Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos

Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos
Lino Vitti- Príncipe dos Poetas Piracicabanos

O Príncipe e sua esposa, professora Dorayrthes S. S. Vitti

Casamento

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Bodas de Prata

Bodas de Prata

Lino Vitti e seus pais

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Lino Vitti e seus vários livros

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Bisneta Alice

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BISNETA ALICE

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O Príncipe agradece a visita e os comentários

60 anos de Poesia


segunda-feira, 30 de julho de 2012

PATATIVA DA TABELA


(foto aérea de Charqueada  http://www.camaracharqueada.sp.gov.br)


ALGUMA CRÔNICA (LXXXI)

Lino Vitti

        Na localidade chamada Tabela de Recreio, em distrito do Município de Charqueada, fica o bairro Santa Luzia, onde tem moradia um poeta   chamado José Birollo. O Birollo me conheceu , ou melhor , me conhece, desde os longínquos tempos em que detinha no “Jornal de Piracicaba” uma coluna denominada “Prato do Dia”, onde extravasava eu todo o meu pendor pela crônica, de modo especial aquelas que falavam da roça, dos tempos da infância, das pessoas e famílias  conhecidas então, ao lado de uma verdadeira louvação das coisas e personagens roceiros . O nosso poeta de Santa Luzia lia tudo quanto eu desovava naquelas crônicas, de modo especial quando focalizavam a roça, seus animais, suas aves, seus sitiantes e não há de ver que depois de tantos anos de ausência de “O Prato Do Dia”, o Birollo, que muito o apreciava, mesmo não sendo nenhuma macarronada,  me cotuca a saudade com uma poesia de sua lavra, num estilo caboclo, rememorando tempos idos. A última por ele remetida é assim, transcrita em linhas seguidas, com a devida sinalização separando os versos e as estrofes;
        “Bairro Santa Luzia, 03-08-200l – Para o aniversário de Piracicaba. – Hoje eu levantei cedinho| e fui revirando a memória| antes qud de tudo esqueça| um pedaço da minha história| guardado em minha cabeça.|| Eu naci em Pau D Alhinho| num ranchinho de sapé |perto da capela e de uma mina| no sítio do vovô José | e da vovó Catarina.||  De noite o salto roncava, | quando acordava se ouvia| na casa a gente arrepiava |parecia que o mundo acabava | de medo a criançada tremia .||  Cresci e o medo acabou | me lembro desde menino | aquele rio que me assustou | era lindo e maravilhoso| quando havia Festa do Divino.| Meu prazer nunca se acaba | de ver a Noiva da Colina | nossa linda Piracicaba | que conheci e passeava| quando ela ainda era menina. || Depois fiz a morada | ao lado da igreja Bom Jesus| aquelas árvores plantadas | para deixar a Casa de Deus emfeitada | passaram por minhas mãos. || Mas um pouco do que fiz | nessa linda cidade nossa  | Eu,  Luiz, Toninho e Beatriz | que vinte anos de feirante | trazendo frutas e verduras da roça.||  Da banca do Birollo na Feira | prá quem tiver recordação | a nossa gratidão verdadeira,| o nosso muito obrigado | e um beijo de coração, || Quero homenagear a Lino Vitti | poeta da minha simpatia | moro aqui no Jardim Elite ,| bairro de Santa Luzia .|| Em dezembro faço oitenta anos |mas não esqueço minha oração | a Jesus, Maria, José |  que livre a juventude  do engano | e aumente a nossa fé. || Viva a família do nosso prefeito Machado,| os jornais da terra famosos| oo nosso Bispo Eduardo | e nosso Pai do céu Amoroso | nos mande um futuro formoso”.  – aa) José Birollo e Maria Aparecida M. Birollo.” 
           Muito bem, patativa de Santa Luzia, aí fica seu poema, com os agradecimentos do “príncipe da poesia de Piracicaba”. Algum dia, Deus querendo, vou tomar um cafezinho  no seu “ninho”entre árvores e flores. Até lá.  

sexta-feira, 27 de julho de 2012

BODAS DE PRATA DO JOÃO



ALGUMA CRÔNICA (LIV)
  Lino Vitti

Que João é esse que o cronista pretende focalizar nesta crônica de hoje? Que importância tem na vida piracicabana esse João, dono de um nome tão comum é verdade, mas que tem como donos também o Apóstolo amado de Cristo e o famoso João Precursor e que por amor de Cristo não titubeou em ter a cabeça decepada pelo Rei e Pai de uma sinuosa bailarina que pretendia levar o profeta João ao pecado da luxuria e da negação da fé, o  anunciador de Jesus ?!
João é ainda o nome do Santo Fogueteiro do Brasil, fazendo parte da tríade homenageada a cada 24 de junho, como sabemos todos com fogueiras e rojões denunciadores da fogueira do amor a Deus e do rumo estrondeante dos pré e pós anunciadores do Filho do Homem. João é ainda o prenome do Papa reinante. De tal sorte que o João por mim lembrado aqui tem a precedê-lo um rol de Joãos muito bons, santos, mártires e papas! Pra quê outra melhor companhia?
O João desta crônica é meu grande amigo, tenho a felicidade de haver-se ele tornado meu "primo", casado com a prima legítima Brígida Stênico, que é f ilha de minha tia Carolina Vitti, irmã de meu pai. O João desta crônica além de amigo e parente chegado é meu  protetor literário, pois (ele não gosta que eu publique estas coisas, mas que vou fazer se chegou uma oportunidade?),pois teve a grandeza literária de se responsabilizar pela financiamento de livros meus, contribuindo para a sua publicação.
O João desta crônica é um dos pioneiros da indústria metalúrgica de Piracicaba e Região sendo ainda eminente industrial que teve a coragem e o patriotismo de mudar o seu complexo metalúrgico de um centro citadino e transportá-lo para uma zona rural, onde a possível poluição não perturba como na cidade a vida e a cidadania e a saúde das pessoas, do ambiente, da natureza.
Aliás o João desta crônica é uma capacidade intelectual que se declara totalmente defensor do meio ambiente e amigo do meio ambiente roceiro, em cujo seio vive muitos dias de sua afanosa vida de industrial. O João de que vos falo adora a vida, a paisagem, os dias e as noites da roça. É como eu, poeta da natureza,  embora nem sempre escreva em folha de papel o amor que ele tem à natureza e não registre em sonetos e poemas a poesia encantadora que lhe vai na alma de caipira. Mas sempre o ouço tecer os melhores “versos orais” a um pôr-de-sol assistido do terraço de sua casa, a um despontar do sol contemplado da janela de seu quarto, de um céu estrelado examinado no sossego de um quintal de casa da roça, de um trilar de pássaros em seu bonito e produtivo pomar, de um piar longínquo dos nambus que vivem nos canaviais vizinhos, de um cacarejar de galos e galinhas campestres acordando a vida da gente de sítios e fazendas, de um surgir maravilhoso e sentimental de uma lua cheia que vem espiar o João contemplativo repousando na rede embaladora e feliz, do João que não se cansa de enaltecer-me toda a poesia e encanto que ele encontra em sua moradia roceira.
O João desta crônica entende melhor do que qualquer psicólogo ou médico da necessidade de se unir trabalho e descanso, de se unir vida da roça e vida da cidade, de se amar o rumor da urbe e a riqueza ambiental do silêncio do campo, de ser industrial vitorioso e esposo e pai amorável, de apontar, como pai exemplar, o caminho certo e feliz do futuro para aqueles seres que vieram enriquecer-lhe o lar, porque o João de que vos falo nesta crônica, não é o João Ninguém, pelo contrário é o grande João Alguém que reparte a sua felicidade e a sua vida com a carinhosa esposa e os encantadores filhos, a ponto de eles mesmos haverem preparado esta festa em homenagem ao esposo e pai.
A Festa das Bodas de Prata de João Otávio de Mello Ferracciú e Brígida Stênico. É esse o João desta crônica, a que a amizade, o dever, e a gratidão me obrigam a escrever, como minha pobre contribuição para a maior alegria dos “noivos” aniversariantes. Felicidade, e só! 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

MEU AGRADECIMENTO


               
ALGUMA CRÔNICA ( LXXIX)
 Lino Vitti)

                  Em crônica anterior comentei o assunto  “gratidão” . Dizia da necessidade de todos procederem  com a   manifestação desse gesto sempre  que por qualquer motivo  fossem honrados ou dignificados com outro gesto, desde que recebedores de  um benefício, social, moral, espiritual , físico  ou cultural, formas diversas de que a sociedade faz uso para outorgar benefícios dessa ordem.   De qualquer forma ,  o dever de sermos gratos  é uma constante necessidade  humana , para que tudo caminhe nos eixos  e no ordenamento  das relações  entre gente e coisas.
                   Recebi, em dia aprazado de agosto, um Sábado feliz de minha vida, embora o mês, no conceito popular e folclórico, seja  de expectativa contrária,  recebi, repito, uma honraria de parte do Município de Piracicaba, mais precisamente da sua Secretaria da Ação Cultural, concedendo a “Medalha de Mérito Cultura “Prof. Olênio  de Arruda Veiga “, instituida par premiar aqueles cidadãos piracicabanos  que se tenham destacada  na  disseminação  da cultura entre os seus conterrâneos  ou mais amplamente , em áreas superiores, como do Estado ou do País.
                    Confesso-me humildemente surpreendido com a honraria, pois  entendo  que apesar de minha contribuição  à cultura geral de Piracicaba, outros existem  de maior trabalho e projeção dignos de a ela fazer jus, mais do que este singelo servidor da poesia , do jornalismo, da literatura através de crônicas e contos, quiçá com um currículo bem mais avançado  do que este  combativo lutador da cultura desta terra  de inegável memória  artística e  cultural.
                      Foi pois  à sombra de tais idéias que recebi das mãos do prefeito José Machado,  um insigne protetor e incentivador da cultura piracicabana  a medalha  criada para tão  alta finalidade , autoridade máxima do município que se dignou comparecer ao ato  dignificando este  mero cultor da arte literária , de tantos integrantes  entre nós. O que  sem dúvida representa muito e tanto  para quem tem o prazer de servir  a essa distinção que a vida oferece aos que  a ela se dedicam.
                     Ser poeta é um privilégio de poucos. Ser homenageado tendo como motivo  uma intensa divulgação da poesia é outro maior privilégio . Por isso , a alegria  de receber a honraria , em singela festa onde compareceram  pessoas gradas, autoridades eminentes, como o presidente da Câmara de Vereadores, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico, o Secretário Municipal da Ação Cultural, o afinado coral  de Santa Olímpia, sob a batuta da  sua competente maestrina, jogral de jovens da UNINEP,  que declamaram, juntamente com  uma excelente declamadora cujo nome me foge à memória de  idoso, várias poesias de minha lavra, não faltando ainda a presença em espírito do Presidente da Academia Piracicabana de Letras e o orador  do IHGP, professor Elias Salum.
               Vejam vocês que se entre gente desse quilate, não seria para Lino Vitti estourar de satisfação e emoção e assim sentir-se, dainte de tão alta representatividade, mais digno de receber a ínclita Medalha  de reconhecimento cultural. E mais que tudo, ainda porque  perante  aquela  platéia de eminências, dirigidas pelo anfitrião, meu amigo poeta  Ésio  Pezato ,
que desfiou  a síntese da vida  e participação cultural de  Lino Vitti, senti-me elevado  a emoções sem termo , quase arrebentando o coração do  velho.
                Paro por  aqui. Antes, porém, muitíssimo obrigado que só o que sabemos dizer em tais saborosas homenagens.
     

