os adquiriram, mais por amizade e consideração aos autores, do que pela vontade de saborear a beleza da poesia ou prosa de seus conterrâneos, expressa nas páginas de um livro? Ah! o destino do produto intelectual de muitos é misterioso, é enigmático! Será que algum terá a felicidade do Olavo Bilac que depois de tantos anos decorridos, teve um Irineu Volpato vilarezendino que os enalteceu e os avivou, em feliz e copiosa exposição, perante a curiosidade e compreensão de tantos amantes da poesia e admiradores dos poetas?
Aonde andais, meus 7 livros de poesia, em que coloquei um tanto de minha alma, uma dose imensa de minha personalidade, o quanto de cultura e amor à arte poética com que Deus me brindou? Aonde andais centenas e milhares de livros que os piracicabanos, ciosos de sua paixão cultural, espalharam pela sociedade afora, numa mensagem de sabedoria intelectual dedicada à Poesia e à Prosa?
Fecho e pingo o ponto final. Que cada um conclua como bem lhe aprouver estas linhas e responda a seu modo a minha pergunta: aonde andam os milhares de livros que um dia foram lançados generosa e esperançosamente ao destino dos queridos leitores?
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