Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos

Lino Vitti - Príncipe dos Poetas Piracicabanos
Lino Vitti- Príncipe dos Poetas Piracicabanos

O Príncipe e sua esposa, professora Dorayrthes S. S. Vitti

Casamento

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Bodas de Prata

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Lino Vitti e seus pais

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Lino Vitti e seus vários livros

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O Príncipe agradece a visita e os comentários

60 anos de Poesia


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Estranheza Científica

ESTRANHEZA CIENTÍFICA
Lino Vitti

Vem da terra das novidades – EUA – a notícia divulgada pelo o “Estado de São Paulo” em suas sempre compactas edições – 7-7-07 -, informando exaustivamente sobre matéria ecológica de interesse mundial, sob o significativo título : “sumiço de abelhas intriga cientistas”.
As abelhas aí referidas são aquelas conhecidas por muitos agricultores, pelos jardineiros e por todos nós, de vez que têm por hábito visitar as flores das lavouras, dos jardins e, agora também, aquelas garrafinhas de substâncias adocicadas que crianças e adultos costumam pendurar em qualquer canto do quintal ou até em janelas , para ver de perto os rapidíssimos beija-flores furtar, esvoaçantes, em poucos segundos o delicioso (para eles decerto) líquido colocado à sua disposição. São aquelas mesmas que de quando em quando costumam nos surpreender com doloridas picadas inesperadas se acaso passarmos descuidados nas imediações de sua colméia.
São elas protagonistas indiscutíveis na fabricação do mel, produto mundialmente usado e dosado, não só para a fabricação de quitutes dulcíferos, mas igualmente de remédios e bebidas.
Não são apenas essas as atribuições naturais das abelhas melíferas. As citadas aliás nem são as mais importantes. O que a elas cabe, como ordem natural e universal, é a valorosa e inarredável função de polinificar as flores, ou seja levar de uma a outra o “semem” floral, para que dessa junção, como ocorre entre os humanos e outros animais, resulte o nascimento do fruto, dos grãos que são alimento, das sementes que irão reproduzir novos espécimes, enfim as abelhas, de modo especial a que aqui nos referimos, são portadoras de vida vegetal para que ela se transforme em alimentos de que se valem o homem e com ele os animais, pássaros e outros viventes, para seu sustento vital. Não há que se negar pois a sua importância e necessidade.
Dito isto, como introdutório, os cientistas de todo o mundo, estão preocupados (intrigados diz a notícia) com a existência das bravas (e bravias às vezes) abelhas melíferas, pois observam que a sua presença em todas essas valiosos funções, está desaparecendo. E isso, evidentemente, poderá trazer uma série de conseqüências fatais para a vida humana, animal e vegetal da terra. É dedução lógica. Se as fabricantes do apreciado e muito aplicado mel é tão importante na vida universal, o sumiço de suas produtoras sofrerá conseqüências desastrosas fatais. O pior, entretanto, nisso tudo é que os homens do saber científico, não encontram, por ora, as implicações e explicações dessa dolorosa ocorrência e portanto torna-se enigmática sua solução, prevendo-se assim que o fenômeno continuará e se tornará cada vez mais grave.
Não sou cientista, mas gosto de observar o que acontece no mundo, curiosidade que ataca a qualquer concidadão, por ser o homem um ser especulador por excelência. Especulemos, então.
O desaparecimento de muitos insetos que nos afligiam(moscas, mosquitos, baratas, pernilongos) é uma realidade. Cada vez menos são vistos e encontrados nas residências ou imediações. Observa-se também que borboletas, besouros, grilos, aranhas, joaninhas e outros tipos de viventes semelhantes estão desaparecendo da zona rural. Efeito do que, pergunta-se?
A resposta é simples. Nesta última década a lavoura de todo o país tem sido visitada e atacada por muitos tipos de inseticidas, herbicidas, e outros “cidas”, para escorraçar e debelar as pragas de insetos que tinham nas plantações alimentíferas o seu habitat e onde encontravam o seu prato de vivência. Entre tais insetos moravam em conúbio natural as abelhas fabricantes do mel. Elas são insetos e como tais são trucidadas pelo efeito indisfarçável dos venenos aplicados na lavoura e na zona rural em grande escala e na zona urbana também, embora em menores proporções pelos moradores, mas aumentando cada vez mais a aplicação pelas administrações públicas executivas.
É claro que a indiscriminada, mas coordenada ao mesmo tempo, matança de insetos prejudiciais, acaba levando de roldão também os insetos úteis ao homem, como sejam as abelhas melíferas. E assim é possível que a fuga e a matança das abelhas tenha uma das explicações científicas que os peritos em saber ecológico estão procurando
Ou será bobagem de um pobre articulista roceiro, vindo dos cafundós de Santana de Piracicaba, onde já houve numerosas e produtivas colmeias, produzindo litros e mais litros do saboroso e importante mel, mas que hoje , decerto em virtude da intensa aplicação dos mortíferos inseticidas e herbicidas e agrotóxicos, não nais vê nem ouve o zumbido feliz e laborioso de uma abelha só?

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É DIA!

(Roça - quadro de Gustavo Salgado)

É DIA
Lino Vitti

Manhãs de outrora quando a infância alegre, ainda
me enfeitava o viver de ilusão e mistério.
Como era boa a luz, como era a vida linda,
tudo rindo da dor, sem qualquer despautério!

Devagarinho o sol em sua rota infinda
leiloava o calor de seu vivo cautério!
A beleza floral, de toda a parte vinda,
engalanava a mata em verde refrigério.

De longe, num murmúrio em cascateado vinha
o líquido rumor de una escondida fonte
em queixas ancestrais da solidão que tinha.

Um rumor de carroça atordoava a ponte,
enquanto o dia imenso, aos poucos, se avizinha
como um beijo de luz na face do horizonte

domingo, 29 de agosto de 2010

Amor Roceiro

AMOR ROCEIRO
Lino Vitti

Ele é primaveril, tem encantos de flores,
perfuma o coração da bela juventude.
Por onde quer que vás, por onde quer que fores,
encontrarás o amor em toda a plenitude.

Poderoso remédio, o amor diz-me saúde
e tem sempre o dulçor dos melhores licores,
Acompanha o noivado, acompanha o ataúde:
àquele só alegria: a este, apenas dores.

Ama-se na cidade, ama-se intensamente
num casebre da roça e pela vida inteira
como se fosse então uma parte da gente.

Mas se vires morrer de amor manhã fagueira
é ver toda a tristeza ao findar de um poente,
ver o ocaso do amor no olhar de uma roceira.

sábado, 28 de agosto de 2010

O Humanismo da Rua

O HUMANISMO DA RUA
Lino Vitti

Quando vês desfilar tantos rostos diversos
ao longo do passeio insólito da rua,
é o momento ideal para pensar em versos
e o que essa multidão significa e insinua.

São faces outonais de olhos sem luz, imersos
na decepção da dor que o tempo tumultua.
Retratos informais de estranhos universos
num caminhar sem fim que ama, trabalha e sua.