terça-feira, 24 de julho de 2012

A LEI E A NATUREZA



ALGUMA CRÔNICA (XXX)
 Lino Vitti (sem escola literária)

            Tempos houve em que a natureza e o homem que nela vive, eram livres, vale dizer, não havia lei que lhe cerceasse  a ação, o desenvolvimento, o caminhar da vida no cumprir de seu destino. A natureza escolhia a dedo onde erguer a floresta, a charneca, o lago, o deserto. O homem se envolvia nela, numa simbiose de vivência e sobrevivência, recebendo da colega natureza a ordem para fazer as plantações, retalhando a mata virgem o suficiente para um e outro – homem e natureza – viverem contiguamente. Serviam-se mutuamente, felizes e saudáveis.
            O homem entretanto – o mais forte no caso – dotado de inteligência e vontade, ao contrário da natureza que não tem cérebro e querer, resolveu um dia acabar com o acordo firmado séculos afora, entre sua capacidade optativa e a obtusidade da inércia vegetal. Iniciou a devastação inexorável da natureza, numa ganância desenfreada de atender a seus apetites ancestrais de comer e enriquecer, não o quanto necessitasse, mas passando além, superlotando a sua burra gastronômica e o seu baú econômico.
            Muniu-se o homem da guilhotina do machado, hoje moto-serra e passou a devastar a natureza naquilo que ela tem de mais caro – a floresta. Troncos e frondes curvaram-se gemendo convulsivamente, e tombaram à sepultura do solo. As labaredas, comparsas dessa destruição, seguiram-se depois, lambendo, sôfregas, a galharia, os troncos, as folhas mortas, daquilo que fora, pouco atrás, uma floresta virgem.
            O espetáculo da mataria frondejante e, depois, da tragédia carburante de sua destruição, ficou-me gravado na retina dos olhos, por muitos anos, até que por um evento impossível de repetição, puderam os olhos, cansados da vida, verificar que, paulatinamente, nas imediações das terras natais, fora se formando uma nova mataria, sob a imponência de um glorioso eucaliptal. Vi eu que as árvores da mata e dos eucaliptos conviviam gostosamente, até que um dia o homem foi colher o que plantou, isto é, a madeira. E neste afazer, vi que as moto-serras devastadoras iam pondo abaixo os gigantes vegetais a que tinham e têm direito, ao mesmo tempo em que a mata em formação rolava abaixo, ferida profundamente pelos  robles de madeira de lei tombando arquejantes.
            - Mas pode? Perguntava-me um companheiro, que faz 60 anos pra mais, assistiu comigo aquele surgimento feliz de nova floresta.
- Pode, - respondi-lhe melancólico, - pode, porque a lei autoriza, a lei permite.
- A lei, entretanto, não ressuscitará jamais os espécimes destruídos, mesmo com a sua autoridade e permissão. Serão necessários séculos adiante para que os xororós, os coatís, as juritis, os sabiás, as saracuras, possam viver e passear sob o céu verde da nova floresta.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Santana x XV de Novembro



ALGUMA CRÔNICA (IX)

                                 Lino Vitti

Na escrevinhação cronística anterior procurei registrar resumidamente tempos esportivos futebolísticos dos esquadrões de Santana e Santa Olímpia, hoje um tanto esquecidos e ignorados apesar de a Prefeitura Municipal haver presenteado ambos os bairros dos tiroleses com magníficos campos de futebol. É interessante observar que antes, quando os próprios moradores do bairro construíam as próprias quadras esportivas, como que havia mais concentrada e amiudada manifestação futebolística, havendo como que diminuido esse interesse e essas manifestações depois que ganharam os bairros excelentes campos de futebol. Essa minha observação pode estar errada, pelo que muito me alegraria.
Relembrando pois das atividades do Santana FC, recordo-me agora de uma partida dessa equipe realizada no campo do XV de Novembro, contra o próprio time dessa agremiação de Piracicaba que representou gloriosamente o interior paulista na divisão de profissionais da Federação Paulista de Futebol, mormente, representou Piracicaba de Gatão, Idiarte, Rabeca, Picolino, Cardoso, Sato, Cardeal, Matias, Strauss, Adolfinho, etc. etc. Como era bonito o futebol do XV de Novembro, lá no quadrado verde da Rua Regente Feijó! Como havia entusiasmo, como havia dedicação, como havia esportividade! Qua tardes domingueiras gloriosas! Que torcida generosa, firme, animada pelo torcedor máximo da agremiação, o saudoso Braulinho, Braulio de Azevedo! Quantas vitórias, quanto amor esportivo! Mas deixemos esse passado faustoso do futebol piracicabano para lá, porque hoje em dia, um passado glorioso nada representa, o velho de ontem nada significa para o atual!
Meu propósito, porém, nesta crônica de saudades das disputas entre XV e Sucrerie (CAP hoje), entre Paulista e Escola Agrícola, entre Sorocabana e  Monte Alegre, não tinha esse objetivo de lembrar aquilo que em matéria de esportividade foi tão belo, tão grande, tão alegre. O que pretendia era fazer mais uma vez referência ao Santana FC., representação futebolística de minha terra natal, para relembrar uma peleja famosa (para os oitentões como eu) realizada uma noite de muito foguetório entre Santana e XV de Novembro. Não lembro bem dos nomes das equipes, apenas vem-me à memória a figura do goleiro Tóni (António) Forti, do time santanense, o herói da noite.
Não lembro bem qual o vencedor do evento, tantos anos transcorreram! Recordo – como se fosse hoje – com toda a nitidez de uma memória de 80 primaveras, que às tantas da disputa, o árbitro (parece-me que o Santim Cristal) apita penalidade máxima contra o Santana FC., para a tristeza da imensa torcida tirolesa que se locomoveu até o Estádio quinzista para apoiar os seus craques.
Expectativa geral. O Tóni, nervoso evidentemente, em passos elétricos, corria a linha do gol, de cá pra lá, de lá pra cá, bolando certamente na cachola a melhor maneira de defender a meta santanense. Nas arquibancadas e gerais, nervosismo e tristeza, pois aquele seria o gol fatal, uma vez que a partida, apesar da imensa superioridade dos craques quinzistas parece estava empatada. Se o chutador adversário acertasse o fundo das redes, seria a derrota para o Santana FC.
Bola na marca fatal, goleiro no meio das traves, craque do XV devidamente preparado para o pelotaço, destruidor de esperanças e alegrias, torcida em suspense. Santim Cristal de apito preparado para o aviso final: “chuta”... Centenas de bocas quinzistas prontas para gritar o gol da vitória...
“Prrriiiiim”... Pum!... Tóni Forti agarra e desmancha a violência do chute... Seguuuuura!! Metade da torcida vibra, aplaude, glorifica, a metade de Santana... A outra metade, estupefata, silencia de boca aberta, e grito amaciado na garganta!.
Tóni Forti, no auge da alegria, e da glória esportiva mandou a bola para lá da linha adversária, enquanto isso pulava em piruetas pela área de gol, diante do aplauso de seus conterrâneos e a tristeza do Braulinho que não tivera a oportunidade de macaquear com seus assobios, apitos, gestos e ironias, mais uma vitória de seu time.
Foi, sem dúvida, a glorificação do guarda-metas Tóni Forti do Santana FC.

