
“EM DISPARADA”
(Cap. XXXVII)
E como, meu leitor, o poema vai longo
e já merecedor de buzinada ou gongo
correrei tal qual fez o nobre historiador.
Escreverei que foi o século tão cheio
de vitórias totais que fico com receio
de deixar para trás adventos de valor.
Não direi que houve até turismo gatinhando,
novas escolas vêm às outras se juntando,
empresas comerciais em profusão gostosa.
E nem revelarei que o correio chegara
qual coisa necessária e extremamente rara
já que a correspondência era bem numerosa.
Calarei, por respeito, a vinda da cadeia
que falar de prisão eu acho coisa feia
Vez que a todos o crime entristece e anuvia.
Deixarei de escrever sobre templos e igrejas,
nem preciso dizer das coisas benfazejas
plantadores que são da fé que salva e cria.
Nem descrever preciso a chegada da imprensa
tão gloriosa e imortal eu lhe vejo a presença,
tão fantástica eu vejo a história dos jornais.
A imprensa a história faz, seja bela ou sinistra,
é a imprensa a vigilar que tudo nos registra
e lega e imortaliza os fatos atuais.
Deixo aqui, como prova especial de respeito,
aos jornais desta terra o mais profundo preito
de amor, de gratidão, de amizade e carinho.
Para quem nela crê, para quem nela lida,
a imprensa é qual banquete, é célica comida,
atraente e teimosa, igual bacante vinho.
Envolto nessa teia iluminada e viva
o jornalista tem na imprensa a alma cativa,
tem manhas divinais do polvo de GIILIAT. (Vitor Hugo)
E quanto mais o suga e quanto mais o fere
a vítima se agarra e mais profundo adere
e nunca mais, a imprensa, o pobre deixará.
O gênio que a inventou e que hoje ainda se ergue
nas luzes do passado - o imortal Gutemberg -
reverencio agora e lhe rendo a homenagem.
Que receba de nós - gerações que caminham -
que ao longo do viver as forças não definham
dizendo-lhe que a imprensa é doce vassalagem.
Dizendo-lhe que ela é qual ave peregrina
- condor que o ninho fez no topo da colina -
onde Piracicaba ergueu-se e prosperou.
O “Jornal”, o “Diário”, a “Tribuna”, trindade
Para mostrar ao mundo, à plena saciedade,
Que a imprensa aqui floresce e aqui se alcandorou.
Foi ela, unida à Escola em sólida simbiose,
Dos tempos através que nos deu farta dose
De poetas gentis, de gentis escritores,
Jogando com a rima em folguedos diversos,
Da poesia tecendo os colares de versos,
Brinquedos de cristal de jovens sonhadores.
Na cidade se canta em líricos poemas,
O roceiro compõem em versos seus dilemas
Temperando de amor trovas sentimentais.
É pródiga, auroral, dos livros a colheita
Dando a impressão que em cada esquina nos espreita
Um poeta a compor sonetos tropicais.
Não falta nesse rol de amantes da poesia
a seresta com toda a sua fantasia,
com violas e violões, pandeiros e violinos.
Romântico, o luar, se põe a ouvir de cima
a terrestre canção onde floresce a rima
em versos a chorar impossíveis destinos.
Novidade a seguir os ventos do progresso
da seresta, depois, se deu brilhante ingresso
com todo seu cartaz, a banda musical.
Foi concretização de um intenso desejo.
foi festa a não poder, foi o maior ensejo
de propiciar ao povo um grande festival.
E, a tempo, ainda chega a ferrovia, a linha,
a Maria-fumaça impôs-se qual rainha,
com gare, a demonstrar alcantilado status.
E a cada vir de trem os ares apitavam,
cada vez de partir as caldeiras bufavam
reboando muito além nos recantos pacatos.
O povaréu vibrava em sibilantes gritos,
o vapor estrilante assobiava apitos
e o ferro contra ferro era um surdo rumor.
O piracicabano engolfou-se em viagens
para outros centros ia atolado em bagagens,
querendo conhecer o mundo com furor.
Única mancha negra a envergonhar-nos era
a escravatura atroz em compasso de espera
pois liberdade havia lampejando ao redor.
Depois de tantos choro e lágrimas frementes
floriram, certo dia, as risonhas sementes,
a escravidão sorriu em lídimo esplendor.
O escravo viu cair as terríveis argolas
e pôde freqüentar as públicas escolas,
tomar-se cidadão, viver a própria vida.
A esperança de ser afinal também livre,
de poder saborear a pinga com gengibre
concretizou-se enfim, em risos convertida.
“Ave, libertas” - viva a liberdade - disse
a “Gazeta” de então, expressa de meiguice,
com que o jornal saudou o fim da escravidão.
E o braço escravo foi nova força e potência,
melhora o trabalhar sem chula prepotência
do chicote feroz que brandia o patrão.
Depois da escravidão outra importante data
veio ferir do povo a quietude pacata,
mexer no sentimento e na vidinha pública.
A notícia festiva e altamente política
sem ter contestação, sem polêmica ou crítica,
foi a Proclamação da Primeira República.
E foi Piracicaba, exatamente a nossa
que já sentia em si rajadas dessa bossa
que cedeu o civil primeiro Presidente.
Os nossos cidadãos ciosos da liberdade,
puseram-se à vanguarda em favor da cidade
dando vazão à fé no governo nascente.
Gloriosa primazia e especial deferência,
Prudente de Moraes galgando a Presidência,
um filho cultural desta Piracicaba.
Honra insigne, decerto, a orgulhar este solo,
pois foi quem o embalou em seu cívico colo,
foi índio deste mato e pagé desta taba.
Não há como deixar neste curto resumo
cuja pobre autoria, ousadamente, assumo
o nome dos mortais ilustres desta história.
São muitos, grandes são, falta fôlego e engenho
para contar aqui o seu cívico empenho,
para um pouco mostrar de sua eterna glória.
Reporte-se o leitor ao Manual do mano
para certo saber o piracicabano
nome que dignifica o rol desses ilustres.
Política é uma escada arrojada e comprida,
esses homens talvez (a imagem não tem vida)
o mesmo apoio dão que à escada os balaustres.
Que glória para nós termo-los no Congresso
onde, só homens de bem deviam ter acesso!
Tivemo-los, eu sei, empenhados e justos.
Intendente, prefeito, alcaide, executivo
é tudo uma só coisa - o pensamento vivo,
o deflagrar de ideais valorosos e augustos.
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