Ao norte, ao sul , ao centro e até rumo ao subúrbio,
é a rua o corredor desse humano distúrbio,
contínuo transitar em busca de esperanças.

É a vida que se move, é o mundo que transita,
é o desejo social que desfila e palpita,
é o mundo da velhice, o encanto das crianças.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Poeta e Poetisa


POETA E POETISA
Lino Vitti – Príncipe dos Poetas Piracicabanos

No mundo dos idiomas falados e escritos, há sempre uma distinção indeclinável nos vocábulos que os compõem, indicando o significado masculino e feminino como gêneros primordiais e inarredáveis. E os respectivos dicionários assinalam inapelavelmente para essa distinção, colocando claramente o gênero de cada termo. Isto é algo pétreo, ou seja, a ninguém é dado o poder e o direito de mudar o que é masculino para o feminino ou vice-versa. Ora, fazer ou tentar fazer a mudança de gênero nos termos onde este é imprescindível, tradicional, universal e consagrado, será praticar um atentado ao idioma pátrio, de qualquer país do mundo.
E, como poeta durante minha vida inteira, beirando a esta altura os 87 verões, bem vividos na arte poética, literária, jornalística e livreira , fico triste e ofendido, quando noto, vejo, leio e ouço, o mau vezo de muitos que pretendem desobedecer à norma universal dos gêneros masculino e feminino, trocando, ou melhor, querendo impor uma troca incompreensível do belo e já sacramentado termo “poeta”, fazendo-o representar tanto o homem como a mulher que verseja e se dedica à poesia. Assim, os inventores dessa inadmissível troca gramático-dicionarística, pretendem generalizar a impossível mudança de sexo, para um único vocábulo, querendo nos impor a idéia infeliz de que “poeta” tanto serve para aludir ao homem como à mulher, sabendo-se que existe no idioma português uma palavra para designar tanto um como outra quando detentores dessa qualidade maravilhosa que é a poesia.
E o que querem esses renovadores vocabulares? Nada mais, nada menos do que inserir num gênero único, aquele e aquela que poetizam, pespegando-lhes o substantivo masculino “poeta”. É um atentado, deduzo eu, às beldades poéticas femininas, um desrespeito à duplicidade sexual, pois em nosso doce e generoso idioma temos uma palavra linda, sonora, harmoniosa, para aplicar à mulher que rima e escreve poemas ou sonetos: POETISA.
Vejam que termo maravilhoso, bem feminino, suave, significativo, está reservado para designar nossas colegas dedicadas à poesia ! Por que procurar desnaturá-lo e substituí-lo pelo “poeta”, um tanto rude e áspero, que é propriedade exclusiva do poeta-homem?
Se fosse eu uma poetisa, teria vergonha de me ver chamado de “poeta”, ou vice-versa. Que coisa mais feia chamar uma colega, por exemplo, a Cecília Bonachella de “poeta”, usado só para homem, quando sei que ela é exímia, delicada e inimitável “poetisa”, de saia e cabelos longos.
Como “príncipe” desse reino encantado da poesia piracicabana, deixo aqui consignado meu desprazer por essa troca inconcebível e injustificável do vocábulo “poetisa” – feminino, com tanta beleza, como registra o dicionário pátrio, por “poeta”, masculino, singular, quando aplicado a uma respeitável dama que sabe dedilhar poemas e rimas. É um absurdo, concordam?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O valor da crônica

O VALOR DA CRÔNICA
Poeta Lino Vitti

Crônica – termo oriundo de cronologia – registro diário dos eventos e pessoas, é um texto escrito em poucas linhas de estilo elevado, conciso, nobre, podendo pender para a poesia ou num recheio de figuras literárias, capazes de chamar sobre si a atenção dos espíritos evoluídos e incontestavelmente inteligentes.
Aprecio sobremaneira a crônica e durante toda minha vida jornalística me empenhei em cultivá-la, com prazer e aperfeiçoamento. No valioso Jornal de Piracicaba, onde lidei anos e anos como redator, em certa época tive a meu cargo a edição da crônica chamada “Prato do Dia”, a que o diretor Losso Netto dedicava carinhos especiais. Deve ter agradado a muitos, pois recordo que dezenas de anos depois de haver sido extinta pela incompreensão de um editor que passou por aquele matutino, ao encontrar com leitores e assinantes me interrogavam: “ seu Vitti, por que tiraram fora o “Prato do Dia”? Ou então “quando vai voltar o “Prato do Dia”, de novo?”
O testemunho entretanto do valor inconteste da crônica e em especial do “Prato do Dia”, me veio às mãos lá pelos idos de 1983, de uma das mais altas autoridades nacionais da língua pátria, o eminente mestre de Português e Dicionarista famoso, prof. Napoleão Mendes de Almeida, responsável durante décadas de sua vida pela coluna ‘QUESTÕES VERNÁCULAS’ , célebre coluna de “O Estado de São Paulo” que, diariamente levava a professores, alunos, jornalistas e redatores, ensinamentos sobre o correto uso do idioma e solucionava quaisquer dúvidas que a respeito lhe fossem enviadas e solicitadas. Remexendo, como todo escritor, poeta, redator faz, em sua velha estante onde se amontoam desordenadamente livros, cadernos, papéis, arquivos, etc., encontrei a seguinte preciosidade, vinda daquele inimitável dicionarista brasileiro: “Caro professor Lino Vitti: Estou a cometer grave falha: é a conclusão a que chego ao folhear neste instante duas grossas pastas de correspondência, numa das quais dei com a sua gentileza de 5 de fevereiro de 1981 , dia em que no “Prato do Dia” anunciou de maneira mais amiga possível o lançamento deste meu “DICIONÁRIO DE QUESTÕES VERNÁCULAS”. Dois rápidos anos se passaram mas creio estar ainda em tempo para trazer-lhe o exemplar prometido.
Não me leve a mal o atraso do cumprimento da promessa então feita; estou quase três anos sem férias e passo meses inteiros sem fins-de-semana .
Com um abraço, meus votos de saúde ao distinto professor e bondoso amigo. São Paulo, 29-3- 83 – assim. Napoleão Mendes de Almeida”.
Não preciso acrescentar mais nada.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Surpreendente Homenagem