sábado, 21 de julho de 2012

POETAS E POETISAS



ALGUMA CRÔNICA (VI)
 Lino Vitti

            Meu principado é grande, é generoso, é belo e divino! Há 65 anos, mais ou menos, iniciei meus passos poéticos por esse flóreo caminho da arte do verso e da rima, do ritmo e da estrofe ( ou do verso sem rima, sem ritmo (métrica) e sem estrofe como desejam muitos e muitas). Que senda maravilhosa, alegre, colorida e feliz é essa pela qual palmilham os passos aéreos dos poetas e poetisas!
            A poesia, a verdadeira poesia, não cansa, não arma barraca em meio da jornada da vida, porque o Belo jamais fenece, o caminho não finda nunca, os sonhos prosseguem porque não se desfazem ao vir da crueza lucífera de um sol de verão, ou enregelam à chegada da frigidez hibernal dos anos tardios.
            Não é digno de ser chamado poeta, ou poetisa, aquele que abandona, covardemente, o encanto dessa manifestação inamovível do coração humano. Aquele que cansou de rimar, cansou de versejar, cansou de sonetar. Em questões de poesia não há aposentadoria condigna, não há salário-mínimo aceitável, não há sentar-se à beira de um barranco estradeiro para ver a caravana dos ideais, dos sonhos, dos encantamentos, passarem em demanda daquilo que é eterno, pois eterna é a poesia!
Vejo que Piracicaba é proprietária dessa caravana cultural da poesia, pois imensa é a legião daqueles que se dedicam à arte das musas poéticas. Basta ver quantos e quantos livros por igual número de versejadores, como aves pipilantes, abrem vôo por estes céus literários! Vejo eu, por exemplo, quão numerosos livros enfeitam as prateleiras da minha humilde estante, onde pousaram, vindos de inúmeros lançamentos com que nos brindaram poetas e poetisas, parecendo haverem encontrado por estas plagas culturais, - sabiás sonoros de Gonçalvez Dias – o seu laranjal predileto para desfiar seus cantos poéticos e nobres! Estaria me exprimindo bem, caríssimo trinador de versos e rimas, Ésio Pezatto, com os tropos literários aí deixados pela minha velha veia descritiva? Se não, meta você  a cachola artística a funcionar e descubra, formas e figuras mais adequadas a retratar essa plêiade versejante que honra, dignifica, encanta e genializa a nossa terra!
Tão ricos somos de poetas e poetisas (vêem vocês que insisto na aplicação do termo poetisa, porque não admito se denomine uma representante do mundo feminino com um esdrúxulo vocábulo masculino, quando é tão lindo e sonoro o “poetisa”!), tão ricos somos de poetas e poetisas – repito – que nosso diários jornalísticos nos reservam páginas inteiras semanais para a divulgação da poesia piracicabana. Temos até mesmo um mensário, estufado de páginas, do Clube dos Escritores que nos cumula de poesia, doméstica e forasteira, tudo numa demonstração que Piracicaba mantém a tradição encantadora de sustentar a arte intelectual da poesia, tão importante na vida da humanidade que gregos e latinos – povos mais cultos da história – mantinham deuses e deusas protetores e incentivadores dessa sublime manifestação do  espírito.
Ouso afirmar que sem ela – a Poesia -  este escrivinhador não seria nada na vida, pois tudo quanto de bom e indispensável à uma existência condigna e feliz, floresceu provindo desse envolvimento em que me engajaram a beleza das estrofes, das rimas, mormente do Soneto, cultivados com amor e dedicação, entregues com carinho e prazer à leitura e cultura de milhares de pessoas que sentem no âmago de si mesmas, muitas vezes ocultas, outras tantas manifestas, as maravilhas de ler e entender a vida como uma imensa Poesia.
Avante, então, meus súditos poéticos! Nada de esmorecer diante das exigências dos anos e das dificuldades do viver. Relegar os sonhos, esquecer os encantos desse fantástico mundo em que vivem os bardos, não é de espíritos empreendedores e lutadores. Que vençam os poemas, que cantem as estrofes, que tilintem as rimas!   

quarta-feira, 18 de julho de 2012

O SEMEADOR MÁRIO ORSI



ALGUMA CRÔNICA (XX)

Lino Vitti

            Não faz muito tempo, por uma gostosa casualidade, dessas que são muito raras (raríssimas escrevem os  bons literários) na vida de qualquer um, reencontrei um inesquecível e valioso amigo, colega de serviço público, responsável sem dúvida por aquilo que sou hoje: aposentado municipal do poder legislativo.
            A grata casualidade, embora ocorrida em local não muito grato qual sejam os corredores de um hospital, serviu para um rápido bate-papo e a evocação de algumas das incontáveis recordações de tempos idos, de tempos vividos lá atrás quando ainda não botávamos a atenção ao número de anos de vida, nem se era obrigado a, volta e meia, correr seguidamente para os tristonhos corredores de santas casa, hospitais, unimedes e ----- , pavorosos para quer que seja.
Embora local tão impróprio para encontros saudosos, aquele momento me fez fugir do presente e da tristeza de um hospital, para voltar, num fantástico galopar do corcel da saudade para os dias da juventude, vendo o amigo sorridente e prestimoso apresentar o “desempregado” Lino Vitti ao então prefeito Jorge Pacheco Chaves para uma vaga de bibliotecário na Biblioteca Pública Municipal que seria para o futuro “príncipe dos poetas piracicabanos”, digamos assim, o pasto adequado para as suas vindouras elucubrações no mundo do jornalismo, da crônica e da poesia. Quereis melhor função para um sonhador do que tomar conta e distribuir livros nesse curral sublime de intelectualidades e estudiosos como é uma biblioteca onde repousam milhares de outras intelectualidades do além, já passadas por este mundo onde deixaram luminosidades imorredouras e astrais?
            Cidadão, ou melhor servidor público no exato sentido do termo – MÁRIO ORSI – é o nome do amigo responsável pelo encaminhamento deste “príncipe das arábias”. Como Mário Orsi sabia tratar as crianças leitoras! Em suas mãos repousava o empreendimento educacional infantil da biblioteca. Ele, diria eu, era um semeador de cultura. Distribuía as sementes valiosas e gloriosas dos livros à garotada que, em bandos álacres, como verdes tuins chilreantes que conheci nas matas da minha infância, acorria a sua seção bibliográfica.
Que beleza, Mário Orsi! Eu pensava ao ver aquela algazarra e estudantes infantis que você também virasse uma criança ( e olha lá que não estou muito errado), entrosando-se totalmente naquele papaguear e querer saber, numa demonstração divinal de que o mundo é belo, e encantado, quando as mesmas pessoas como você, o fizerem encantado o belo.
Já pensou, Mário, quantas crianças você transformou em gente, graças as sementes que você semeou no coração e na inteligência delas?
Eu acho que elas se encontram felizes hoje, como eu me encontro, e como você deve se encontrar por haver sido um semeador tão bondoso, tão responsável, tão amoroso. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

CIDADÃO SALTINHENSE



ALGUMA CRÔNICA (XXXVIII)

Lino Vitti (Aposentado da Câmara
Municipal de Piracicaba)

Em 12/12/2000, graças à iniciativa do Vereador José Cherubim Negretti e a unânime aprovação da Câmara Municipal de Saltinho, fui agraciado com o título de “Cidadão Saltinhense “. Na oportunidade, agradeci à homenagem com as seguintes palavras:
“Saltinho – ex-distrito de Piracicaba – entra gostosamente nos escaninhos da minha memória porque muitos fatos e pessoas me ligam à sua história oficial e não oficial.
Sabem todos quantos me acompanham a vida através de meus escritos na imprensa, de meus livros de versos publicados, do aparecimento de seu nome nos noticiários do poder legislativo de Piracicaba, estar eu profundamente ligado às atividades administrativo-políticas da minha cidade natal. E nesse caminhar por mais de 35 anos pelos meandros dos poderes públicos, ao lado de muitos e competentes prefeitos, de inúmeros e compententíssimos Vereadores, de inteligentes companheiros de trabalho, cheguei ao fim do picadão da vida, integrado fatalmente no conhecimento das Leis Maiores – Constituições Federal, Estadual, e Lei Orgânica Municipal – e das Leis Menores, decretos, resoluções, e outro atos que regem  nossa vidinha municipal.
E nesse afazer legislativo encontrei, advinhem quem? Gente supimpa, especial, gente querida, gente de Saltinho. Por exemplo: Domingos Cassano, empossado em 1948, reinício das atividades camarárias pós regime ditatorial; lutador, trabalhador, defensor de seu Distrito Saltinhense. Em seguida, quem vislumbro lá atrás, nas dobras do passado? Nada mais, nada menos do que João Zandoná Sobrinho, o lavrador, o viajante, o goleiro do Saltinho FC, o vereador da Câmara Municipal de Piracicaba,  representando condignamente Saltinho. Mais adiante, em sua humildade de cidadão saltinhense, eu vejo o Sidane António Sturion, vereador da Câmara Municipal de Piracicaba, outro feliz e condigno representante do Distrito de Saltinho. Prosseguindo a pescaria de representantes especiais da Vereança Piracicabana fisgo nas águas do passado a figura de Lúcio Ferraz de Arruda, orgulho da Casa de Leis piracicabana, orgulho, hoje, deste jovem município, a quem dedicou, como na Câmara de  Piracicaba, seu saber e seu trabalho. A safra generosa de homens públicos com que Saltinho contribuiu a Piracicaba político-administrativa, não pára aí. Vou buscar na história de minha terra, vou buscar na Câmara Municipal de Piracicaba, à qual servi com prazer, capacidade e civismo, como o fez  com capacidade, prazer e civismo o saltinhense que vou citar, – Pedro Salvador –, outro representante da estirpe política de Saltinho, engajado também na luta para a emancipação política do antigo Distrito.
No poderia, entretanto, encerrar estas linhas, sem relembrar que Saltinho contribuiu ainda com a inteligente Suely, a serviço das atividades funcionais da Câmara Municipal de Piracicaba, minha colega de trabalho na Diretoria administrativa do órgão público, onde se aposentou em alto cargo e a cujo trabalho se dedicou com empenho, capacidade e valor.
Voltando mais no tempo, com que alegria e saudade, recordo uma personagem histórica da vida de Saltinho, com a qual tive agradáveis palestras, ao qual como balconista de Bar e Restaurante – então chamada Stênico – servi cervejas, vinhos, almoços, picadinho (ah! como era delicioso esse prato!), tendo oportunidade de saber dele o quão grande era o desejo dos saltinhenses de então, de progredir, de prosperar, de ser um dia Município, como hoje o é.
José Hipólito, que me ficou na memória com o belo apelido de pepino, pequeno José, em italiano, conviveu com seu ônibus (jardineira!) com a vida de Saltinho e de Piracicaba, pois era seu mister generoso levar saltinhenses para minha cidade, a fazer compras, a consultar médicos, registrar crianças, depositar dinheiros (mil réis e não o tolo do Real), a casar, a passear, e especialmente a saborear um supimpa almoço no bar do Stênico ou a engraxar sapato no Righetto, ou  jogar no bicho com o saudoso Gildo. Meu Deus, como o tempo voa! São 63 anos que essas coisas aconteceram, mas neste momento, em que recebo tão grata homenagem do povo de Saltinho, não permitiriam as minhas recordações deixasse eu de tirar do grande baú da saudade, esses fatos, essas pessoas. Tudo porque estamos ligados, eu e elas, à história desta cidade.
Talvez tenha surgido daí minha vontade poética de escrever um hino para Saltinho! Esses pedaços da vida exigem. Esse povo merece. Não me seria lícito esquecer de Saltinho, como deve ser encantador para vocês de hoje, através do nobre Vereador José Cherubim Negretti, e da repartição unânime da casa, conceder-me tão bela homenagem.
Antes de findar esta perlenga saudosa, sou obrigado a registrar aqui o nome de um cidadão saltinhense que entrou gratamente em meu viver piracicabano. Trata-se do José Gustinelli, Juca, na intimidade. Que gente grande (não no corpo) mas na inteligência tem Saltinho. Juca, lavrador, é poeta, escritor, cronista. Dono de um livro de poesia. O que podemos esperar mais desta terra dadivosa, encantadora, generosa, mãe de tantos ilustres filhos, e amiga muito especial deste velho piracicabano de Santana.
Que posso mais eu acrescentar a estas linhas de recordação e saudade?
Nada, absolutamente nada. Muito obrigado, sim! E só.
 Pedir desculpa se alguém ficou de fora da minha lenga-lenga. Culpemos a comadre memória!
E agora, o Prof. Vicente Gimenes, o homenageado músico, autor do canto, que fale pelo que lhe toca.”

domingo, 15 de julho de 2012

COGUMELOLÂNDIA


            
ALGUMA CRÔNICA (XXXIII)

Lino Vitti (Trentino-Tirolês abrasileirado)

O vocábulo com que demos título a esta crônica – COGUMELOLÂNDIA – evidentemente não deve constar no dicionário, pois é uma pura invenção minha. Juntei o termo cogumelo e lândia, aquele que vocês sabem do que se trata, este – lândia – é um acréscimo vocabular que significa terra. Por exemplo, Cafelândia, é a terra do café, Analândia, a de Ana, Cinelândia, a terra do cinema e assim por diante.
- E que tenho a ver com isso, perguntará, enfastiado, o leitor...
“Enfastiado leitor”! Por que, seu cronista de meia pataca? Ora, enfastiado porque já são 55 anos que as gerações leitoras dos jornais da terra são obrigadas a ver em suas páginas (ver e não ler, que este é um ato de bravura particular), o que o iludido cronista desovou e vem desovando pelas colunas do “Jornal de Piracicaba”, do “Diário de Piracicaba, da “Folha Piracicabana”, da “Tribuna de Piracicaba”, em prosa e verso, no círculo do tempo de vida de cada um desses jornais que honraram ou ainda honram Piracicaba. Muito doce ou muito amargo enfastia ou enfastiam. Daí a derivância “enfastiado”.
Deixemos de lado porém essas coisas de croniquismo e passemos ao que verdadeiramente interessa: o cogumelo, morador feliz da cogumelolândia. Primeiramente vamos saber o que diabo quer dizer o vocábulo. Para tanto, só com a ajuda do Aurélio Buarque, dicionarista, que me bota no seu livro “Pequeno”, entretanto, muito grande; “Cogumelo”- vegetal criptógamo, destituído de clorofila, fungo.” Não deu para entender nada. Quem sabe ( a não ser os botânicos!) o que venha a ser “criptógamo” ou o que queira dizer clorofila? Entretanto, já mexi em vespeiro, sinto-me, não só na obrigação, mas no dever, de voltar ao dicionário, ao “Pequeno”-grande dicionário. E lá está: “Criptógamo”, “planta criptogâmica”. “Criptogamia”, estado ou caráter de planta que tem órgãos sexuais ocultos”.
Paro por aqui, meus ilustres primos que inventaram levar essa confusão transcrita acima – o cogumelo – para proliferar em sua propriedade rural. E em condição produtiva! Para fins medicinais!
Vejam só vocês, velhos lavradores de décadas atrás, cuidando de café, arroz, milho, algodão, feijão, batatinha, metidos agora neste esfusiante passar do tempo a cuidar daquilo que se chama “criptógamo” e não tem “clorofila”. O primeiro vocábulo já escrevi o que seja. Este segundo, a “clorofila” é mais simples, pois só quer dizer que não tem a cor verde.
E não mesmo, conforme pude ver com estes olhos que não quero que a terra coma. Pois é triste deixar os vermes comer esta luz, duplamente encantada, que sai do alto da testa, para contemplar tanta coisa bonita da vida, da natureza, das pessoas! O cogumelo, sem verde, é feio e incolor, confundindo-se com a cor terrosa da areia da cor de burro quando foge.
Eu vi, porém, a “cogumelolândia”, vi a técnica que nela se usa, vi os cogumelos surgindo sem graça do solo árido, sem folhas, sem galhos, sem flores, sem nada. Parece um punhado de espuma, brotando da terra.
Quando menino da roça, em andanças por cafezais, matos, margens de ribeirões, examinando troncos enormes de árvores abatidas pelo vendaval ou pelo machado (manarote, em dialeto, aproveitado pelos patrícios para designar o prefeito eleito Machado – manarote), encontrei muitos cogumelos selvagens, isto é, moradores do mato ou da roça. Não gostei muito do feitio desses cogumelos, diria civilizados, que os que já não cuidam mais da lavoura tradicional, estão industrializando. Entretanto, devo confessar que admirei esse novo processo de “lavoura”, que não deve dar trabalho de vulto, mas cuja finalidade é um benefício para a humanidade.
- Como? E por quê?
É isso que você que saber, leitor? Como e porque e criação do criptógamo, sem clorofila, vai virar remédio. Sim, remédio para combater as malvadas doenças (não fiquei sabendo qual, que a história não chega a tanto), não pelo governo brasileiro, mas pelos japoneses que sabem transformar essa coisa balofa, sem clorofila – o caipira cogumelo – em algo estupendo, no combate e cura a males que soem arrasar a saúde.
Meus parabéns, gente sabida. Chega de calejar mãos na enxada, no podão, na foice. Vamos criar cogumelos. Dão menos trabalho e são mais úteis ao homem.

sábado, 14 de julho de 2012

CHEGANDO AO FIM



ALGUMA CRÔNICA (XXXIV)

Lino Vitti – Membro da Academia Piracicabana de Letras

Você encontra as pessoas amigas, parentes chegados ou distantes, mesmo desconhecidos, em filas de Banco, de Caixas, em qualquer espaço onde a vida costuma castigar o ser humano com o chicote (látego, diriam os poetas) das bichas esperando, esperando, atendimento, e lá vem inevitavelmente a clássica exclamação: “como o tempo passa”!
Sim, passa! E com ele a vida se demilingüe, afina cada vez mais e logo, logo, esse barbante delgado que são os anos que passam, arrebenta. E como não pode deixar de ser, arrebenta pelo lado mais fraco: eu, você, nós, míseros (e põe míseros nisso) mortais.
O possível leitor deste escriba, lembra? Lembra da parafernália publicitária, digna de apavorar a humanidade, com que se falou, se escreveu, se televisionou, se conversou pelo telégrafo das bocas, sobre a aproximação, a chegada, a entrada,... e a saída depois, desse Ano 2.000? previsões bombásticas e fantásticas! Previsões dolorosas e trágicas! Previsões eufóricas e extravagantes! O fim-do-mundo (mile e non piú mile dizia a mama, sabida e cheia de Fé!) estariam chegando para limpar da face do universo este Planeta indecoroso, sujo, vagabundo, imoral, cético e desdenhoso em que se transformou esta bola gigante que se denominou Terra!
(Explico: o provérbio, em dialeto tirolês, que minha saudosa mãe proferia com relação ao biblicamente declarado Fim-do-mundo). Quer dizer o anexim maternal que o Mundo – a Terra – (logo o Planeta temporário que nos sustém) duraria ou durará mil anos, e possivelmente mais mil, sendo problemático venha a durar mais do que 2.000 anos!
O tempo passa! Chegando ao fim está o ano 2.000. algumas semanas é um pulinho só. 2001 entra logo em cena para gáudio de muitos, para desespero e tristeza de outros. Os “muitos” – crianças, jovens, madurotes, gente toda que espera alcançar os 2010, 2050, ou mais – estão felizes porque enxergam à frente muitos dias de vida, portanto nada de preocupações, de contar anos pelos dedos, de pensar em “fim-de-mundo”, de olhar para os números das folhinhas ou cabeçalhos de jornais ou mostradores de relógios, internetes ou computadores, que isso é coisa de pessimistas!
Esse “chegando ao fim” das cabeças que descem a rampa da existência com o ocaso do sol na cara, não deve ser levado em conta pelas outras cabeças que, ao invés de descer, sobem a rampa da vida, e enfrentam de cara o glorioso sol da manhã, da manhã ou do meio-dia e meio (este é o certo, e não o meio-dia e meia – qualquer dia explico porque – com que a Globo encheu os cérebros sociais e gramaticais) da feliz existência vital.
Quer alegre os mais aquinhoados de vitalidade, quer aborreça os curvados pela idade, eu só sei dizer que o ano 2.000 agoniza. Costumam os caricaturistas representar o ano que se finda com a figura de um velho alquebrado, caminhando ao lado irmão de uma bengala, barbaças brancas e brancos cabelos longos brotando de sob um velho chapéu. É a imagem que chega ao final de tudo. Por outro lado, o ano novo desenham-no num papel um menino saudável, gorduchinho, todo sorrisos, todo felicidade, todo esperança de longa vida. O velho representado, porém, nada mais é do que o mesmo moleque todo lampeiro que se esbalda em vitalidade e felicidade, no ano anterior representado. Esses caricaturistas sabem muito bem enganar e ensinar o mundo com suas significativas charges, porque o mundo na sua variedade social, ética, cultural, religiosa, racial, aceita sorrindo ou chorando aquilo que o lápis coloca no papel.
De qualquer forma, estamos chegando ao fim de mais um ano, queiramos ou não, lamentemos ou não, louvemos ou não. Fica-nos como prova inconteste de que o tempo voa, a certeza de que chegamos rapidamente à beira do tempo tumular. Que muitos, infalivelmente, não verão outros fins-de-ano, ao lado de outros muitos que chegarão ao tempo de celebrar, com encanto e euforia, o adentrar de mais uma etapa marcada na folhinha dos tempos.
Que o ano 2.000, tão famoso, correu demais, ninguém contesta, sejam jovens, sejam velhos. Essa coisa implacável, mas real, que é o tempo, ri, enquanto isso, de nossas felicidades ou infelicidades, de nossas vitórias e de nossos fracassos!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O VENTO