SURPREENDENTE HOMENAGEM
Lino Vitti

Não é sempre na vida que acontecem coisas boas e surpresas agradáveis. Quando menos esperamos, elas, de repente nos visitam, trazendo consigo um rol de sensações felizes e inéditas. É verdade que não conseguem superar os momentos de dificuldades e amarguras, mas reduzem-nas muito e as espantam para longe, pois é sempre bom, receber o que é bom mesmo. Ora, estará indagando o amigo leitor, acompanhante indefectível destas intermináveis crônicas, que teria acontecido de tão bom ao nosso escrevinhador, para assim nos atormentar com mais esta tirada literal ( muito pouco literária) ?
Surpresa, caros amigos, quando adornada de muita amizade e justeza , ela deixa pegadas inapagáveis em nossos dias de vida, consituindo-se num marco de alegria, florida de felicidade. Foi o que ficou daquele maravilhoso dia em que a família, Carlos Vitti, sua esposa Iria e suas diletas filhasVera e Yeda, clicaram a campainha da minha porta da rua e sobraçando estranho invólucro sigiloso, vieram até a solidão de meu “palácio” urbano, não para uma visita comum, mas uma visita especial, comemorativa, surpreendente.
Decerto os amigos que porventura corram olhos por estas linhas desejam saber o que continha o pacote e qual o motivo daquela inesperada visita do meu saudoso companheiro de caçadas e pescarias, no lombo de um saudoso Maverick que, de quando em quando, dava o danado trabalho de desatolá-lo dos lamaceiros formado nos caminhos de terra e carreadores de cana, nos pagos queridos de nossa infância, minha e dele, lá pelas bandas de Santana, Sta. Olímpia, Fazenda Negri e suas redondezas.
Caríssimos, se estais curiosos para saber, também eu e minha esposa dona Dora , estávamos ansiosos por saber do que se tratava e que mistério guardavam aquele embrulho de papel colorido e aquela inesperada visita da família amiga. Não alonguem mais essa justa curiosidade mútua. O papel florido escondia nada mais nada menos do que um magnífico e saboroso bolo e a visita... Ah! a visita, que poderia adivinhar, era para homenagear o ‘príncipe dos poetas piracicabanos”, eu mesmo Lino Vitti. Homenagear por que? Que teria feito eu para ser digno de uma homenagem surpreendente como aquela? Foi o que fiquei parafusando na, a essa altura, confusa cachola . Confusa porque era evidente que jamais pensaria eu ou havia pensado jamais em receber tão belo gesto de uma longa e saudosa amizade do primo Carlos e familiares.
E como é de direito abrir o segredo, vou escrevendo que a homenagem era pelo Dia dos Poetas, e ao “príncipe dos poetas piracicabanos”, honra que muitíssimo me exalta e me dignifica, partida de quem guarda em si uma alma de poeta, senão clássica como a minha, cheia entretanto da poesia dos caipiras nacionais, improvisada, rústica, mas sempre repleta das belezas e encantos da natureza e do coração humano. E tudo isso e para comprovar sua veia poética, Carlos deixou-me às mãos as seguintes estrofes, como presente pela tão grata a homenagem que com sua família acabava de me prestar:

I

As estrelas brilham nos céus,
Pirilampo brilha na terra,
A última estação do ano
É a chegada da Primavera.

II
A chegada da Primavera
Dá amor em nossa vidas.
As matas que são verdejantes
Ficam todas coloridas.

III

Quando Deus subiu aos céus
Foi num toque de trombetas
E esta á minha homenagem
Pelo Dia dos Poetas.

IV

Eu amo o querido Brasil
Por viver neste planeta
Aqui vão estes versinhos
Ao “príncipe dos poetas”.

V

Eu amo todas as flores
O cravo, a rosa e o jasmim
Por isso estão todas plantadas
No meu pequeno jardim.

VI

Quando eu lembro do passado
O meu coração quase pára.
Principalmente neste mês
Com o canto da cigarra.

VII

Os jovens de hoje em dia
Curtem ao som da guitarra
Nós porém de antigamente
Curtimos o canto da cigarra.

VIII

“No sertão de minha terra
Não posso nunca esquece
Como é linda a madrugada
Ver o dia amanhecer.”

IX

“Sabiá canta na mata,
Saracura no banhado,
Seriema na cascata,
Juriti lá no cerrado.”

(Nota: as duas últimas estrofes são da dupla imortal caipira Tonico e Tinoco por isso figuram entre aspas)
Parabéns pelo dia de hoje. São nossos votos: Carlos Vitti e família.”
Termina a saudação, mas ficam dentro de mim muita saudade e muita gratidão. Deus lhes pague caríssimos amigos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Os Invernos

OS INVERNOS
Lino Vitti

Não haveria necessidade gramatical de colocar eu no título desta talvez milionésima crônica, o artigo identificador do gênero e do número do substantivo. Bastaria dizer “inverno” ou “invernos”. Acontece que , velho escrevinhador ( para mais de 60 anos), sou muito cuidadoso na observância corrente das regras da linguagem, por isso procuro facilitar ao leitor a compreensão e a elegância do texto, para poder merecer dele o prazer da leitura . E nada mais grato a quem escreve do que ser lido, compreendido e louvado.
Não existem dois invernos. Desde que chegamos à idade da razão até o fim da jornada, sabemos que ele é um só, uma só estação climática do ano, quando as frialdades polares, inventam de deixar seus esconderijos do Sul ou do Norte, para vir judiar da humanidade que habita os trópicos. O frio é indesejável para a maioria das pessoas, pois costuma assaltar a saúde, disseminar doenças, mormente respiratórias, atenazar a vida de inúmeros lares pobres, onde faltam roupas, cobertores, sapatos, puloveres, luvas, capas, bonés, para contratacar as investidas desagradáveis do senhor Inverno. E os lábios infantis tremem, os lábios idosos tremelicam, as frestas se comprazem em deixar entrar ventos cortantes vindos do Sul que vão beijar as faces de quem resolveu permanecer dentro de casa, desencorajado de buscar a rua, o passeio, as visitas, os templos, as casas de diversão.
Na vida do campo, o frio é arrasador. O lavrador que não se dá ao uso de luvas sente as mãos laboriosas regeladas com dificuldades imensas para mover enxadas, foices, animais, carroças, tratores, as faces esbofetadas pelas agulhas do vento hibernal, os animais domésticos encorujam e se imobilizam, os pássaros com seus cânticos múltiplos desaparecem, as lavadeiras esquecem das tinas e dos varais, enquanto o rei sol fica espiando friorento por trás da neblina compacta.
Ora, indagará o leitor, como o cronista fala em invernos, se apenas um inverno existe? Bem, caríssimos amigos, que deitais talvez olhar curioso sobre estas linhas, explico-vos que o outro ou outros invernos de que tento falar nesta crônica, não são da natureza, não têm tempo certo para aparecer e atacar o ser humano, não são estação do ano. Eles, muitas vezes traiçoeiros, costumam envolver a alma das pessoas, costumam cobrir de neve e de frio o coração, têm por hábito se abater sobre os lares, deitar neve e nevascas sobre a sociedade, em qualquer etapa da vida. Trazem consigo muita tristeza, muito gelo, muitas doenças, muito desamor.
Quando virdes uma família, onde reina a discórdia, a discussão, o desentendimento, a disputa, tende certeza de que há um inverno doloroso passando por aquelas plagas, muito frio, terrivelmente embuçado em névoa, dolorosamente instalado dentro de um lar. O casal não se entende; os filhos não se amam; a religião desertou; o amor foi embora para longe e quiçá para sempre. E será que esse tristonho e cego inverno perdurará? Não decidirá jamais retornar ao calor do sol da razão, do amor, dos sentimentos nobres e divinos? Será um inferno, ou melhor, inverno, inextinguível? Sua principal vítima – O AMOR – voltará para acalorar aquela casa que um dia foi tão feliz, tão risonha, tão cristã?
Conheceis, acaso, o outro tipo de inverno, aquele que se instala de repente entre uma longa e maravilhosa amizade? E tudo o que era belo, tudo o que era feliz, tudo o que era sublimado, fica nu diante do inverno da inimizade que resolveu se interpor entre amigos, apagando aquela chama de calor humano que ardia entre corações generosos? Terrível esse inverno que estraçalha amizades, avalancha companheirismos, enterra sob montanhas de gelo uma amizade entre pessoas! Ou acha você , querido leitor, que esse não é inverno?
O pior entretanto de todos eles é o inverno que sobrepaira a todas as nações do mundo, encobrindo em montanhas frígidas como as geleiras dos pólos, o amor entre os seres humanos, o amor da sociedade, o amor do universo. Esse inverno vai de pólo a pólo, encobre as regiões tropicais e as zonas tórridas do mundo inteiro, esfria cruelmente os corações dos governantes, semeia a guerra, destrói a Paz. É o perpétuo inverno do desamor entre os povos, em contínuas guerras, lutas sociais, políticas, científicas, religiosas. Inverno doloroso que gela os sentimentos dos povos e petrifica os corações dos governantes. É um estranho e fatídico inverno que vive, sobrevive, ataca e vence, mesmo ao calor do fogo das batalhas, das discussões, das incompreensões, das injustiças, do esquecimento de Deus .
Concorda, agora leitor, um pouquinho comigo, de que há outros e piores invernos no mundo?!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Renúncia corajosa