ALGUMA CRÔNICA (XXXVI)
                                                                     Lino Vitti

Para a antigüidade grega, latina, gálica, Eolo era nome do vento. Vento forte, aliás. Morava em cavernas, era um deus dos inúmeros deuses cultuados pelos povos de antanho. Quando fosse necessário, por exigências cósmicas do universo, o deus Eolo, cercado de seus comparsas eólicos, arrancava-se, em geral, furibundo, e desembestava pela aterra fora a gerar desgraças, prejuízos, morte. Os preferidos por essa fúria desencadeada eram os navios no oceano, os exércitos na terra. Ao tempo em que até os ventos assumiam ares de deuses, as guerras, as lutas, os combates, só poderiam mostrar-se constantes e terríveis. As tempestades oceânicas arrasavam esquadras, rasgando velas e destronando mastros e Eolo gargalhava, satanicamente, assobiando pelo cordame devastado. Na terra, os exércitos, vítimas do vento e do granizo – terrível comparsa de Eolo – sucumbiam ao fragor da ventania desbragada que os castigava com robles atirados ao solo, sobre soldados e cavalarias. Vejam aí, sintetizado pelo cronista, o que seria Eolo, por nós conhecido simplesmente como vento.
E como vento pode ser ele aragem, brisa, furacão, vendaval, ciclone.
Como brisa ou aragem vejo-o, ou melhor, percebo-o (porque vento não se vê) baloiçar as frondes do arvoredo, com tanta graça e carinho, que as frondes gemem, choram, ou cantam num musical sonorosamente grato, para gáudio das mentalidades poéticas, para a alegria da natureza que se sente acariciada por aquele ninar tranqüilo e feliz. Os pendões de flores, ou as flores solitárias sorriem em cores quando uma brisa suave, acalentadora, lhes emprestam o afago de um ninar de berço. Os pássaros e seus ninhos, ao passar da aragem, das auras ou das brisas, brincam de balanço, como se fossem jubilosas crianças nas gangorras no parque do mundo. Quando o vento, suave e caprichoso, se compraz correr pelos canaviais da minha terra piracicabana, ouçam como ele musicaliza de partituras de violino aquele roçagar gentil pelas giletes cortantes das folhas da gramínea verdejante!
Acaso vocês pararam alguma vez nesse trote infindo que é o caminhar da vida, para admirar o perpassar tímido e fugaz de uma aragem pela superfície do lago? Não? Nunca pararam? Então, caros amigos, vocês não viram nada de agradável e de mansidão. Quantas vezes, eu, mísero poeta do campo, à sombra de uma árvore ribeirinha, não descansei para contemplar o pequenino espetáculo da brisa, passeando – símbolo da felicidade – pela superfície espelhante da lagoa! E vi que ela, lampeira e encantadora, se comprazia em compor ondazinhas e mais ondazinhas, encrespando o espelho das águas, desmanchando brincalhona a mansidão em que vive a face líquida, retratando o céu azul e as brancas nuvens algodoadas que o cruzam em passeio silencioso, apenas arranhado  - o lago – pelos saltos dos espertos lambaris em sua labuta de catar alimentos.
As minhas aragens roceiras são assim. Cheias de poesia, de beleza, de alma rural!
Jamais gostei do vento zangado, como o olhavam sempre gregos e latinos qual deus furioso e castigador! É um sopro violento e destruidor. Rasga terrivelmente a vestimenta verde da floresta, deixando feridas abertas de árvores destroncadas, ninhos levados de roldão pelas mãos vingativas do vento, canaviais derribados ao solo, telhados jogados para o alto como se foram cartas de baralho. Se o Eolo furioso caminha pelo mar, é certo que se abrirão, à sua passagem, vagalhões imensos, cavando abismos liquefeitos ou erguendo montanhas de água e espuma querendo tocar o céu.
O furacão bravo leva consigo o granizo e a tragédia. Vergasta a natureza, derriba o mundo e locupleta de enchentes os vales e os leitos dos rios. Nada mais terrível do que um vento enfurecido! O homem, dito rei da terra, se amesquinha em anão, em pigmeu, diante da brutalidade com que o ciclone costuma atacá-lo. Quem pode deter a força ciclópica do vento transformado de súbito em divindade eólica, em tufão incontrolável?
Há porém, brisas santas, maravilhosas! É aquele sopro íntimo e profundo que refresca a nossa alma e alivia as fogueiras malditas que queimam dentro de nós! Há tempestades, porém, mais terríveis e devastadoras! São aquelas que, de quando em quando, rugem no coração humano, devastando muitas vidas e muitas felicidades!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

MILAGRES DO TEMPO



ALGUMA CRÔNICA (XXXIX)
  
  Lino Vitti – Acadêmico de Letras

Num de seus monumentais romances o escritor famoso e fabuloso, Eça de Queiroz, fã inconteste do qual eu sou por haver ele presenteado a humanidade literária com o seu livro, não menos monumental, “A Cidade e as Serras”, por entre imorredouros parágrafos de seu inimitável estilo, ressalta as maravilhas do progresso de sua época.
O personagem da história,– o Jacinto – abastado e enfartado pela abastança que se lhe acumulava em prosperidade e bem-estar entre as ricas paredes e não menos ricos quartos e salas de sua vivenda citadina, acabou por ver-se engurgitado pela riqueza e prosperidade. Cansado da vida urbana, repleta de deveres e etiquetas de uma sociedade que só via diante dos olhos o que a cidade oferece em conforto e em cultura, o herói do romance deixou-se um dia se convencer por um amigo campestre, das belezas e encantos, da saúde e do prazer, do sol e do verde, das pompas, dos alvoreceres e pôres-do-sol, singelamente encafuado no seio das serrarias e matas, dos caminhos lamacentos e ribeiros sussurrantes, das  brisas passageiras carregando em asas invisíveis, o perfume das flores silvestres que o campo dispersa pelas campinas, matagais, jardins e pomares.
E Jacinto, um príncipe da civilização, amamentado pelo progresso, num dia de chuvinha fria e irritante, empurrado pelo Zé Fernandes, amigo e cria das quintas maravilhosas de Portugal, lá se foi, desajeitado e temeroso, para o campo, para a vida (para ele até então horrorosa) das serras, deixando como derradeiro sinal de sua existência atormentada pelo progresso citadino, uma velha vitrola em movimento, cujo disco enroscado ficou a repetir horas seguidas, dias e noites, no silêncio do casarão, agora solitário e abandonado, esta frase: “Quem não admirará as maravilhas deste século”?... “Quem não admirará as maravilhas deste século”...
Imaginem os senhores o que poderiam ser as maravilhas dos fins de 1.800, vésperas de 1.900, que chegaram a enfartar o Jacinto ricaço do Eça de Queiroz, em comparação com as que hoje locupletam o mundo de modernidade, de conforto, de beleza, de ciência, de tecnologia, jogando as nossas mentes fantasiosas para séculos adiante? Calcule-se o que não haveria de escrever o preciosíssimo escritor português, hoje, neste início de milênio que promete mais e maiores “maravilhas”, imensamente espetaculares diante da roufenha vitrola do decepcionado Jacinto a berrar engasgadamente, na solidão da sua mansão dos Campos Elísios: “Quem não admirará as maravilhas deste século?”
- Caríssimo leitor. Volte comigo para o título desta crônica. Que lê você?
“MILAGRES DO TEMPO”. E para justificar esse título que faz você supôr uma descrição minuciosa dos milagres de hoje, numerosos e espetaculares, eu me ative a mencionar, reduzida e vagamente, um episódio do delicioso “A Cidade e as Serras”, do genial romancista luso.
- Mas será preciso, acaso, que a minha crassa ignorância das maravilhas e milagres do Século Vinte, seja doida de desfilá-las diante de sua perspicácia e conhecimentos que tem do universo, da ciência e tecnologia, progresso e prosperidade desta Idade de Ouro da Humanidade?
- Ora, Elias, Erasto, e todos quantos manejam a pena a serviço do progresso e da comunicação, será que não seria muito eu, último mortal na ordem das coisas, ficar repetindo, como a vitrola rouca do Jacinto: “quem não admirará as maravilhas deste século?”, Século 19, século 20, Século 21, tudo é a mesma coisa!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

E DEPOIS, ELIAS?



ALGUMA CRÔNICA (XXXII)

                                                           Lino Vitti (Príncipe dos Poetas de  Piracicaba)