RENÚNCIA CORAJOSA
Lino Vitti

Com que empáfia supões que o mundo, os homens todos
se curvem ante o orgulho estulto que acalentas;
que os amigos leais suportem teus apodos
e a palavra final é aquela que sustentas.

Sabes, concidadão, que as magoas vêm a rodos,
que as almas, em geral, do mal não são isentas.
E os passos de cada um podem tombar em lodos
ou detê-los o vir de ocorrências violentas?

Votar desprezo vil aos que vivem aos lados
é próprio da estultícia e do caráter ruim,
é sustentar um mal despótico e medonho.

E assim muitos de nós, em sonhos enganados,
poderão ver chegar a um doloroso fim
o orgulhoso poder de renunciar ao Sonho!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mais História, mais Poesia

MAIS HISTÓRIA, MAIS POESIA
Lino Vitti

Graças às mãos serviçais e a inamovível amizade do professor emérito Elias Salum, destacado mestre da UNIMEP, recebi os dois livros - Coisas do Coração, poesia e Fatos Históricos de Piracicaba – história – com que o historiador e poeta Paulo Dias Neme, piracicabano radicado em São Paulo, acaba de oferecer à cultura nacional.
Agradeço ao companheiro Elias o ensejo que me oferece de escrever algo sobre o autor didata estreante no mundo de lançamento de livros, pois é com prazer e com admiração que costumo receber o evento cultural que amiudadamente ocorre nesta terra a que, um insigne professor universitário da USP – Hidebrando André – me dizia sempre que os piracicabanos somos felizes por havermos atingido um alto grau de literatura - poesia e prosa - através de novos livros e novos autores que surgem e chegam para aumentar o acervo de lançamentos que por aqui ocorrem.
De início vou dizendo que o Paulo Dias Neme foi aluno de minha consorte Professora Dorayrthes, bebendo assim a sua cultura em fonte condigna e nobre, pois a mestra primou também na transmissão do ensino aos que tiveram a felicidade de serem seus discípulos, do que tenho conhecimento profundo pelos mais de 50 anos de convívio conjugal.
Realmente os livros do poeta e historiador, ora entregues aos piracicabanos e aos conterrâneos estaduais e nacionais, decerto constituem obra de realce poético e histórico dignos de figurarem em qualquer biblioteca ou estante dos que amam a arte poética e histórica e diria até no âmbito do ensino escolar, pois é valioso o conteúdo de um e de outro e a sua leitura será sem duvido um excelso acréscimo aos conhecimentos de quem quer que seja.
Paulo Neme nos mostra uma, diria, nova história de Piracicaba, acrescentando fatos, personagens, conceitos inéditos aos que já conhecemos, ditos pelos outros historiadores, o que certamente valoriza em muito o seu livro. Sua poesia é uma poesia elegante, alegre e que parece brincar com aqueles que tiverem oportunidade de botar olhos amigos sobre as páginas de Coisas do Coração. Observo o título dado ao livro, realmente significativo, pois lá no âmago de seus versos se esconde de fato um coração amigo, feliz, sonhador, encantado.
Rejubila-te, Piracicaba, por mais esse evento cultural. È mais um passo de beleza, arte e cultura que adentra os anais da tua poesia e da tua história, graças ao amor a ti dedicado
por mais esse legítimo poeta piracicabano.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Brinquedo


BRINQUEDOLino Vitti

Brinco de criar enigmas
com bonecas de sonho a chorar.
Faço do pranto um pião
que gira, regira estulto e inútil.
Encilho cavalos de fantasia
e galopo pelo espaço da esperança.
Para lá do céu, estão os astros,
para aquém, vivem as expectativas.
A vida é um enigma
indecifrável, incompreensível,
onde se arrastam todas as misérias
onde vicejam todos os lumes,
onde brincam todas as lágrimas.
É preciso viver, arrastando
todas as misérias, todos os lumes
onde brincam todas as lágrimas
na corrente que passa,
no rio que transborda,
no oceano sem praias.
Faço dos meus brinquedos,
pandorga alada tocando nuvens,
brinquedo dos tempos.
E a saudade vem sentar-se em meu colo.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Bandeira do Sonho e da Esperança

A Bandeira do Sonho e da Esperança
Lino Vitti

Vede a nave que vai. É a vida que navega,
às vezes calmaria, às vezes sol bonito.
Pelos mares boreais, agora nos carrega,
por oceano feliz, estival e bendito.

Esta nau é latina, esta outra é vela grega,
qual vem de Gibraltar, qual vem do velho Egito.
Hoje o Mediterrâneo em torno a si as congrega,
amanhã já não sei em que quadrante as fito.

E quem sabe, Senhor, o rumo dessas naves,
ora ao Norte, ora ao Sul, tempestades, bonanças,
furor de vendavais, quiçá rotas suaves!

O que vejo, porém, em toda nau que avança,
vencendo furacões, à voz de roucas aves,
é a bandeira do Sonho e o mastro da Esperança.

domingo, 15 de agosto de 2010

Fugas

F U G A S
Lino Vitti

Um a um vão fugindo, em louca debandada,
os ideais outonais que sempre acalentamos,
tal qual, ao vir do inverno, as folhas caem dos ramos
tangidas pelo horror de frígida nortada.