       E depois, Elias Salum? O que sucederá, depois que as pálpebras fecharem à luz, aos anseios, aos ideais, aos sonhos, aos encantos da vida?
É terrível o fim de tudo! Tudo o que os olhos vêem, tudo o que a cabeça pensa, tudo o que os passos percorrem, tudo o que mãos e braços praticam, tudo o que a boca profere, louva, critica, abençoa, canta, aconselha, tudo o que os ouvidos escutam e absorvem, todos os ruídos do mundo, todos os belos discursos, as palavras carinhosas, a voz dos familiares, dos amigos, das  pessoas angustiadas, dos cantos dos pássaros, dos musicais através dos palcos, da tevê, dos recitais... Será a mudez eterna! Tudo o que o tato afaga, acaricia, mima, consola, incentiva!
Tudo, tudo mesmo, será absorvido pela transição da vida. E desaparecerá fatalmente, inarredavelmente, terrivelmente!
Quantas vezes , em momentos de fuga, num êxtase extra terreno, fico a meditar se valeu a pena todo esse lutar constante e incessante pela vida, pelo bem, pelo amor, pela felicidade, pela dedicação, por dias melhores para si e para os seus! Que trabalheira feroz e imensa é a vida, é este suceder de dias em direção inexorável à noite próximo-futura, a essa última hora dolorosa que fechará cortinas da vida e abrirá as cortinas da morte! Depois desse gesto tétrico, desse anoitecer sem aurora, encontraremos Luz ou encontraremos Treva? A Fé nos diz que Luz! A descrença nos diz que o Nada! E enquanto não se desvenda o mistério post-mortem, ficamos nós a tremer sob o vir do desconhecido, sob o desconhecido encontro da eternidade, sob a interrogação inarredável do depois.
Muitas outras vezes, super-otimista companheiro Salum, estou quase a pensar como o Cecílio, isto é, descrer de tudo e de todos, da vida e do mundo, acreditar apenas no momento presente, viver a hora que passa, ignorar o passado e o futuro, adotar o panteísmo e amar, até o engurgitamente, só o que se vê, só o que se apalpa!
Minha vida inteira foi distribuir palavras, palavras, palavras, através de livros, jornais e conversa. Minha bagagem palavresca (escrita ou falada) é tremenda, mas consoladora. Hoje, entanto, ao meditar sobre o DEPOIS temo, tristemente, que toda essa parafernália escrita e disseminada em 6.000 livros, com mais de 200 páginas cada um, de versos e estrofes, poemas e sonetos, de milhares de artigos, contundentes ou elogiosos, insertos em jornais, de centenas de discursos soltos ao vento – temo –, Elias, que tudo tenha sido em vão.
Com o apagar das luzes da vida, com o sumiço inevitável da presença entre os amigos, parentes , concidadãos, a lembrança de nossa figura (à que damos tantos apreço) se apagará incontinenti. E passados poucos dias, talvez semanas, nada mais restará do que um esqueleto, rijo e branquiço cercado de tábuas em decomposição rapidíssima, quando não, como está se tornando usual hoje em dia, o “és pó e em pó te transformarás” poderá ser cinzas esvoaçantes, aguardando no eterno balouçar dos ventos, o juízo final.
A memória humana é safada. Os valores da alma e do corpo desaparecem dela como relâmpago que fende as nuvens. De tal sorte que tudo quanto entregamos ao mundo, como valor, como trabalho, como saber, como luta para endireitar o torto, o inadmissível, o errado, o condenável, tudo, tudo se apaga como se apaga o fusilar inconsciente e inconseqüente de um vagalume perdido nas trevas.
Se tivermos deixado algum exemplo, algum gesto bom, algum trabalho importante para os conterrâneos ou para os que os e nos sucederão, não nos iludamos, meu nobre companheiro imbuído do ideal de melhorar o mundo, nada restará daquilo que com tanto amor pretendemos deixar, porque a memória da minha, da sua, da nossa pessoas humana e de tudo quanto dela extraímos, numa tentativa de melhorar a vida – própria e alheia – se evaporarão, como neblina ao sol, como o dinheiro da bolsa do povo.
É o “depois”, Elias! É a obscuridade da morte. É o prêmio de quem quis ser bom, útil, generoso; o imediato esquecimento de sua bondade, utilidade, generosidade.
Mas valeu a pena!

domingo, 8 de julho de 2012

UM DOMINGO QUALQUER




ALGUMA CRÔNICA (XXXI)


                                                  Lino Vitti – do IHGP e da APL

São quatro horas, no relógio maluco do horário de verão, essa escrêcencia social que os ministros do país nos impingem a troco de uma hipotética economia de energia elétrica. É um domingo qualquer, um raro domingo em que sou forçado a ficar em casa, isto é, deixar de fazer o giro dominical aos bairros natalinos que os prováveis leitores sabem quais sejam sem necessidade de repetí-los aqui por escrito mais um vez. Culpado por essa minha falha em busca de alguma distração por capões de mato ou beiras de ribeirões, foi o dom da velhice,  isto é, as habituais dores por locais semoventes do corpo.

Explicada alguma coisa sobre o porque de minha retenção dentro dos muros domésticos, vou contar a vocês que no meu relógio de pulso não são quatro horas, mas apenas três, pois sou um dos que não se conformam com essa esdrúxula mudança no horário e nos hábitos humanos de uma grande parcela de brasileiros, a título de se economizar energia elétrica. Que desculpa esfarrapada a desses técnicos e ajudantes do governo, qual a de quererem nos convencer que mudando os ponteiros para frente está salva a nação brasileira, que por cinco meses sentirá, na alma e no corpo, os benefícios de uma energia elétrica que não se sabe onde fica acumulada pela brilhante “economia” apregoada pelos entendidos de energia, em finanças, em saúde, em horário biológico dos cidadãos, de modo especial se forem crianças ou idosos.

Mas, e o domingo, vai o leitor querer saber? O domingo, meu filho, lá fora, está em quitute cósmico. Fui espiar da janela superior, que dá para o ocidente. Que majestade azulada, meus leitores (poucos, mas bons)! De horizonte a horizonte, o céu era um Saara azul. Ou melhor uma cuia astronômica invertida pintada por Picasso com a cor azulina de seus pincéis. Como deserto azul, não havia um oásis qualquer de nuvens, modificando a mesmice celestial, onde um sol escaldante fazia misérias luminosas e caloríficas. Como obra pinturesca de um imenso pintor podia-se perceber que ele perdera o resto das bisnagas de tintas, sobrando apenas essa infinidade azulada, num desperdício de luz e cor.
Os ipês e suas frondes amigas vizinhas baloiçavam devagarinho ao impulso de uma aragem vinda de não sei que quadrante. Parecia-me estarem tomando banho de sol, mas de um sol causticante e limpo, jogado em ondas imensas pelo astro-rei, glorioso lá no pico do céu, descambando, vencedor da vida, para a serra de São Pedro, onde deve ter o seu jazigo para passar a noite.
Neste domingo, em que os males dolorosos da idade me escravizaram ao reduto familiar, pude ver o programa que é observado pelos familiares nesse dia especial da semana, enquanto eu me mando pelas terras santaneiras. Ou tiram uma soneca nas horas mais cálidas, ou grudam a atenção às telazinhas da tevê, em busca de filmes novos ( dificilmente encontrados), ou fogem das peripécias televisivas do Faustão ou do Gugu, donos delas nas tardes domingueiras,  em geral assistido porque não se tem outra opção, ao menos até o momento em que se abrem as cortinas dos aparelhos para mostrarem o futebol, nacional ou internacional, hora em que os marmanjos passam a querer ser os proprietários da tevê familiar.
É um domingo prosaico, sem dúvida. A maioria da população ou vai enfrentar a tragédia rodoviária rumo às praias, ou se encafua em piscinas de clubes, ranchos à beira-rio, atos religiosos, visitas há muito devidas.
Acredito, porém que ninguém, como o tolo poeta, ergue as fuças para o alto, a fim de ver como andam o céu, as nuvens, o tempo, as árvores, e algum estranho pássaro que elas acolhem. Prá que perder tempo com essas tolices se há cervejinhas geladas e pizzas deliciosas, chamando a gula daqueles que têm estômago de ferro e garganta de aço, duas coisas maravilhosas que também fazem parte do domingo?  

sexta-feira, 6 de julho de 2012

CADÊ O BURRO?


ALGUMA CRÔNICA (XXVIII)
                                                          

Lino Vitti – Membro do IHG e da APL

O burro! Ora, o burro!
Animal de puxar carroça, arado, trole, de montaria e outras atividades laboriosas para servir ao homem, o burro era bicho corriqueiro, presente em qualquer local urbano ou rural, ajaezado ou livre dos empecilhos de serviço, pastando gostosamente nos largos campos, ou preso a currais citadinos, à época plenamente permitidos, pois o asinino animal vivia para e com o homem, no dia-a-dia da vida.
Lá longe, no fundo da paisagem infantil, quando minha existência se desenrolava entre plantações, arvoredos, arapucas, pescarias, e, às vezes alguma labuta roceira, conheci muitos burros – animais, quero que entendam, e não homens – aproveitados pelos lavradores  dos meus bairros natais Santana e Santa Olímpia (cito os dois porque nasci em humilde casinha eqüidistante dos dois bairros, assim tenho a honra de me considerar filho de ambos) para os trabalhos da roça, como arar, cavar sulcos, para o plantio, transportar produtos agrícolas da lavoura até as tulhas, trocar milho com fubá no moinho mais próximo, carregar as compras feitas no armazém e tudo quanto exigia muque, paciência e obediência em matéria de serviços caseiros e roceiros.
O burro é (era) um bicho polivalente. Responsável por tudo quanto demandasse transporte, força, urgência. Via-o, naquela deliciosa infância, engatado nos varais das carroças, puxando o arado ou a grade, às vezes só, outras emparelhado com bestas do mesmo naipe, trazendo da mataria derribada e transformada em pilhas de madeira, os cadáveres do arvoredo extinto, rumo à carregadeira do trem, cujo ramal ia para São Pedro, via Costa Pinto, Charqueada, Recreio, Caiapiá, ou para o Porto João Alfredo, hoje Ártemis, passando por Corumbatai (Santa Teresinha atual) ou Santa Ilídia ou São Luiz. Era o burro, portanto, pau para toda obra e para qualquer hora do dia ou da noite.
À época, deveria o animal, tão manso e tão serviçal, e tão precioso, ser cobiçado pelos rapinantes. Não eram raros os casos em que o dono dos solertes asnos adormeciam com os seus valiosos burros pastando tranqüilamente no pasto e no dia seguinte, ao vir do sol, dar com o pasto vazio. De nada adiantava chamar pela Rola, pelo Mercante, pelo Valente, pela Ruana. Os larápios levaram-nos todos. Muitas vezes os espertalhões conheciam tao bem as alimárias que tinham a esperteza de separar os melhores, os mais jovens, os mais saudáveis. Lembro-me de que num desses latrocínios, sempre impunes e definitivos, os bandidos entre quatro animais pertencentes aos meus tios, levaram três mais novos em idade, deixando uma velha mula, cansada e idosa, e por cúmulo da senvergonhice, esfaqueada no ventre, de onde brotavam, tragicamente, as vísceras.
Fica aí alguma coisa sobre os burros, aqueles que pacientemente nos foram os mais famosos serviçais nos tempos em que não havia toda essa parafernália motorizada e moderna que dispensa perfeitamente a colaboração asinina. Deveriam os povos, em sua caminhada através da história, obrigar todas as comunidades roceiras a erigir um monumento em homenagem aos burros, como forma de mostrar nosso agradecimento a essas bestas tão humanas e trabalhadoras. Deveriam as sociedades esquecer um pouco de tantas homenagens e de tantos mausoléus espalhados por aí apara lembrar valores de si mesmo, de homem para homem. A não ser que se pretenda, sorrateiramente, homenagear tanta burrice que existe entre as bestas humanas!   