Nada mais, nada mais, soturnamente nada,
alenta as ilusões com que muito sonhamos.
A cada alvorecer, sem ânimo, acordamos
levando a cada ocaso uma alma já cansada.

Desvenda-se o horizonte em tênebras dolentes,
no qual o humano olhar a velhice divisa,
tudo ficando atrás em lembranças pungentes..

A tarde da existência é dorida e imprecisa:
tem o amargor do fel, palores inclementes,
mais fugaz e sutil que um perpassar de brisa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Agonia Vesperal

AGONIA VESPERAL
Lino Vitti

Estranho observador quantas vezes me ponho
a contemplar a tarde iluminada e grata!
Faço a meditação colorida de um sonho.
talvez um sonho bom que engrandece e arrebata.

Do mirante infinito a mim mesmo proponho
amar esse morrer, essa angústia que mata.
Bancar a estupidez de um poeta bisonho
para cantar então essa dor caricata.

Tomo a luz, beijo o céu, a natureza geme.
Quem canta doce assim no recesso cambiante?
Por que a folhagem toda está medrosa e treme?

Sublima-se o universo: o imenso, o excelso, o ovante,
veste o burel da noite, e reza baixo, e freme,
e assiste à extrema unção da tarde agonizante.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Viver-Morrer

VIVER – MORRER
Lino Vitti

Viver! Jornada breve e ás vezes dolorida,
caminho ora florido, ora todo calhaus.
Acaso alguém jamais teve na sua vida
o bem de não sofrer nunca momentos maus?

A graça de colher a fruta apetecida
e os pés não tropeçar por pedrouços e paus?
Onde a felicidade aclamada e querida,
onde o momento bom, sem dores e sem caos?

Morrer! Túnel sem fim, incógnita paragem,
silêncio e escuridão, duvidosa romagem,
um salto para a treva eterna do jamais!

Viver! Morrer! Despótico contraste!
Que somos senão flor pendendo em débil haste,
um punhado de pó na asa dos vendavais?!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Valor Jovem

VALOR JOVEM
Lino Vitti

És jovem. Coração pulsando claro e forte,
desejos e ideais palpitando em tua alma.
“O viver é lutar”, lutar até a morte,
o poeta cantou, quando em rimas se espalma.

Se a alegria de ser te leva para o esporte,
segue-a com todo o amor, com carinho, com calma.
Faze o bem, onde quer que o mundo siga e aporte,
ama sempre com fé, a sorrir vibra e salma.

Nos momentos, porém, em que a dificuldade
se erguer como barreira aos encantos da idade,
tentando semear-te incerteza e inquietude,

apanha a arma do Bem, assuma esse combate,
mostra ao mundo que o mal nunca te abate.
que é a vitória final de tua juventude.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Hoje o espaço é dela

HOJE O ESPAÇO É DELA
Lino Vitti

Como a esposa Dorayrthes vive há mais de 70 anos em companhia conjugal de um teimoso escritor de crônicas que fui, sou e acho que findarei assim, tinha , me diz a lógica filosófica, que ser tomada também pela gripe cronística. Assim é que, de quando em quando, ela aparece neste espaço jornalístico com seus apreciados escritos, não pesados e muitas vezes enrolados como os do marido, mas em estilo leve, agradável, maneiroso. Peço aos leitores (se os tiver mesmo) que acompanhem nas linhas seguintes o que nos conta ela sobre uma tragediazinha ocorrida no primeiro passeio além dos limites piracicabanos, de Aila, uma cachorrinha mimosamente criada pela família da filha Rosa e os netos Lucas e Raissa:

“QUE SUSTO, EIN!!!
Dorayrthes S.S. Vitti


Última semana de férias e a família resolve, unanimemente, viajar para a fazenda da vovó, lá no Mato Grosso. Era longe, muito longe mesmo, uma viagem de um dia inteiro.
Malas prontas e a alegria precedia as diversões do passeio: andar a cavalo, pescar no rio próximo, passear de trator, etc.. .
Na hora da saída tudo bem, mas surgiu um impasse: a Aila. O que fazer com ela? Fora criada entre mimos desde pequenina e não podia ficar só. Quem iria cuidar dela?
“Não fica gritam todos em coro!A Aila vai.
Esqueci de dizer que Aila era uma poodle, branquinha, carinhosa e amiga de todos. Vivia sempre enrolada no colo da dona, parecendo mais uma bola de algodão da que um cãozinho.
Quando vinha à casa do vovô procurava o pela casa toda, pois a danadinha sabia que ganharia um petisco.
Todos acomodados no carro partiram bem cedo, com a Aila no colo da dona.
Passaram 15 dias. Ao regressarem, pararam apenas alguns minutos para cumprimentar os avôs que notaram a falta de Aila
-E a cachorrinha,perguntaram?
A resposta veio vápida numa gritaria:
- Aila ficu...
- Como, indagaram os avôs?
A resposta veio chorando:
-Ela foi devotada por uma onça....
.................................................................................................................

Foi uma emoção muito grande e lágrimas desceram pelas faces dos avôs misturadas com a dos que chegavam.
Imaginem o desespero e a dor sofrida por todos. Coitada da Aila. Como foi isso acontecer?
Ela ficava dentro da casa. Vigiavam para que não saísse, pois um pitbull já fora atacado pela dita cuja ficando todo rasgado e sem uma orelha.
Maldita onça! A cachorrinha era tão pequena e peluda. O que uma onça poderia comer dela?
Aconteceu porque certo resolveram dar um passeio, deixando a Aila bem trancada na casa da a fazenda. Uma incauta empregada abriu a porta para entrar e Aila disparou porta a fora se embrenhando no matagal à procura dos donos. Ao chegarem estes do retorno, cadê a Aila? Fugiu...
Procura daqui, procura dali, por todos os lugares, revistando possíveis esconderijos até que num capão de mato encontraram rastos da cachorrinha e mais adiante as pegadas do felino assassino.
Choraram muito, mas não havia remédio.
Voltaram...
Os dias se vão e a tristeza vai desaparecendo ou melhor a tragédia ia sendo esquecida porque a realidade era esta.: o que foi não volta mais.
Cinco dias transcorreram. No sexto toca o telefone e a filha Raissa atende... Deu um grito: mamãe a Aila voltou... Não preciso dizer mais nada.
A imaginação é incrível. O filho, querendo enaltecer o seu pitbull, foi logo dizendo que este foi defender a Aila por isso saiu ferido pela onça. É o forte defendendo o forte...
Tirem vocês, caros leitores, sua conclusão... Mas que a felicidade voltou a reinar é uma evidência.

sábado, 7 de agosto de 2010

Pai Nosso...

PAI NOSSO...
Lino Vitti
(Príncipe dos Poetas Piracicabanos)

Pai do Céu, Pai da Terra! Pai divino!
Querido Pai da Terra, já premiado
Pelo Pai Celestial em seu destino,
Por caros doze filhos ter criado.

Pai do Céu, dai-me luzes, dai-me ensino,
Vós que sois Pai de todos aclamado.
Aquele me chamava o seu menino,
Sei também que de Vós sou filho amado.

Pai do Céu, Pai da Terra, maravilha,
Feliz felicidade deste mundo,
Um e outro guardai a minha trilha.

Guardai-me, Pai Humano e Pai Divino,
Livrai-me do demônio nauseabundo,
Sede Vós, Pais, meu último destino.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Que glória! Que Alegria!!!


QUE GLÓRIA! QUE ALEGRIA!
(À Tribuna, a Ivana, ao Ludovico)
Lino Vitti

Quinhentas edições! Que glória, que alegria!
A Tribuna sorri! Sorriem Ludo e Ivana.
Sorri este poeta. Há alguém mais que sorria?
Oh! sim, uma legião feliz e soberana!

A legião mais feliz, mais gloriosa e bacana
Do querido leitor que nos lê todo o dia,
Na certeza de que nenhum de nós o engana,
Nesta lida feliz em que um jornal porfia.

Obrigado, Senhor, por esta imensa graça,
De vencer o que é mau, o que é estulto ou trapaça,
De contar dia a dia, a vida da cidade.

E a cada lar dizer o que é bonito e nobre:
A cultura, a notícia, ao rico como ao pobre,
A história deste povo, a grandeza e a bondade!


Vão-se as folhas, vêm as flores


VÃO-SE AS FOLHAS, VÊM AS FLORES
Lino Vitti

Na calçada em frente à minha residência frondejam algumas árvores: três sibipirunas e dois ipês, altivas, verdejantes todas, mas que uma vez ao ano, duas delas mudam totalmente de aspecto, permanecendo as demais iguais ao de sempre, isto é, enfolhadas, verdes, servindo de morada aos barulhentos bem-te-vis que com seu canto estridente saúdam o amanhecer com toda a alegria que receberam do Criador.
Vamos escrever entretanto só dos ipês, os belos exemplares arbóreos, como todos sabem, ora exibindo uma copa verde e frondosa, outras, recobrindo-se de uma florada total que ocupa inteiramente os galhos e a própria árvore. Uma maravilha inigualável, intensa, generosamente colorida e espetacular que uma vez por ano se transmuda completamente, passando a desvertir-se da copa verde, para vestir a copa roxa, amarela, ou branca.
O espetáculo dessa mudança foliácea para floral acontece nos meses de junho e julho, no tempo de Inverno, e parece que o ipê se veste e desveste porque talvez o cobertor de flores seja um meio de enfrentar e vencer o frio da estação.
Da janela observo a transmutação. Os dias amanhecem frígidos e enevoados desmanchando a beleza do sol e do seu calor.O ipê então se vinga. Primeiramente resolve descartar-se da folhagem e vai jogando ao chão, uma a uma, durante dias e noites todas as folhas de sua umbela verde. Lembram lágrimas despencadas e tristes, mas não é isso não, porque o pranto verdolengo dura poucos dias a folhagem sabe que haverá uma ressurreição encantada e não demorará muito a árvore tristonha e desnuda iniciará vida nova, a vida da florada que chega trazendo as cores a enfeitarem com alegria os galhos esguios que pareciam secos e mortos.
A tristonha transmutação é passageira e dura poucos dias.E como por um mágica vegetal, o ipê, logo, logo, se abotoa de ponta a ponta de seus galhos desnudos, com o milagre das flores, intensamente coloridas, joviais, alegres. O espetáculo é pujante, generoso, altivo e inesquecível. È como se uma grande nuvem houvesse descido do céu para cobrir-lhe a galharia com os luzores do crepúsculo ou do amanhecer, roubando-lhes as luminosidades para dar de presente à árvore e alegrar a vista daqueles que passam ou a contemplam do quadrado de uma janela.
Passam-se dias em que o ipê atraiu os beija-flores e as mariquitas com o mel de sua florada trazida do céu. E principia a tristeza, principia o desencanto do espetáculo, porque aquela imensidade de flores se transforma em pranto e cada flor lembra uma lágrima a tombar das alturas para a indignidade do chão que parece não apreciar a beleza infinita de um ipê florido. Ano virá entretanto e tudo voltará da mesma forma, pois a beleza e a majestade do ipê florido não pode jamais desaparecer da visão humana, como obra divina que é e será para sempre.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A nobreza de um Jornalista

A NOBREZA DE UM JORNALISTA
Lino Vitti

Fui convidado pelos prezadíssimos redatores e editores deste querido e centenário matutino, a escrever algo sobre uma personalidade jornalística marcante na vida do Jornal de Piracicaba, por entenderem que aos 90 anos e pico, talvez único sobrevivente de uma época jubilosa do JP e contemporâneo daquele, talvez tivesse eu o que enaltecer e contar numa comemorativa edição. Faço-o dentro do possível permitido pela idade e com todo o prazer, pois falar de Losso Netto é sempre honra e alegria.
Digo de início que o homenageado tinha o maior respeito, o maior carinho, a maior amizade, a maior admiração, para com os seus funcionários, seus redatores, seus escritores, seus auxiliares, fazendo dos responsáveis pela edição de cada dia, uma família dedicada a entregar pela manhã ao povo piracicabano um jornal à altura por este merecida.
E Losso Netto era o homem que empunhava o timão diretivo da nave e a conduzia com a virtude da elegância de que era dotado, da virtude do saber que o adornava, da virtude da capacidade amiga e instrutiva que distribuía a todos quantos ao lado dele se empenhavam para oferecer-nos diariamente o melhor e mais completo jornal.
Editorial é, em sentido jornalístico, um trabalho(como os que vêm sendo reeditados) redigido pelo diretor e nele se insere o enfoque apreciativo, analítico e profundo dos mais importantes eventos da cidade, dos mais importantes assuntos que movem o mundo, dos mais graves problemas que enfrenta a humanidade, das maravilhas do progresso, dos eventos mais badalados, da cultura em expansão, dos acontecimentos das administrações públicas, das peripécias da política, dos avanços do conhecimento humano e de tudo quanto merece ser divulgado, analisado, combatido, louvado... Em tudo isso Losso Netto era exímio e o leitor respirava de satisfação ao chegar à última linha do editorial e ficava imaginando na rara inteligência que redigira aquela peça importantíssima de um jornal cotidiano.
Seria ousadia de minha parte continuar a destacar em linhas de continuação escrevendo sobre a figura de Losso Netto, pois estão aí leitores, intelectuais, artistas, jornalistas, amigos e colegas do generoso jornalista, para dizerem do imenso valor dessa personalidade incomum, de reais e avançadas idéias, de um incontido desejo de servir a quantos, ao vir das manhãs piracicabanas, empunham o Jornal de Piracicaba, e notam que o jornalista Losso Netto está presente com seu exemplo, com os seus ensinamentos, com o seu saber, com a sua palavra inimitável que só cabem num diário como esse que nos legou, que legou a Piracicaba, que legou a posteridade.
(Lino Vitti é redator aposentado do JP, Diretor aposentado do Poder Legislativo. Autor, príncipe dos poetas piracicabanos, Membro da APL e assíduo colaborador da imprensa piracicabana)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

AGOSTO

AGOSTO
Lino Vitti

Tenho dentro de mim um céu fumento,
Um céu de agosto, quente e sertanejo,
Sem um arquejo cálido de vento,
Alargando-se todo num bocejo ...