quinta-feira, 5 de julho de 2012

TEMPOS ELETRÔNICOS



ALGUMA CRÔNICA (XXVII)

                                                 Lino Vitti (Cronista Amador)

           Depois que um sábio, brincando de empinar papagaio, num dia em que o céu queria chover, foi surpreendido com o ziguezaguear de faíscas enigmáticas escorrendo espaço abaixo, o mundo enriqueceu-se com essa força cósmica que é energia, é luz, é mistério, é salvação, é morte.
Daquele momento em diante, a eletricidade, como ficou sendo chamado esse inédito fenômeno, não teve mais sossego. Desnudaram-na de ponta a cabeça, usaram e abusaram dessa riqueza invisível na origem, mas bem conhecida em seus efeitos, de tal sorte que a graça energética entrou definitivamente no trabalho universal, servindo docilmente ao homem e à humanidade, economizando-lhe o esforço físico empregado em todas as suas atividades, servindo de impulso para o enriquecimento de todos e de tudo, constituindo-se em conforto inalienável, podendo-se culpá-la pelo progresso do mundo e pelo bem-estar da espécie humana.
É em virtude dessa energia luminosa que prosperam em grande escala as invenções científicas, mecânicas, industriais, comerciais, médicas. Para onde quer que olhardes vereis a eletricidade dando seus ares de força inconteste, universal, generosa. Se não é o brilho que espanca as trevas, é a força que move motores, se não é a lâmpada que ilumina o barraco, é a luz que ilumina e guia o bisturi, se não é o foco que desvenda o caminho, é o calor que aquece o forno, se não é o sol dos refletores que desanca a noite para o gáudio de uma partida de futebol, é o luar que enche de fulgores o recesso de uma sala de aula ou as naves dos templos religiosos.
É ela, é a eletricidade que não se vê, mas que tanto faz, a energia que move a tevê com que você se diverte, a energia que cose o seu arroz e frita seu bife, o pingo do brilho que no seu quarto de dormir, ameniza a escuridão, afugentando fantasmas e pesadelos. A energia elétrica lava seus pratos e a tralha toda da cozinha; lava sua roupa, passa-a, refresca a sua sala, via ventiladores, quando o dia e noite viram fornalhas naturais. Aquece igualmente o ambiente em que você vive quando o inverno malcriado resolve empurrar a coluna de mercúrio para baixo em direção ao solo.
Este rascunho, daqui a pouco mais, receberá o pendão da energia elétrica, pois o neto Leonardo que não dormiu no ponto em relação a essa obra divina dos computadores, meterá estas linhas datilografadas no velho processo, dentro dessa maravilhosa eletrônica e em poucos minutos (eu levei mais de hora para dedilhar em teclado capenga e barulhento) botará todo esse espaço das espichadas linhas no pequenino espaço redondo de um disquete, ficando perpetuado na memória do aparelho, para sempre se assim se quiser, sem ocupar nada de espaço e material. Só luz, só brilho, só energia arquivada!
Sem dúvida a era é da eletricidade, e, consequentemente dos computadores. Casas comerciais, Bancos, Escritórios, Caixas, Jornais, Farmácias, Supermercados, Mercado de qualquer coisa, Igrejas de qualquer culto, Escolas de todos os graus, até voto para político, tudo, tudo, hoje está escravizado a esse senhor eletrônico chamado computador. É um cérebro alimentado pela eletricidade, movido por outro cérebro, tocado por vitaminas.
Ligo a telinha doméstica. E que vejo? A eletrônica trazendo até minha sala, o jogo de futebol, no mesmo momento jogado em Paris, em Londres, em Roma, em Washington, em Sidney, no Japão. Que medo, meu Deus! Será coisa do homem, ou coisa extra-terrena?
O que mais me assusta ainda é ficar imaginando, por poucos minutos que seja mesmo, o que vai ser deste (dizem que moribundo) planeta dentro de alguns anos à frente! Virá, por exemplo, a fecundação à distância? Marido aqui, esposa na Sibéria. Aperta-se um botão eletrônico (por que em matéria de eletricidade sempre se aperta um botão?) e pronto. Dentro de 9 meses a consorte lhe enviará via Internet um robusto garoto...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

AS CIGARRAS



ALGUMA CRÔNICA (XXIX)

                                                            Lino Vitti – Membro do IHG

Durante quase os dois meses inteiros de outubro e novembro as cigarras, vadias e cantarolas, aparecem por aí, onde haja capões de árvores, brindando aqueles que dispõem ainda de ouvidos em riste, com o seu enigmático chiar, sincopado e longo ao mesmo tempo. Sincopado, no início, có...có...có...có...có; longo em seguida: cóóóóóóóóóó... É música silvestre, sem a mínima observância d compassos, mínimas e seminimas, fusas ou semifusas. Há cigarras que se comprazem cantar ao sol, sozinhos.  Outras, reúnem-se em coro. Na cidade, ouvem-se aqui e ali, onde por acaso se haja permitido a formação de arvoredo. Na roça, ou no campo, elas, donas cigarras, se concentram em matas, pomares, capoeiras, onde os troncos e galhos lhes ofereçam palco propício para as suas tiradas musicais.
Há diversos tipos de cantos de cigarra. Só quem tenha sido aquinhoado com a felicidade de viver em sítios, chácaras e fazendas, pode perceber a diferença entre esses cantos, assunto decerto reservado à argúcia científica dos biólogos e tratadistas de insetos. Conheci, em meus dias de infância, o estranho canto de uma cigarrinha dos cafezais. Nhéc... nhéc... nhéc... nhéc... pareciam dizer aquelas centenas de insetozinhos de asas multicores, num palavrório musical que perdurava desde o crepúsculo do amanhecer, ao crepúsculo do entardecer, dando a impressão que os bichinhos sonoros trocavam diálogos entre si, cada qual querendo saudar, com mais ênfase, as luminosidades solares do verão, que é este tempo em que as cigarras se esbaldam em viver sua vidinha, como diz o Esopo em suas velhas fábulas, preguiçosa e boêmia.
Imaginem se seria possível a essas cantadeiras jubilosas, perderem tempo em ajuntar e armazenar alimentos, como o faz, segundo aquele fabuloso fabulista, a trabalhadeira formiga?! Cigarras não têm um tico de inteligência, como a tem o sr. homem, e a sra. formiga, para pensar em comida, quando é tão belo e tão divino, sob um sol maravilhoso, sonorizar, livre de preocupações quaisquer, a natureza, cumprimentar o sol  e o verde com a longa lenga-lenga do seu chiado irresponsável e feliz! Às favas, o trabalho, a preocupação, o querer armazenar para o amanhã duvidoso. Nada como viver e cantar às pampas, ignorando que existem governos, legisladores, bancos, praias, lucros, multas, estudos, emprego, etc. etc.! Ah! se o mundo fosse governado pelas cigarras e não pelas formigas, os governos, garanto que seriamos mais felizes, menos furiosos, haveria mais amor e menos guerras!
Eu sei, porque, menino da roça, convivi saborosos anos com essas malucas cantoras incivilizadas. E eu era feliz, sabem?! O mundo não se apresentava complicado como é hoje, no descambante decênio da vida! Os ouvidos, perrengues hoje em dia, estavam limpos, ouviam integralmente a música despreocupante das cigarras do meu rincão natal. Ainda agora, durante insônias tirânicas, solitário e infeliz pelo desaparecer da felicidade de outrora, como que percebo, vindo através da noite, aquele coral generoso de ventura que as cigarras caipiras do meu tempo espalhavam por tudo e para todos! Fico ouvindo, na ilusão da memória e da saudade, imaginárias cigarras cantadeiras povoando as distâncias negras da noite. Volto, em fantasia, para os dias idos, ou melhor, para as noites longínquas, e como que ouço aquele cacarejo inicial, seguido de um longo apito de locomotiva impossível, transfundindo-me estranhamente em alguém de dupla personalidade: uma, vivendo um presente saudoso; outra, vivendo um tempo extinto; uma e outra, musicalizadas pelo canto cigano das cigarras que todos os anos, ao passar dos mortos, vêm tornar mais triste as nossas recordações.
E para concluir, nada melhor do que uns quartetos e tercetos sonetísticos em homenagem à “CIGARRA - /Ao vir da tarde em brasa, à sombra da capoeira,/ fico, à vezes, a ouvir a estrídula mensagem/ do intérmino coral da cigarra chiadeira,/ como um grito de sol cantando entre a ramagem./ - Alma doida e feliz, sonhando a vida inteira!/ Tresloucada cigana em dourada roupagem,/ a tocar, a tocar, – fantástica linguagem –/ seu mágico violino em longa choradeira./ - Vate-compositor, feito sonoridade,/ efêmera visão tecida de saudade,/ sob um beijo de sol, bêbada de perfume!/ - Enquanto houver  um som, enquanto houver um galho,/ um raio que avivente, uma gota de orvalho,/ hás de cantar – cigarra – explodindo em queixumes.”

PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA

CURRICULUM VITAE
( Síntese de Vida)
NOME – Lino Vitti
IDADE – 08/02/1920
ESTADO CIVIL – Casado, em únicas núpcias, há 56 anos, com a Professora Dorayrthes Silber Schmidt Vitti
FILIAÇÃO – José e Angelina Vitti
NATURALIDADE – Piracicaba, Estado de São Paulo –Brasil
Bairro Santana , Distrito de Vila Rezende
VIDA FAMILIAR
Casamento Civil e Religioso em comunhão de bens, Pai de sete filhos: Ângela Antónia, Dorinha Miriam, Rosa Maria, Fabíola , Lina, Rita de Cássia, Eustáquio.
VIDA PROFISSIONAL
Aposentado como Diretor Administrativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, e como Redator do “Jornal de Piracicaba”. Exerceu atividades no comércio, no Magistério, na lavoura até os l3 anos, na municipalidade local, como bibliotecário, lançador de impostos, protocolista, Secretário Municipal.