Num bocejo amplo e enorme de fornalha
Pelo ar lançando o fumo das queimadas
Que se alastram, chiando, pela palha
Ressequida e poeirenta das roçadas.

Minha alma é esse céu, sempre tristonho,
Coberto pelo fumo da amargura;
por onde mal se côa o sol de um sonho
E não perpassa a brisa da ventura.

São roças meus ideais, que as labaredas
Da ilusão pouco a pouco vão queimando,
Deixando para trás as cinzas quedas
Das saudades que sinto e vou levando...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Voz do Sertão

VOZ DO SERTÃO
Lino Vitti

Dentro da expansão rústica da mata
vem de longe, reboando em cada tronco,
fantástico, abissal, o rude ronco
da escondida e bravia catarata.

Mistério colossal, ela retrata
todo o esplendor do que é grandioso e bronco.
Para cantá-la em versos me destronco,
é a imensidão que ruge e que arrebata.

De colina em colina ora ecoando,
rolando em cada verde capoeira,
ora vale, ora ventos enfrentando,

se ouve à distância em orquestral zoeira,
carregado nas mãos do vento brando,
o rugido selvagem da cachoeira.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A nascente

A NASCENTE
Lino Vitti

A princípio uma gota que destila,
clara e terna, beijada pela sombra.
Vai tateando risonha pela alfombra,
nem um raio de sol no chão cintila.

Desperta pela encosta e vai tranqüila
mas em breve ela cresce e logo assombra,
dessedenta a paisagem, desassombra,
e repousa num lago junto à vila.

Amor – gotas que brotam no imo jovem,
dentro em pouco porém em penca chovem,
viram torrente dentro da alma humana.

Coração é nascente que borbulha,
em pouco é lago fundo em que se atulha
um oceano de amor que dele emana.

PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA

CURRICULUM VITAE
( Síntese de Vida)
NOME – Lino Vitti
IDADE – 08/02/1920
ESTADO CIVIL – Casado, em únicas núpcias, há 56 anos, com a Professora Dorayrthes Silber Schmidt Vitti
FILIAÇÃO – José e Angelina Vitti
NATURALIDADE – Piracicaba, Estado de São Paulo –Brasil
Bairro Santana , Distrito de Vila Rezende
VIDA FAMILIAR
Casamento Civil e Religioso em comunhão de bens, Pai de sete filhos: Ângela Antónia, Dorinha Miriam, Rosa Maria, Fabíola , Lina, Rita de Cássia, Eustáquio.
VIDA PROFISSIONAL
Aposentado como Diretor Administrativo da Câmara de Vereadores de Piracicaba, e como Redator do “Jornal de Piracicaba”. Exerceu atividades no comércio, no Magistério, na lavoura até os l3 anos, na municipalidade local, como bibliotecário, lançador de impostos, protocolista, Secretário Municipal.

VIDA CULTURAL
ESCOLA PRIMÁRIA –
Grupo Escolar “Dr. Samuel de Castro Neves”, Santana, seminarista vocacional ao sacerdócio por seis anos, no Colégio Santa Cruz, da cidade de Rio Claro (SP), onde cursou humanidades, línguas, religião, ciências, matemáticas, música.
CURSOS –
Formou-se Técnico em Contabilidade, lecionou latim, francês, datilografia.

VIDA RELIGIOSA
Católico, Apostólico, Romano, fez curso de religião em seminário dos Padres Estigmatinos, foi organista da Catedral e da Igreja de São Benedito, de Piracicaba, e Congregado Mariano.
VIDA LITERÁRIA
Bafejado por ensinamentos de sábios sacerdotes em colégio de formação religiosa, recebeu extraordinário acervo literário que lhe propiciou enveredar pelo caminho da poesia, da crônica, dos contos, do jornalismo, havendo editado de l959 a 200l sete livros de poesias e contos, com edições em milheiros de volumes, os quais estão aí para satisfazer o gosto daqueles que apreciam a arte literária.
São seus livros : “Abre-te, Sésamo”, l959; “Alma Desnuda”, l988; “A Piracicaba, Minha Terra”, l99l; “Sinfonia Poética”, de parceria com o poeta Frei Timóteo de Porangaba; “Plantando Contos, Colhendo Rimas”, l992; “Sonetos Mais Amados”, l996 e “Antes que as Estrelas brilhem”, 200l. O poeta conta ainda com o prazer de haver composto hinos para diversos municípios, bairros rurais, entidades sociais diversas, continuando a colaborar ainda, após os 83 anos em colunas literárias e com artigos de ordem geral em jornais da terra.
Faz parte da Academia Piracicabana de Letras que lhe outorgou o título honorífico de “PRÍNCIPE DOS POETAS DE PIRACICABA’.
Foi-lhe concedida Pelo Município de Piracicaba, através de sua Secretaria da Ação Cultural, a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL, “ Prof. OLÊNIO DE ARRUDA VEIGA’; é detentor do TROFÉU IMPRENSA, concedido pelo Lions Clube de Piracicaba, centro, e da MEDALHA ITALIANA, concedida pelo governo italiano de Benito Mussolini aos alunos de escolas e seminários de origem daquele país que tivessem se destacado em redação de trabalhos literários escritos na língua de Dante.
O Município de Saltinho, para o qual contribuiu com o Hino dessa comunidade municipal , conferiu-lhe o título de “Cidadão Saltinhense”.

DISCURSO

Por ocasião do lançamento do livro de poesias “Antes que as estrelas brilhem “, pelo poeta Lino Vitti foi proferido o seguinte discursos:

Exmo. Sr. Heitor Gauadenci Jr. dd Secretário da Ação Cultural

Exmo. sr. António Osvaldo Storel. dd. Presidente da Câmara de

Vereadores de Piracicaba

Exmo.sr. Moacyr Camponez do Brasil Sobrinho, dd. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico

Exmo,. sr. Henrique Cocenza, dd. Presidente da Academia Piracicabana de Letras

Exmo.. Sr. Ésio Pezzato , anfitrião desta solenidade

Senhoras e Senhores

Pela sétima vez (graças a Deus) em minha vida lítero-poética vejo-me guindado a uma tribuna improvisada (o que é bom porque torna o fato mais popular), para proferir um discurso de agradecimento, ao lado da oferta de um novo livro de versos. É teimosia essa de poetas em desovar sua produção para que mais gente participe de suas tiradas, muitas vezes fora de forma e de ambiente, mas que o poeta não vê porque , ao editar um novo livro está cego pela emoção , como se fosse a vez primeira. Está aí o Ésio Pezzato, responsável por mais esta minha invasão no mundo das letras poéticas, para dizer se não é assim. Para dizer se não sofre também dessa doença feliz de editar livros e mais livros a ponto de perder a conta, já que a esta altura ele não sabe se já está no décimo ou décimo primeiro. E ainda continua batendo dedos de métrica, sabemos lá por quantos anos ainda !