VIDA CULTURAL
ESCOLA PRIMÁRIA –
Grupo Escolar “Dr. Samuel de Castro Neves”, Santana, seminarista vocacional ao sacerdócio por seis anos, no Colégio Santa Cruz, da cidade de Rio Claro (SP), onde cursou humanidades, línguas, religião, ciências, matemáticas, música.
CURSOS –
Formou-se Técnico em Contabilidade, lecionou latim, francês, datilografia.

VIDA RELIGIOSA
Católico, Apostólico, Romano, fez curso de religião em seminário dos Padres Estigmatinos, foi organista da Catedral e da Igreja de São Benedito, de Piracicaba, e Congregado Mariano.
VIDA LITERÁRIA
Bafejado por ensinamentos de sábios sacerdotes em colégio de formação religiosa, recebeu extraordinário acervo literário que lhe propiciou enveredar pelo caminho da poesia, da crônica, dos contos, do jornalismo, havendo editado de l959 a 200l sete livros de poesias e contos, com edições em milheiros de volumes, os quais estão aí para satisfazer o gosto daqueles que apreciam a arte literária.
São seus livros : “Abre-te, Sésamo”, l959; “Alma Desnuda”, l988; “A Piracicaba, Minha Terra”, l99l; “Sinfonia Poética”, de parceria com o poeta Frei Timóteo de Porangaba; “Plantando Contos, Colhendo Rimas”, l992; “Sonetos Mais Amados”, l996 e “Antes que as Estrelas brilhem”, 200l. O poeta conta ainda com o prazer de haver composto hinos para diversos municípios, bairros rurais, entidades sociais diversas, continuando a colaborar ainda, após os 83 anos em colunas literárias e com artigos de ordem geral em jornais da terra.
Faz parte da Academia Piracicabana de Letras que lhe outorgou o título honorífico de “PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA’.
Foi-lhe concedida Pelo Município de Piracicaba, através de sua Secretaria da Ação Cultural, a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL, “ Prof. OLÊNIO DE ARRUDA VEIGA’; é detentor do TROFÉU IMPRENSA, concedido pelo Lions Clube de Piracicaba, centro, e da MEDALHA ITALIANA, concedida pelo governo italiano de Benito Mussolini aos alunos de escolas e seminários de origem daquele país que tivessem se destacado em redação de trabalhos literários escritos na língua de Dante.
O Município de Saltinho, para o qual contribuiu com o Hino dessa comunidade municipal , conferiu-lhe o título de “Cidadão Saltinhense”.

DISCURSO

Por ocasião do lançamento do livro de poesias “Antes que as estrelas brilhem “, pelo poeta Lino Vitti foi proferido o seguinte discursos:

Exmo. Sr. Heitor Gauadenci Jr. dd Secretário da Ação Cultural

Exmo. sr. António Osvaldo Storel. dd. Presidente da Câmara de

Vereadores de Piracicaba

Exmo.sr. Moacyr Camponez do Brasil Sobrinho, dd. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico

Exmo,. sr. Henrique Cocenza, dd. Presidente da Academia Piracicabana de Letras

Exmo.. Sr. Ésio Pezzato , anfitrião desta solenidade

Senhoras e Senhores

Pela sétima vez (graças a Deus) em minha vida lítero-poética vejo-me guindado a uma tribuna improvisada (o que é bom porque torna o fato mais popular), para proferir um discurso de agradecimento, ao lado da oferta de um novo livro de versos. É teimosia essa de poetas em desovar sua produção para que mais gente participe de suas tiradas, muitas vezes fora de forma e de ambiente, mas que o poeta não vê porque , ao editar um novo livro está cego pela emoção , como se fosse a vez primeira. Está aí o Ésio Pezzato, responsável por mais esta minha invasão no mundo das letras poéticas, para dizer se não é assim. Para dizer se não sofre também dessa doença feliz de editar livros e mais livros a ponto de perder a conta, já que a esta altura ele não sabe se já está no décimo ou décimo primeiro. E ainda continua batendo dedos de métrica, sabemos lá por quantos anos ainda !

Tenho um ex-colega de seminário, prof. Hildebrando André, aposentado como professor universitário e com o qual mantenho longa e pródiga correspondência, que não se cansa de enaltecer a felicidade de Piracicaba contar com tantos poetas e poetisas. Tem razão ele, pois se apenas dois deles já conseguiram editar l8 livros de poesia, imagine-se as centenas que seriam necessárias para dar um pouco de vazão a essa raridade intelectual que toma conta da minha terra!

Este meu livro vem à lume por obra e arte do prefeito José Machado , seu Secretário da Ação Cultural e de seu zeloso servidor Ésio Pezzato que se entusiasmaram diante da recitação de diversos poemas meus por um grupo de jograis, alunos da UNIMEP, e impressionados decidiram patrocinar a publicação deste livro, pois entenderam que Piracicaba poética merecia conhecer em mais profundidade o seu príncipe da poesia. E aí está, lindo e impecável, entregue às mãos do povo de Piracicaba, que indistintamente de cor, estudos, intelectualização , posses financeiras, categoria de trabalho, com religião ou agnóstico, jovem ou adulto, roceiro ou citadino, aí está, para quiçá, momentos de lazer e sonho. Sonho , sim, porque a poesia é terrivelmente sonhativa , vive no mundo da fantasia, alicerça-se nas bases da emoção e brota do âmago mais profundo do poeta, e para que as filhas de Eva não reclamem, da poetisa também.

Alguém me perguntará? Como é ser poeta? Juro, nunca pensei nisso. Acho que ninguém consegue ser poeta. Já é. Nasce feito, como dizem.

não é verdade Maria Cecilia, Ivana Maria, Ésio Pezzato , Prata Gregolim, Marina Rolim, Valter Vitti, Mario Pires, Saconi, e tutti quanti enfeitam com seus lindos versos as páginas do “ Jornal de Piracicaba, ou da “Tribuna Piracicabana , e assim também esse cacho imenso de livros poéticos que quase semanalmente são dados ao conhecimento e sentimento público de nossa terra ? Tornando-se um privilégio de uma cidade, como disse alhures o supra citado meu colega seminarístico Hildebrando André. ?

Não se suponha que para ser poeta é preciso ter nascido em berço de ouro ou em centros intelectuais de enorme repercussão. Nada disso. Tenho um soneto que define bem esse fato. É assim: “Eu não sou o poeta dos salões / de ondeante, basta e negra cabeleira] não me hás de ver nos olhos alusões / de vigílias, de dor e de canseiras. // Não trago o pensamento em convulsões,/ de candentes imagens, a fogueira. / não sou o gênio que talvez supões/ e não levo acadêmica bandeira.// Distribuo os meus versos em moedas/ que pouco a pouco na tua alma hospedas / - raros , como as esmolas de quem passa. / Mas hei de me sentir feliz um dia/ quando vier alguém render-me graça/ por o fazer ricaço de poesia. // “ . Poetas e poetisas saem do nada , devem trazer o selo ou o bilhete de entrada nesse reino encantado desde o útero materno, embora ouse eu afirmar que a vida é também uma grande mestra , as influências da mentalidade circunvizinha,

o próprio meio ambiente, podem , em circunstâncias outras , plasmar um poeta .

Eu fui plasmado , por exemplo, por entre maravilhas campestres. A roça ou o campo são fantásticos criadores de poesia. Ela anda atapetando por todos os cantos a natureza, as gentes, os animais, os atos e fatos. e a cabeça daqueles com quem ela convive. E o poeta, criador por excelência, se abebera de todas as belezas esparsas pelas colinas, serras, vales e descampados , para transformar tudo em versos e rimas, ou em versos simplesmente, onde pululam , como cabritos silvestres, as figuras literárias, os tropos, as sínteses, as comparações, e todos os anseios que lhe vão no imo da alma. Para satisfação própria e para satisfação dos que convivem com o poeta. E´ por isso que se botardes olhos curiosos sobre meus poemas havereis de tropeçar a todo o momento com um motivo roceiro, pois trago uma alma plasmada pelas belezas rurais de Santana, Santa Olímpia , Fazenda Negri, e especialmente por aquela colina encimada ,no cocuruto, pelo prédio do grupo escolar, onde aprendi a ler e escrever e a poetar.

Peço desculpas por haver-me prolongado um pouco nestas elucubrações poéticas, desobedecendo aos conselhos do amigo Ésio que continua exigindo de mim discursos improvisados, o que seria tão para os ouvintes , que ansiosamente aguardam o momento de bater palmas acabando assim com a verborragia oratória.

Não posso entretanto encerrar esta breve alocução sem deixar consignados meus agradecimentos do fundo do coração ao prefeito José Machado ,ao seu Secretário da Ação Cultural Heitor Gaudenci Junior, ao seu sub-secretário poeta Ésio Pezzato, ao prefaciador Moacyr de Oliveira Camponez do Brasil sobrinho, aos queridos opinadores Maria Cecília Bonachella, Maria Ivana França de Negri, exímias poetisas, prof. Elias Salum e a minha filha Universitária Fabíola Vitti Moro, pela maravilhosa capa, Editores e toda equipe de funcionários , à minha esposa pela sugestão transmitida ao prefeito com relação ao advento desta obra, aos digitadores Nair , minha nora e neto Leonardo, e outros que possa ter esquecido, como é fácil em cachola idosa, - meus agradecimentos repito, pela reunião de esforços e trabalho que tornaram possível o advento de mais um livro de minha lavra.

Obrigado “ em geralmente” como dizem nossos cururueiros, aos que ilustraram com sua arte musical esta solenidade e assim também a todos quantos acharam um tempinho para vir prestigiar-me nesta tarefa de cultura e arte. Levem a certeza de que nada mais desejo do que engrandecer com minha poesia a terra que me viu nascer, a terra que me viu crescer, a terra que me proporcionou oportunidade para chegar a um cargo tão nobre quão dignificante de “Príncipe dos Poetas de Piracicaba”

Meu carinhoso obrigado também aos meios de comunicação, de modo especial “Jornal de Piracicaba”, na pessoa de seu Editor Chefe Joacyr Cury , de “A Tribuna Piracicabana”, na de seu diretor Evaldo Vicente, pela divulgação caprichosa deste evento que afinal nada mais é do que mais uma demonstração da exuberância cultural da Noiva da Colina.

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