Tenho um ex-colega de seminário, prof. Hildebrando André, aposentado como professor universitário e com o qual mantenho longa e pródiga correspondência, que não se cansa de enaltecer a felicidade de Piracicaba contar com tantos poetas e poetisas. Tem razão ele, pois se apenas dois deles já conseguiram editar l8 livros de poesia, imagine-se as centenas que seriam necessárias para dar um pouco de vazão a essa raridade intelectual que toma conta da minha terra!

Este meu livro vem à lume por obra e arte do prefeito José Machado , seu Secretário da Ação Cultural e de seu zeloso servidor Ésio Pezzato que se entusiasmaram diante da recitação de diversos poemas meus por um grupo de jograis, alunos da UNIMEP, e impressionados decidiram patrocinar a publicação deste livro, pois entenderam que Piracicaba poética merecia conhecer em mais profundidade o seu príncipe da poesia. E aí está, lindo e impecável, entregue às mãos do povo de Piracicaba, que indistintamente de cor, estudos, intelectualização , posses financeiras, categoria de trabalho, com religião ou agnóstico, jovem ou adulto, roceiro ou citadino, aí está, para quiçá, momentos de lazer e sonho. Sonho , sim, porque a poesia é terrivelmente sonhativa , vive no mundo da fantasia, alicerça-se nas bases da emoção e brota do âmago mais profundo do poeta, e para que as filhas de Eva não reclamem, da poetisa também.

Alguém me perguntará? Como é ser poeta? Juro, nunca pensei nisso. Acho que ninguém consegue ser poeta. Já é. Nasce feito, como dizem.

não é verdade Maria Cecilia, Ivana Maria, Ésio Pezzato , Prata Gregolim, Marina Rolim, Valter Vitti, Mario Pires, Saconi, e tutti quanti enfeitam com seus lindos versos as páginas do “ Jornal de Piracicaba, ou da “Tribuna Piracicabana , e assim também esse cacho imenso de livros poéticos que quase semanalmente são dados ao conhecimento e sentimento público de nossa terra ? Tornando-se um privilégio de uma cidade, como disse alhures o supra citado meu colega seminarístico Hildebrando André. ?

Não se suponha que para ser poeta é preciso ter nascido em berço de ouro ou em centros intelectuais de enorme repercussão. Nada disso. Tenho um soneto que define bem esse fato. É assim: “Eu não sou o poeta dos salões / de ondeante, basta e negra cabeleira] não me hás de ver nos olhos alusões / de vigílias, de dor e de canseiras. // Não trago o pensamento em convulsões,/ de candentes imagens, a fogueira. / não sou o gênio que talvez supões/ e não levo acadêmica bandeira.// Distribuo os meus versos em moedas/ que pouco a pouco na tua alma hospedas / - raros , como as esmolas de quem passa. / Mas hei de me sentir feliz um dia/ quando vier alguém render-me graça/ por o fazer ricaço de poesia. // “ . Poetas e poetisas saem do nada , devem trazer o selo ou o bilhete de entrada nesse reino encantado desde o útero materno, embora ouse eu afirmar que a vida é também uma grande mestra , as influências da mentalidade circunvizinha,

o próprio meio ambiente, podem , em circunstâncias outras , plasmar um poeta .

Eu fui plasmado , por exemplo, por entre maravilhas campestres. A roça ou o campo são fantásticos criadores de poesia. Ela anda atapetando por todos os cantos a natureza, as gentes, os animais, os atos e fatos. e a cabeça daqueles com quem ela convive. E o poeta, criador por excelência, se abebera de todas as belezas esparsas pelas colinas, serras, vales e descampados , para transformar tudo em versos e rimas, ou em versos simplesmente, onde pululam , como cabritos silvestres, as figuras literárias, os tropos, as sínteses, as comparações, e todos os anseios que lhe vão no imo da alma. Para satisfação própria e para satisfação dos que convivem com o poeta. E´ por isso que se botardes olhos curiosos sobre meus poemas havereis de tropeçar a todo o momento com um motivo roceiro, pois trago uma alma plasmada pelas belezas rurais de Santana, Santa Olímpia , Fazenda Negri, e especialmente por aquela colina encimada ,no cocuruto, pelo prédio do grupo escolar, onde aprendi a ler e escrever e a poetar.

Peço desculpas por haver-me prolongado um pouco nestas elucubrações poéticas, desobedecendo aos conselhos do amigo Ésio que continua exigindo de mim discursos improvisados, o que seria tão para os ouvintes , que ansiosamente aguardam o momento de bater palmas acabando assim com a verborragia oratória.

Não posso entretanto encerrar esta breve alocução sem deixar consignados meus agradecimentos do fundo do coração ao prefeito José Machado ,ao seu Secretário da Ação Cultural Heitor Gaudenci Junior, ao seu sub-secretário poeta Ésio Pezzato, ao prefaciador Moacyr de Oliveira Camponez do Brasil sobrinho, aos queridos opinadores Maria Cecília Bonachella, Maria Ivana França de Negri, exímias poetisas, prof. Elias Salum e a minha filha Universitária Fabíola Vitti Moro, pela maravilhosa capa, Editores e toda equipe de funcionários , à minha esposa pela sugestão transmitida ao prefeito com relação ao advento desta obra, aos digitadores Nair , minha nora e neto Leonardo, e outros que possa ter esquecido, como é fácil em cachola idosa, - meus agradecimentos repito, pela reunião de esforços e trabalho que tornaram possível o advento de mais um livro de minha lavra.

Obrigado “ em geralmente” como dizem nossos cururueiros, aos que ilustraram com sua arte musical esta solenidade e assim também a todos quantos acharam um tempinho para vir prestigiar-me nesta tarefa de cultura e arte. Levem a certeza de que nada mais desejo do que engrandecer com minha poesia a terra que me viu nascer, a terra que me viu crescer, a terra que me proporcionou oportunidade para chegar a um cargo tão nobre quão dignificante de “Príncipe dos Poetas de Piracicaba”

Meu carinhoso obrigado também aos meios de comunicação, de modo especial “Jornal de Piracicaba”, na pessoa de seu Editor Chefe Joacyr Cury , de “A Tribuna Piracicabana”, na de seu diretor Evaldo Vicente, pela divulgação caprichosa deste evento que afinal nada mais é do que mais uma demonstração da exuberância cultural da Noiva da Colina.

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